Open RAN: redução de custos não é certa, indica UnB

Estudos da UnB entregues à Anatel sobre o tema indicam que o Open RAN traz ainda preocupações em termos de segurança, mas é promissor para o Brasil no desenvolvimento econômico

(crédito: Freepik)

A UnB entregou à Anatel a maior parte dos estudos em que analisa o potencial do Open RAN para o Brasil. O material, organizado em junho num único documento pela Superintendência de Outorga e Recursos à Prestação, traz uma série de conclusões que indicam complexidade a respeito dos benefícios e dos problemas em torno do uso da arquitetura aberta e desagregada de redes móveis.

O primeiro fator, e talvez mais importante para acelerar a adoção do modelo, diz respeito ao custo. A UnB não conseguiu, em seu levantamento, reunir evidências de que o Open RAN custa menos para operadoras com redes legadas.

Os pesquisadores da universidade uniram diferentes projeções de consultorias do mundo todo. As mais otimistas apontam que o Open RAN tem um custo total de propriedade 30% a 40% menor ao longo de cinco anos, no caso de uso de topologia distribuída.

Outras consultorias apontam que essa economia no longo prazo se dá apenas em casos de redes erigidas do zero, e não se realiza para operadoras com redes legadas proprietárias, que precisam ser substituídas pelos equipamentos abertos.

O OpenRAN também altera o modo de gestão de redes, já que pressupõe um modelo de gerenciamento com automação e inteligência artificial, se aproximando do estilo TI e engenharia de software. As inovações na rede também serão mais contínuas com novos aplicativos que permitam maior velocidade e previsão da operação. Estes fatores também precisam ser contabilizados.

Por fim, a estimativa de redução de custo se baseia, aponta o levantamento da UnB, na premissa de que vai haver multiplicação de fornecedores com o uso do Open RAN, trazendo mais competição a um segmento concentrado nas mãos de Ericsson, Huawei e Nokia.

O relatório indica que a Ericsson tinha, em 2022, 49,1% de market share no Brasil para redes móveis. A Huawei tinha 37,1%. A Nokia 12,6%, e outras os 1,2% restantes.

Essa premissa, no entanto, pode não se concretizar. Embora haja multiplicação de fornecedores em Open RAN e políticas públicas em vários países buscam incentivar o desenvolvimento deste mercado, ainda é prematuro acreditar que um ecossistema diversificado está estabelecido.

Segurança

Outro ponto sensível diz respeito à segurança. As redes Open RAN, constata a UnB, têm mais pontos de contato para atacantes. As entidades mundiais de padronização têm critérios diferentes para estabelecer requisitos de segurança.

Isso porque o objetivo comum é criar padrões de interoperabilidade, o que pode comprometer as exigências de segurança. Os pesquisadores consideram que as especificações propostas pela O-RAN Alliance, por exemplo, não oferecem uma estrutura de segurança holística que abranja todas as fases do ciclo de vida do Open RAN.

A sugestão dada à Anatel aqui é que a agência defina conceitos de boas práticas para o público geral e para o desenvolvimento de software e hardware voltados a infraestruturas críticas.

Recomendações

A UnB ainda tem mais relatórios a entregar até o final do Ano, mas já apresentou as principais constatações à agencia em junho. Com base em todo o levantamento, a universidade sugere que o Brasil invista no Open RAN a fim de participar da cadeira de valor deste modelo, que é promissora.

“Poderá gerar valor agregado no mercado de telecomunicações principalmente na produção de softwares e aplicativos, que podem ser utilizados tanto no processo de implantação em si do ecossistema como em serviços que podem surgir após a implementação”. Além disso, outros setores da economia podem ser beneficiados, uma vez que o ecossistema permitirá que redes privadas sejam criadas.

Recomenda a criação de sandbox regulatório e de uso de radiofrequências associadas a qualquer momento, nos mesmos moldes de autorizações emitidas pela Anatel em geral, “a fim de permitir que iniciativas disruptivas possam alavancar o desenvolvimento tecnológico no setor de telecomunicações, evitando a criação de barreiras desnecessárias ao mercado”.

Da mesma maneira, diz que o governo precisa estimular a localização de data center, uma vez que as redes abertas são virtualizadas e utilizam tais estruturas.

Sugere ainda que a Anatel não caia na tentação de emitir requisitos técnicos para estas redes, por considerar suficientes o trabalho das entidades internacionais de padronização, com exceção da questão da segurança.

Para isto, a solução proposta é que a Anatel aprofunde estudos no GT Ciber sobre requisitos de segurança cibernética e crie um modelo de certificação para processos produtivos. Também cogita a adoção de princípios de segurança multilateral (zero-trust). E recomenda ser relevante a realização de pen-testing em redes de acesso, uma vez que as especificações do 3GPP e da O -RAN Alliance não preveem obrigatoriedade neste tipo de ensaio.

O relatório de acompanhamento e avaliação da evolução de Open RAN pode ser acessado na íntegra aqui.

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Rafael Bucco

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