Você já ouviu falar em “escravidão digital”?

O CEO do grupo espanhol Telefónica, José María Álvarez-Pallete, diz que escravidão digital acontece quando há exploração de dados pessoais sem consentimento ou consciência dos usuários. E defende regulação para evitar este mal.
O CEO do grupo espanhol Telefónica, José-María Álvarez Pallete abriu o MWC 2021 (Imagem: Divulgação MWC)

O CEO do grupo Telefónica, José María Álvarez-Pallete, publicou hoje, 10, um texto no site da empresa no qual defende que as pessoas tenham controle pleno dos dados que geram sobre si ao utilizarem as diversas tecnologias disponíveis na sociedade atual. Para ele, uma sociedade moderna, em que dados se transformaram em um fator de produção e vale muito dinheiro, impedir o dono do dado de decidir acerca de seu uso equivale ao que chama de escravidão digital.

“Se os dados são um novo fator de produção, a privacidade deveria ser o elemento capaz de determinar seu valor”, crava. Conforme estudo de 2018 publicado na revista acadêmica Harvard Business Review, uma família de quatro indivíduos gera, por ano, dados no valor de US$ 20 mil ao ano. “Dados são importantes para publicidade, mas também um ingrediente essencial para a inteligência artificial”, lembra Pallete.

Sem garantias de controle por parte do usuário, empresas poderia minerar dados, beneficiando-se de valor que em realidade pertence aos indivíduos que geraram os dados. “Ao falharmos [em determinar nosso nível de privacidade e definir o valor dos nossos dados], produzimos dados diariamente enquanto outros exploram algo que nos pertence e, portanto, definem por nós nosso nível de privacidade. Isso é escravidão digital”, define o executivo.

Ele ressalta que o modo como nos comportamos no ambiente digital não tem paralelo no mundo físico. “Geramos um valor imenso, mas não reparamos. Revelamos nossa privacidade no mundo digital, de forma que jamais faríamos em nosso dia a dia analógico. Abrimos mão de nosso legítimo legado no mundo digital, algo que nunca faríamos no mundo analógico. Cedemos nossa soberania individual online, nunca de forma consciente”, reflete.

Por fim, Pallete lembra que a tecnologia tem papel fundamental em solucionar problemas e melhorar a sociedade. Mas para isso acontecer, é preciso haver marcos que regulem seu uso. “Esta não é a era da tecnologia, é a era das ciências sociais, que nos ajudam a definir como queremos que a tecnologia aconteça. Passamos muito tempo tentando aprender a língua das máquinas. Agora, é hora de as máquinas aprenderem os valores humanos”, conclui.

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Rafael Bucco

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