Claro alerta para a “armadilha” do alto custo de aquisição de conteúdo

Operadora se prepara para gerar receita com publicidade em sua plataforma TV Box. ISPs apostam em modelos de negócio com decodificador ou app.

A Claro, maior operadora de TV paga do país com mais de 6,8 milhões de clientes, vê oportunidades na migração da demanda do Serviço de Acesso Condicionado Tradicional para formatos baseados em OTTs. Mas alerta que não será possível para todos produzirem ou terem conteúdos exclusivos sem que isso repercuta nos preços cobrados junto ao consumidor.

“O grande desafio é fazer existir cooperação na cadeia de valor. No movimento de migração para novos formatos de cobrança, as empresas que exploram SVA, OTT, SVOD precisam cooperar para não cairmos nas armadilhas do passado. Essa corrida de produção de conteúdo, precisamos cuidar para não repassar todo o custo para o usuário. Tem que manter o melhor custo benefício”, afirmou Alessandro Maluf, diretor de produtos vídeo da Claro Brasil.

O executivo explicou que o TV Box, produto da empresa lançado neste ano em dezenas de cidades do país, já tem capacidade de ser revendido em todo o território nacional. No momento, a operadora busca superar os desafios logísticos de aquisição e distribuição para fazer com que a caixinha chegue ao consumidor final nas áreas onde há demanda – especialmente cidades onde a empresa não tem nenhuma infraestrutura de TV paga.

O Claro TV Box é um decodificador que funciona sobre a banda larga fixa do cliente. Conforme Maluf, a empresa pretende lançar no futuro um aplicativo “standalone”, que funcione por si só no celular ou smartv simulando o ambiente da caixinha. Mas a ideia é recorrer ao hardware neste momento porque o processamento permite a integração com outros aplicativos de streaming de vídeo, fazendo com que a plataforma seja uma central de conteúdo.

Com a caixinha, a Claro tem várias opções de monetização da oferta e licenciamento do conteúdo: “A gente paga um custo por assinante, tem conteúdo com custo fixo, e tem conteúdo que paga para estar na nossa plataforma. Temos acordo de revenue share com conteúdos premiums e aplicativos OTT. E o que vem de novo são os AVODs, divisão das receitas obtidas com publicidade apresentada na plataforma”, contou.

Ele lembrou que a conta por trás da caixinha consiste em equilibrar o custo do equipamento com o custo de distribuição do conteúdo. Em função do dólar alto e das tarifas de importação, a unidade tem preço mais elevado que o decodificador tradicional de TV por assinatura. No entanto, a distribuição do conteúdo via internet sai mais barata. “Tem capex maior e opex menor”, resumiu. Ele participou do evento Streaming Brasil, realizado pelo site Teletime.

ISPs

Os ISPs Unifique, de Santa Catarina, e Life, do interior paulista, também apostam na distribuição de TV paga por aplicativo ou decodificador que funciona sobre a banda larga fixa. Jair Francisco, diretor de mercado da Unifique, contou que o objetivo da empresa ao revender uma caixinha é  garantir qualidade e acessibilidade. Segundo suas contas, 30% dos assinantes têm o IPTV box da empresa. A empresa ainda avalia se vai desenvolver ou recorrer um parceiro com aplicativo capaz de transmitir canais de TV lineares.

A Life, por sua vez, já tem o aplicativo. Luís Eduardo Diaz, diretor de relacionamento e mercado do ISP, seu app roda em diversas plataformas, de smartphones a smartvs. Foi criada por uma equipe interna de desenvolvedores. Além disso, a empresa tem uma caixinha Android. O app deu tão certo que virou produto vendido para outros ISPs. Cerca de 27 provedores do Nordeste usam a plataforma da Life, e outras “dezenas” no interior de São Paulo.

Fornecedores

Alex Jucius, da Associação Neo, contou que um terço dos clientes das empresas associadas, o que dá cerca de 2,5 milhões de pessoas, usam serviços OTTs fornecidos pela associação. A entidade lançou, há 18 meses, seu marketplace de produtos para TV paga. Segundo ele, essa é uma alternativa para produtoras de conteúdo conversarem com ISPs que têm poucos clientes, sem ter o custo de investir em uma infraestrutura de vendas com capilaridade nacional.

A Watch Brasil, empresa que reúne canais lineares e conteúdo sob demanda em um app de mesmo nome, afirmou que a demanda pela solução é crescente. Maurício Almeida, co-fundador da plataforma, diz que foi preciso antecipar para o primeiro trimestre deste ano o lançamento de parceria com o UOL Play, prevista para se concretizar apenas no final do ano. Outro grande grupo cliente é o Vero Internet. Atualmente, trinta dispositivos rodam o app da Watch, que tem integração com 35 sistemas de gestão usados por operadoras e ISPs. Segundo ele, em apenas 72 horas é possível acrescentar o Watch à oferta de um provedor de internet.

“No mês que vem estaremos na Roku. Além do conteúdo, acompanhamos o ciclo de consumo de cada perfil que acessa o app, e entrego isso para o ISP. Conseguimos estimar perfil socioeconômico e outras características do usuário com base do tipo de consumo”, contou.

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Rafael Bucco

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