O Brasil e a África precisam fazer ajustes com as maiores big techs do planeta
Nem o Brasil, nem os países de língua portuguesa da África, vão conseguir obter mais investimentos para democratizar a banda larga se não conseguirem fazer ajustes com as big techs para evitar que sejam os principais beneficiados com a aplicação desses recursos.
A crítica foi feita nesta terça-feira, 23, pelo presidente da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, durante participação no evento Conexão Brasil-África, promovido pela Momento Editorial em Brasília.
“Não vamos dar conta de conseguirmos investimentos para democratizar a banda larga se a gente não fizer ajustes com aqueles que mais se beneficiam desses investimentos, que são as big techs”, alertou.
Viana se referiu às principais empresas do setor — a Microsoft, fundada em 1975, a Apple em 1976, a Amazon em 1994, o Google em 1998 e o Facebook em 2004. As receitas das big techs somadas bateram recorde em 2023: US$ 1,59 trilhão.
“Nessa busca de conectividade, tem que haver muito investimento”, observou o dirigente da agência de exportação. “E, nessa busca de fazer investimento, nós temos que tomar cuidado. Por quê? Porque não vamos dar conta de ampliar a conectividade, fazendo banda larga, quando você tem os consumidores reduzidos a quatro, cinco pessoas. Quatro empresas no mundo consomem todo o esforço de investimentos que a gente faz.
Apontou que essas empresas ficam com a maior parte. E se isso não for feito, a gente corre o risco de errar. “Eles ganham o dinheiro com isso, e o país tem que arranjar dinheiro, tem que trabalhar, tem que tirar dinheiro dos impostos para outro setor, para poder criar faixas e espaço para que as big techs possam ocupar e ganhar dinheiro, muito dinheiro. Isso, eu acho, está errado”, condenou.
Crise demográfica
Para o palestrante, o mundo vive uma crise demográfica, o que demonstra a importância de se avançar na conectividade, especialmente para atender as necessidades das populações mais jovens, como na África, e mais idosas, como na Europa.
“A África merece investimentos porque, de acordo com estudos da ONU (Organização das Nações Unidas), o continente, que tinha cerca de 140 milhões de habitantes em 1990, deve ter 2,5 bilhões de pessoas em 2050”, comparou. “No final do século, a população mundial terá 40% de africanos e 40% de muçulmanos”, projetou.
Nesse esforço, ele destacou que os pequenos provedores do Brasil têm condições de colaborar com a expansão da conectividade nos países africanos. (Por Abnor Gondim, especial para o Tele.Síntese)