Cresce número de países onde há prática de desinformação política por meio digital

O estudo do Oxford Internet Institute indica que a utilização de tropas cibernéticas para espalhar desinformação tem se profissionalizado, inclusive no Brasil

Um estudo realizado pelo Internet Institute da Universidade de Oxford concluiu que a manipulação de campanhas políticas nas redes sociais continua se alastrando pelo mundo. De 70 países que foram afetados em 2019, saltou-se para 81 em 2020. Dentre esses países, está o Brasil. Isso indica a crescente ameaça da desinformação nas mídias sociais às democracias ao redor do mundo.

O relatório apontou para três tendências que envolvem propagandas nos meios digitais. Além do aumento da utilização de tropas cibernéticas como forma de espalhar desinformação e propaganda, esses movimentos têm se profissionalizado e, inclusive, sido procurados por agentes públicos.

Em 48 países, agentes de Estado contrataram empresas privadas para realizar campanhas manipulativas. Essas empresas acumularam receitas de US$ 60 milhões desde 2009. O Facebook relatou que já foram gastos US$ 10 milhões em propaganda política por tropas cibernéticas ao redor do mundo em sua plataforma. A desinformação passou a ser produzida em escala industrial por governos, empresas de relações públicas e partidos políticos.

Brasil

No Brasil, a pesquisa identificou três propagadores de desinformação: agências do governo, políticos e partidos, inciativa privada e cidadãos e influenciadores. Apenas organizações da sociedade civil não foram consideradas disseminadoras de manipulação cibernética.

A última tendência do relatório diz respeito a movimentação recente das mídias sociais, que até então se declaravam neutras. As redes deletaram 317 mil contas e páginas de tropas cibernéticas entre janeiro de 2019 e novembro de 2020. Em um dos episódios mais recentes, diversas plataformas suspenderam a conta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após a invasão do Congresso em Washington por militantes da extrema-direita.

“Agora mais do que nunca, o público precisa ser capaz de depender em informações confiáveis sobre a política e atividade do governo. Redes sociais precisam melhorar seu jogo, aumentando seus esforços para indicar desinformação e fechar contas de fake news sem a necessidade da intervenção do governo”, defendeu Philip Howard, diretor do Oxford Internet Institute e co-autor do relatório.

Estratégias de desinformação

Para espalhar desinformação, as contas gerenciadas por seres humanos são as mais empregadas. Apesar de menos automatizadas, a pesquisa encontrou essa técnica em 79 países. Estratégia que, não raro, conta com voluntários da sociedade civil. 57 países utilizam contas de bot, enquanto uma minoria de 14 países utilizam contas hackeadas ou roubadas. De todas as estratégias citadas, a única em que o Brasil não utiliza é de contas hackeadas ou roubadas.

A criação de conteúdo falso e veículos manipulatórios é a mais comum forme de causar desinformação, encontrada em 76 países. No Brasil, o Jornal da Cidade Online foi denunciado pelo Sleep Giants Brasil como propagador de fake news, enquanto Allan dos Santos, criador do site Terça Livre, ainda responde à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News. O Governo Bolsonaro chegou a pagar R$ 2 milhões em anúncios para o site, segundo levantamento da Comissão.

Além disso, trolls patrocinados pelo estado para atacar oponentes políticos ou ativistas foram registrados em 59 países em 2020, incluindo o Brasil. Também figuramos em os 30 países onde há uso de dados para direcionar conteúdo de propaganda política. Ainda, sete países empregam estratégia de denúnciar em massa posts de jornalistas, ativistas e vozes dissidentes. Mas o Brasil não figura neste grupo.

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Da Redação

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