O Serpro está criando soluções para as necessidades do usuário

O Serpro resolveu utilizar sua enorme base de dados para empacotar diferentes produtos e serviços que acompanhem as políticas públicas e atendam a necessidades dos cidadãos. E em pouco tempo a empresa irá lançar cada vez mais novos produtos e serviços, afirma a sua presidente, Gloria Guimarães.
Glória Guimarães, presidente do Serpro
Glória Guimarães, presidente do Serpro

O Serpro resolveu utilizar sua enorme base de dados para empacotar diferentes produtos e serviços que acompanhem as políticas públicas e atendam a necessidades dos cidadãos. E em pouco tempo a empresa irá lançar cada vez mais novos produtos e serviços, afirma a sua presidente, Gloria Guimarães, como o sistema SNE (apresentado no dia 1º pelo Ministério das Cidades e a estatal à imprensa), app que dá desconto nas multas.

Com orçamento restrito, assim como toda a União, a empresa está se reposicionando também na contratação parceria com os fornecedores, nas apostas do futuro – quando quer ser forte nos serviços de nuvem e em big data – sem abandonar o esforço pela inovação, onde investe até em uma aceleradora. Leia aqui os principais trechos da entrevista:

Tele.Síntese – A nova gestão abandonou o software livre?

Glória Guimarães: Em relação às questões de estratégias de infraestrutura e de direcionamento, a gente continua acreditando muito no software livre. O software livre  é um indutor de novas tecnologias.  A tecnologia aberta é muito relevante para que a gente possa permitir criação, novos perfis. Eu acredito muito que o modelo de colaboração  vai se fortalecer cada vez mais. Nós não tiramos o software livre da nossa pauta, ele é nossa pauta. Agora, ele serve para tudo? Não. Ele é que nem remédio. Se você estiver com dor de cabeça toma um Tylenol, mas se estiver com um problema de gastrite ele não serve. A gente vai ter que utilizar o software livre quando for economicamente viável, porque muitas vezes  uma solução de software livre  pode ser mais cara que uma solução de mercado. Para a gente é muito relevante  ter a melhor solução com o custo mais baixo.

Tele.Síntese – O Serpro também está disputando o mercado de nuvem, não?

Gória – Já oferecemos a nuvem como serviço e no final de outubro oferecemos a nuvem como plataforma de serviço. Hoje a gente já oferece como infra. Se você quiser hospedar seu site aqui, isso já é possível. E com os preços competitivos no mercado. Estamos disponibilizando uma demo com alguns clientes para fazer como plataforma e distribuindo alguns produtos de serviço. A nuvem é um movimento forte e nós estamos investindo muito. Claro que são tecnologias. Tem tecnologia de software livre, tem tecnologia embarcada de toda natureza. Estamos também trabalhando fortemente na comercialização. Nós somos governo, nossa natureza é governo, vamos continuar oferecendo os melhores produtos e serviços para o governo, mas a gente tem que pensar em um governo digital.

Tele.Síntese: Mas com isso você está mudando, ampliando o leque do papel do Serpro? Porque na verdade o Serpro é um serviço de atendimento da Receita, não é?

Glória : Não só da Receita. A gente atende todos os ministérios. A Receita é nosso movimento maior. Mas atendemos o Ministério do Planejamento, o Mdic, o Denatran, o Ministério das Cidades. CNH, Passaporte, são feitos aqui. Justiça Federal. Assim como a Dataprev, nós somos irmãs.Enquanto empresa de governo, tenho que dar suporte às políticas de governo e consequentemente ao cidadão.  Estamos também em uma linha de disponibilizar o site para os estados. No final de novembro vamos colocar uma versão nova do site com novos produtos e serviços. Vai ter um sistema integrado de administração de serviços, com um serviço que é uma espécie de um ERP de estoque de  patrimônio e transporte, para disponibilizar para os estados com capacidade de colocar como um serviço disponível em nuvem para quem necessitar usar.

Tele.Síntese – Com cada um desses ministérios, há produtos e serviços para o público?

Glória – Estamos começando a criar vários deles. A tendência é cada vez mais evoluir. O SNE, por exemplo, que a gente faz para o Denatran, permite que você receba a multa pelo telefone e você pode pagar pelo site. E tem a redução no processamento da multa, gestão de postagem.  Nós também montamos uma aceleradora, aonde a gente busca e oferece essas soluções para os usuários a partir da necessidade dele.

Tele.Síntese: O alvo de vocês é prestar serviços para estados e municípios ou só para os estados? O que mudou na abordagem?

Glória : O alvo  continua sendo o Governo Federal. Mas também podemos usar essas boas soluções  para atender o governo municipal e o governo estadual. Por exemplo, o consignado que nós fizemos agora para o Ministério do Planejamento, se um dos estados quiser usar  nós já temos empacotado. Ao invés dele ter uma empresa que presta este serviço, a gente já presta esse serviço, os bancos já conhecem, os bancos já são todos adaptados.

Tele.Síntese: Então se eu entendi, vocês vão continuar desenvolvendo produtos de prateleira para atender as necessidades do governo federal?

Glória: Também. Federal, Estadual, Municipal. Nós temos um outro produto chamado Hisaq, que é um histórico de aquisições. É um produto muito interessante que dá transparência ao planejamento e execução das contratações e orçamentos. Ele acompanha desde o nascer de uma demanda até o processo de licitação, ele deixa tudo isso guardado (até o pagamento). Se você quiser, por exemplo, fazer uma auditoria,  tem tudo isso registrado, tem o passo a passo e isso facilita muito a vida do gestor. Enfim, temos essa gama de produtos empacotados, temos a  nuvem e a gente também está dando prioridade a essas novas tecnologias. Inovação para a gente “arrepia o zóio”, porque tecnologia não vive sem inovação. E para isso a gente está montando o portal de inovação aberta que vai receber feedbacks, testes internos. A gente tem um time  que faz esse trabalho e ao mesmo tempo a gente também está montando os hackathons,  no final do ano, com o objetivo de estimular a inovação.

Tele.Síntese: Vocês vão oferecer esses produtos para iniciativa privada?

Glória:  Se o mercado quiser comprar não tem problema oferecer. É possível.

Tele.Síntese: Você não teme  que isso dê alguma reação com outras empresas que disputam esse mercado? Da indústria de software?

Glória: Essa indústria é de natureza competitiva, a gente tem muita indústria de software no Brasil Acho que o Serpro tem alguns elementos que podem ajudar, inclusive fazer alguma parceria, trabalhar em conjunto. Vejo a indústria de TI com o mercado de governo de TI muito convergente. Acho que a gente tem que se juntar. Mas nós também precisamos de autorização legal para poder fazer essa distribuição para o mercado privado.

Tele.Síntese: E vocês já não têm essa autorização legal?

Glória: Algumas nós já temos. Na Fazenda algumas coisas a gente já tem. Mas eu não quero competir por exemplo com o mercado de joguinhos. Consulta de CPF, eu posso fazer, e a minha base é fidedigna, é a base mais real que tem, que é a base que governo usa.

Tele.Síntese: O mercado de nuvem, como é que o Serpro que vai se colocar nessa disputa?

Glória: Tem mercado pra todo mundo. A nuvem tende a crescer, assim como a internet. Não acredito que esse mercado é reservado para iniciativa privada. Eu acho que é uma complementação. Assim como eu mesma posso usar uma nuvem privada para colocar uma coisa minha, por exemplo, meu ambiente de desenvolvimento, ao passo que coisas de governo, que têm que ter segurança, que têm que ter garantia, essas têm que estar na minha nuvem. Não acredito em radicalismo nem brigas, eu acredito em complementariedade. Tanto que aqui estamos buscando uma modelagem junto com os fornecedores no sentido de fazer parcerias. Hoje a gente tem questões financeiras complexas para comprar equipamentos.

Tele.Síntese: Há uma restrição orçamentária muito grande.

Glória : Muito forte.  Todos nós estamos com restrições orçamentárias.  Então. ao invés de a gente comprar, porque o fornecedor  não me cede a máquina e eu pago pelo uso? É isso que estamos estimulando aqui no Serpro. Por exemplo, eu vou montar um sistema para a receita federal e vou gastar X Gigabytes de discos e sei que meu sistema ao longo do ano vai precisar de 100GB mas no primeiro mês ele só precisa de 10GB, no segundo mês 11GB e por aí vai. E nós podemos fazer uma parceria com a indústria de TI. Então eu posso sentar com ele e dizer, meu amigo, vamos fazer uma parceria? meu sistema vai usar 10GB, Você me cobra 10. Vou usar 11GB, você me cobra 11. E esse ambiente, se for de dados que devam ser guardados tem que ficar comigo. Se for dados de uma rede privada, ficarão na rede privada. É um jeito inteligente de construir a TI gastando menos. Fazer mais com menos, e é assim que a gente como governo tem que atuar. Porque, afinal de contas, nós somos governo e a nossa empresa se sustenta com os impostos nossos, cidadãos. Nós temos que devolver ao cidadão de uma forma adequada. A gente está devolvendo um serviço, gastando o dinheiro adequado para que forneça o melhor produto e serviço, mas sem sair gastando.

Tele.Síntese: E como está o relacionamento com a Dataprev, por exemplo? Havia aquele estudo de fusão com a Dataprev e hoje me parece que é mais um modelo de colaboração.

Glória : Muito forte! Por exemplo, o caso da nuvem, a gente está conversando muito para poder fazer transbordo com eles. O estilo da gestão é um estilo de colaboração, é fazer mais com menos. Nós já fizemos isso com certificação digital, estamos fazendo isso com transbordo de nuvem, estamos conversando muito na área de infraestrutura sobre essas modelagens novas. Eu acredito muito convergência natural das coisas, independente se tem fusão, confusão ou qualquer outra coisa que o vale. Porque essa coisa do governo é natural, a gente tem que trabalhar juntos, a Dataprev deve trabalhar junto conosco e nós devemos trabalhar junto com eles, porque nós temos expertise que certamente eles não têm e eles tem expertise que certamente a gente não tem.

Tele.Síntese: Do ponto de vista tecnológico, você acha que tem um movimento de disruptura?  Como é que você colocaria esse elefante aí, chamado Serpro?

Glória: Esse elefante vai ter que virar vários elefantinhos para sobreviver, porque de fato não está fácil. A gente tem que se reinventar. E a maneira de se reinventar é através desses movimentos do Big data, que eu acho que eles realmente são o grande salto da tecnologia. Mobilidade e Big data. São essas duas coisas juntas. ah e o blockchain.

Tele.Síntese: E o Serpro ainda tem pouca coisa para celular..

Glória :  Temos algumas coisinhas. Alguma coisa da Receita Federal, estamos começando um produto  que é um certificado digital no celular. A gente está indo muito para essas tecnologias. Tecnologias embarcadas em mobilidade

Tele.Síntese: O que é exatamente o blockchain?

Glória : O blockchain, vou chamar de um processo. Ele é um processo automatizado. Por exemplo, hoje quando você compra uma casa, você tem que ir no cartório, reconhecer a firma, reconhecer os documentos. O cartório te autentica. O blockchain é uma rede de autenticação, é um canal com um bloco dizendo, “olha, aquele documento que a Glória mandou para o Ministério do Planejamento, ela assinou com certificado digital, aceite que é válido. Esse mesmo documento vai lá para a Casa Civil. A Glória assinou esse documento com certificado digital  válido”. É essa cadeia que se fecha com certificado de validação de alguma coisa. É uma tecnologia muito nova ainda, nos Estados Unidos eles usam muito. Você conhece o Bitcoin? Ele é um blockchain. É alguém que valida aquela moeda e onde você chegar aquela moeda está válida. É como se fosse um validador. É alguém que tem “fé”. Seria um cartório online, vamos chamar assim.

Tele.Síntese: Vocês  estão com em déficit com relação a contenção de recursos, e estão em negociação de horários, vagas com os funcionários?

Glória: Não, de vaga não. A gente tem até uma APA (ação de preparação para aposentadoria) em andamento, já está acontecendo, já saíram cerca de 400 pessoas. A meta efetiva seria cerca de 1.000 pessoas. Hoje a empresa tem 10.000 dos quais, 2.500 estão na Receita Federal e efetivamente trabalhando no Serpro, cerca de 7.000 empregados em 11 regionais.

Tele.Síntese – Com esse esforço, como ficam as contas?

Gloria- Esse ano provavelmente a gente ainda vai dar prejuízo,  tem também ações trabalhistas, . Ano que vem, a gente tem ideia de fazer equilíbrio.

Tele.Síntese: A meta é diminuir o prejuízo?

Glória : A meta é diminuir bastante o prejuízo. Nós mexemos em toda estrutura organizacional.  Criamos uma área de compliance e risco que a gente não tinha; uma diretoria de governança de compliance e risco.E estamos revendo também a estrutura para daqui mais algum tempo mexer de novo. O objetivo é organizar e arrumar a empresa para esse novo patamar. Reorganizar a companhia para este patamar que a gente quer adotar para produtos e serviços novos, inovação, big data, mobile. A gente quer preparar a companhia para ela ficar ágil.

Tele.Síntese: Precisa mexer muito no parque instalado do Serpro?

Glória: Como a gente está com a nova estratégia de contratação, a nova estratégia de migração para um modelo de colaboração, ele vai permitir que a gente fique mais leve.

Tele.Síntese: E isso não tem problemas com o TCU ou com licitação?

Glória: Não. Nós estamos construindo todo o modelo jurídico. A gente tem feito um  trabalho muito sério e trabalhando em conjunto com o sistema todo- CGU, TCU…  Eu acho que esses pilares, colaboração, transparência e seriedade fazem o processo evoluir. Claro que nunca no prazo que a gente tem a ansiedade de acontecer, mas a gente acha que pode ser bem rápido, sim.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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