Radiodifusão quer distribuição prolongada das parabólicas digitais

Para Abert e Abratel, 90 dias para distribuição dos kits de parabólicas digitais entre beneficiários do CadÚnico é pouco e precisa ser revisto. Conselheiro da Anatel diz que isso depende do orçamento do projeto.

O setor de radiodifusão defendeu hoje, 23, a prorrogação do prazo de distribuição das parabólicas digitais a usuários de TVRO (TV aberta transmitida por satélite) inscritos no Cadastro Único do governo federal.

No entender dos canais de TV, os 90 dias atualmente praticados pela Siga Antenado são poucos para lidar com uma demanda que, afirmaram, tende a ser tardia e se manifestar conforme o 5G se torne mais popular e interfira de fato no sinal das parabólicas comuns.

O problema foi apresentado por Samir Nobre, da Abratel, e Luiz Abrahão, da Abert, durante o evento SET Expo 2022, que acontece em São Paulo até quinta-feira, 25. As associações, juntas, representam canais Globo, SBT, Band, Record, entre outras.

Segundo ambos os executivos, a experiência da distribuição de kits de TV digital terrestre nos últimos anos mostra que muitos usuários deixam para a última hora ou perdem os prazos. Afirmaram, ainda, que a ativação do 5G na faixa de 3,5 GHz nas capitais é uma etapa inicial e de aprendizado, e que por isso o cronograma deve ser flexibilizado.

“A partir do momento da massificação do 5G, a população do CadÚnico vai procurar a EAF.
Realmente não podemos colocar esse prazo como inscrito em pedra. Estamos em processo de maturação do processo, ainda procurando entender o tempo de massificação das campanhas”, falou Nobre, da Abratel.

A distribuição e instalação de kits de parabólicas digitais é uma atribuição da Siga Antenado (EAF). A entidade foi criada pelas operadoras Claro, TIM e Vivo, compradoras da faixa de 3,5 GHz, para executar as contrapartidas existentes no edital do 5G. Ficou definido pelo Gaispi, grupo da Anatel que supervisiona o trabalho da EAF, que os usuários do CadÚnico teriam 90 dias a partir da ativação do 5G em sua cidade para solicitar a parabólica digital, única capaz de sintonizar os canais que passaram a ser transmitido em uma nova frequência, a chamada Banda Ku.

Segundo o presidente da Anatel, Moisés Moreira, o prazo não está determinado em edital e pode ser revisto, desde que não impacte os custos do projeto.

“O edital não determina o prazo. Enquanto a EAF existir, ela pode ajudar, desde que isso não gere custos que possam extrapolar os recursos do programa. Mas acredito que não vai intensificar muito mais o número de pedidos, porque já temos antenas nas periferias e ninguém reclamou de interferências”, afirmou Moreira, também presente ao evento, ao Tele.Síntese.

Leandro Guerra, CEO da Siga Antenado, explicou que as campanhas convocando os usuários a solicitarem os kits, começa 30 dias antes da ativação do 5G, e a instalação de fato começa no dia em que as operadoras ativam o serviço móvel de nova geração. Ao todo, portanto, a comunicação com a população se dá ao longo de 120 dias.

Baixa demanda

A preocupação dos radiodifusores tem sido com a baixa demanda. A previsão inicial era de que seria preciso distribuir 10,5 milhões de kits de parabólicas digitais no Brasil. Desse total, 257 mil nas capitais. O se vê, no entanto, é um número muito inferior ao esperado.

Atualmente, com o 5G funcionando em 12 cidades, apenas 714 beneficiários do CadÚnico foram contemplados com a instalação. Houve ainda 1.565 visitas dos técnicos para usuários que foram improdutivas – a pessoa não estava em casa, não foi possível concluir o trabalho ou não havia condições técnicas no local para realizá-lo.

Segundo Moreira, dois fatores podem explicar porque nas capitais poucos beneficiários pediram os kits: “Pode ser devido à pirataria, muito estão usando as IPTV Box, o que é muito ruim. Ou, a TV Digital terrestre chegou a mais lugares desde o cálculo inicial”, falou.

Guerra, da EAF, reafirmou o que disse em live realizada pelo Tele.Síntese na semana passada, de que as capitais têm representatividade baixa entre os consumidores de TVRO, e que vê aceleração da demanda quando o sinal do 5G em 3,5 GHz chegar ao interior do país.

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Rafael Bucco

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