Moraes: ‘não é mais possível que big techs sejam consideradas empresas de tecnologia’

Em debate, ministro reforça posicionamento pela equiparação de deveres entre plataformas digitais e emissoras de divulgação de informações e publicidade. Magistrado vai enviar propostas ao relator do tema no Congresso Nacional.

Ministro Alexandre de Moraes (Crédito: Nelson Jr/STF)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, defendeu nesta segunda-feira, 13, a mudança formal da natureza de big techs como Google, Meta e Twitter. Ele falou sobre o tema durante debate promovido pela Fundação Getúlio Vargas e a Rede Globo no Rio de Janeiro.

“Não é mais possível que as big techs sejam consideradas, juridicamente, empresas de tecnologia. Elas, no mínimo, são empresas mistas: de imprensa, comunicação, ou se não quisermos comunicação, de publicidade”, disse Moraes.

Este é um dos pontos que o magistrado afirma que tem exposto em diálogo com o Legislativo, que analisa a moderação de conteúdo nas plataformas digitais no Projeto de Lei (PL) 2630/2020. O ministro pretende encaminhar recomendações ao texto, assim como o governo federal também se prepara para opinar.

Autorregulação

Moraes reforçou o posicionamento que manifestou durante debate no STF no último mês, durante julgamento sobre compartilhamento de dados para fins de investigação. Para ele, a principal recomendação ao poder público é aproveitar os mecanismos que as plataformas já possuem para barrar crimes como o de pedofilia.

“Eu proponho, primeiramente, uma autorregulação […] Nós precisamos pegar esse modelo que eles próprios já construíram e aperfeiçoar voltado para defesa da democracia, pro fim do discurso de ódio. Um aperfeiçoamento apostando também na autorregulação. Se não, nós vamos enxugar gelo”, afirmou Moraes.

De acordo com o magistrado, o papel do poder público é “auxiliar exatamente em quais os requisitos para a autorregulação e qual a responsabilização”.

“Insisto: a partir do momento em que houve algum apoio [da plataforma digital] – algoritmos, impulsionamento ou monetização – não se pode mais falar de neutralidade”, disse Moraes.

No mesmo sentido, o ministro Gilmar Mendes também recomendou que o debate não esteja concentrado no conteúdo, mas no mecanismo utilizado pelas big techs. “A opção de focar mais no processo e menos na substância do conteúdo que vem sendo desenhada nas legislações estrangeiras, especialmente a europeia, parece ser um caminho importante”, afirmou o ministro.

O debate também contou com a presença do deputado Arthur Lira (PP-AL),  presidente da Câmara, onde o PL sobre plataformas digitais aguarda votação. O parlamentar defendeu “equilíbrio” para regular sem violar os direitos de liberdade de expressão. “Reitero o compromisso da Câmara de seguir trabalhando diariamente para encontrarmos uma solução pacificadora para esses temas tão urgentes e caros para nossa sociedade”.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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