Call centers voltarão a Brasília contra a reoneração da folha

Para evitar que governo consiga aprovar projeto de lei no Congresso, as empresas de call center preparam para o começo de setembro uma peregrinação aos gabinetes de deputados e senadores.

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Pegou mal entre as empresas do setor de teleatendimento a decisão do governo federal de contornar caducidade da MP 774, que reonerava a folha de pagamentos das empresas de diversos setores, com a edição de um projeto de lei.

“Como empresário, eu aperto o cinto. Mas e o governo? Não faz nada. Essa forma de o governo aumentar receita sem cortar gastos não faz sentido”, reclama John Anthony von Christian, vice-presidente da Associação Brasileira de Telsserviços (ABT). A entidade representa os interesses de empresas do setor de call center, entre as quais estão Algar Tech, Atento, Contax, BTCC. Sob seu guarda-chuva ficam 510 mil empregos.

Peregrinação

Embora ainda não se saiba exatamente qual o teor do PL, há o temor de que seja mais parecido com a versão original da MP 774, do que com o relatório aprovado em comissão mista do Congresso. O relatório deixava de fora as empresas de TI e de telemarketing.

Para evitar uma reedição da MP, as empresas de call center preparam para o começo de setembro uma peregrinação aos gabinetes de deputados e senadores. Vão levar o mesmo estudo feito no primeiro semestre. O material indicava que, havendo reoneração, a indústria de telesserviços vai demitir pelo menos 150 mil funcionários. Segundo as empresas, com a desoneração, contrataram 73,3 mil pessoas entre 2012 e 2016.

“Se começarmos a mandar gente embora, os pequenos municípios vão receber menos impostos, cada profissional demitido vai consumir menos, pagando também menos impostos. Vai ter menos FGTS e menos INSS. E o governo ainda vai ter que arcar com o seguro desemprego. Eles acham que vão aumentar a receita, mas não vão”, acrescenta von Christian.

Contexto

Ele critica ainda a falta de compromisso do governo com o acordo feito para que houvesse a desoneração. “Concordamos, em 2011, em criar novos sites em diferentes cidades onde nada existia. Foi feito um investimento que não foi pequeno. Aí, pouco tempo depois, mudam o programa”, diz. Segundo o estudo do setor, foram 37 novos sites e R$ 1,3 bilhão investidos nos quatro anos em que a desoneração vigorou.

Pelos cálculos da ABT, reonerar integralmente a folha de pagamentos vai elevar em 8% o gasto das empresas, o que pode inviabilizar parte das empresas. “Muitas trabalham com margem de 10%, e não conseguem repassar aumento de custo aos clientes”, conclui o executivo. A desoneração teria resultado em aumento de R$ 261 milhões em impostos federais e gerado uma contribuição à economia de R$ 4,6 bilhões, conforme estudo da consultoria LCA.

O Executivo anunciou ontem, 15, que irá mandar ao Congresso um projeto de lei para retomar a cobrança integral de impostos sobre a folha. E avisou que vai trabalhar para aprovar o texto ainda este ano, gerando, conforme seus cálculos, R$ 4 bilhões em receitas adicionais em 2018.

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Rafael Bucco

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