Para Moraes, autorregulação das plataformas digitais esbarra em ‘hipocrisia’

Ministro do STF citou informações que já obteve com empresas sobre viabilidade de medidas mais efetivas contra discurso de ódio nunca foram executadas para não afetar o lucro obtido por elas com temas polêmicos nas redes sociais.
Para Moraes, autorregulação das plataformas digitais esbarra em 'hipocrisia'
Alexandre de Moraes compartilhouq ue tem se reunido com representantes de plataformas digitais nos últimos meses (Foto: Nelson Jr./STF)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, lançou críticas às plataformas digitais nesta quinta-feira, 23. Durante debate sobre a falta de cumprimento de determinações judiciais por parte das empresas, o magistrado compartilhou informações obtidas diretamente com os provedores sobre estratégias contra crimes cibernéticos e apontou que elas poderiam atuar de forma mais efetiva, se não fosse a “hipocrisia”.

Moraes conta que tem se reunido com representantes das plataformas nos últimos meses e questionou como funciona o monitoramento dos crimes.

Quanto aos conteúdos de pedofilia, por exemplo, as empresas detalharam que utilizam inteligência artificial  e conseguem eliminar 92% das milhares de tentativas de postagens diárias. Outros 8% geram alarme para monitoramento manual, feito por uma equipe especializada.

“E aí eu perguntei se não é possível fazer a mesma coisa, inteligência artificial e uma equipe, para discursos nazistas, racistas, antidemocráticos? Eles disseram: ‘fácil’. Falei: ‘então, porque não se faz?’ E a resposta é: se todos fizerem é possível”.

“Veja aonde chega, infelizmente, a hipocrisia: se todos fizerem, é possível. Se só um fizer, o que fizer, acaba perdendo muito dinheiro, porque o que dá mais curtidas, mais engajamento e mais monetização são esses assuntos polêmicos”, disse Alexandre de Moraes.

Autorregulação

Ainda durante o debate, o ministro afirmou que, considerando seus recentes encontros com as prestadoras, “as grandes empresas de tecnologia, as big techs, parece que já entenderam a necessidade, elas mesmas, de sentarem à mesa com as autoridades para praticarem um tipo de autorregulação e cooperação entre elas e cooperação com as autoridades judiciárias”.

O ministro sinalizou que o avanço no debate ocorreu principalmente após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro deste ano, em Brasília.

Por omissão, elas acabaram colaborando com os atos, não teria sido possível a organização desses atos se tivéssemos um filtro mínimo, teriam não só avisado as autoridades competentes, como teriam também cessado essa propagação. Então, elas perceberam que chegou a hora é de uma regulamentação e sempre é melhor uma autorregulação do que é uma regulação de cima para baixo”, afirmou.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura dos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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