“O Bradesco implodiu a área de produtos”, diz CEO do banco

Para trabalhar com foco no cliente, presidentes dos maiores bancos afirmaram que não há mais como separar áreas de produtos, negócios e tecnologia
“O Bradesco implodiu a área de produtos”, diz CEO do banco
“Não teríamos uma visão cross do cliente se tivéssemos a área de produtos como no passado”, diz Marcelo Noronha, do Bradesco

O chief executive officer (CEO) do Bradesco soltou uma frase de efeito: “O Bradesco implodiu a área de produtos”. A fala, dita no painel do Febraban Tech que reuniu os maiores bancos do país – além de Bradesco, Caixa, Itaú e Santander – referia-se à necessidade que a instituição financeira viu de não mais separar áreas de negócios ou produtos das equipes de tecnologia.

“Criamos squads e passamos a utilizar a metodologia ágil a fim de ser mais proativos e ter uma visão cross em relação ao cliente. Não teríamos essa visão se tivéssemos a área de produtos como era no passado”, afirmou.

O banco não está sozinho nessa decisão. No Itaú Unibanco também não há mais uma separação rígida entre as áreas. De acordo com o CEO da instituição, Milton Maluhy Filho, a tecnologia deixou de ser vista apenas como fornecedora da área de negócios. Isso não existe mais. Tecnologia é todo mundo, tecnologia é negócios”, afirmou.

O executivo observou que, quando os times trabalhavam separadamente, não era incomum a área de produtos criar uma solução e não testá-la antes de enviar para o desenvolvimento da tecnologia. Depois de nove meses, com o resultado em mãos, descobria-se que não havia mercado para o novo produto. “Precisa de metodologia ágil para entregar valor para o cliente. E tem que estar disponível para errar, aprender e corrigir”, disse.

Maluhy Filho lembrou que os grandes bancos desenvolveram todo o sistema e arquitetura de negócios em cima de produtos específicos e cada um funcionava separadamente, cartão de crédito, financiamento e assim por diante. “Hoje, a visão é a jornada do cliente. Ele não quer mais um cartão, ele tem uma necessidade. Ele não quer um financiamento, ele tem a necessidade de adquirir um bem”, comparou.

A mudança na estrutura de desenvolvimento de soluções no banco permitiu mais agilidade. O executivo contou que, antes, durante a produção de um produto, havia cerca de mil mudanças no mês. Agora chegam a 20 mil. “Porque buscamos atender às necessidades do cliente e reagir a elas. Não dá mais para um head de produtos olhar só para o seu negócio, é preciso ver o todo para maximizar o cliente”, disse.

No Santander, a experiência tem sido parecida desde 2022, quando o banco montou 27 núcleos, com mais de 500 squads, trabalhando no modelo de metodologia ágil. “As prioridades são comuns para todas as equipes e são definidas a partir da visão do cliente. Não temos mais prioridade de produto ou de tecnologia”, explicou Mario Leão, CEO do banco.

Com equipes mais transversais, os investimentos deixaram de ser feitos por projeto e passaram a ser destinados de acordo com jornadas. “O que recebe mais investimento é aquele que é mais importante para o cliente. Não falo mais em cartão, em crédito especial para o cliente. Agora falo em jornada”, contou.

Na Caixa Econômica Federal, a metodologia ágil também ganhou espaço. “Pinçamos um grupo de funcionários que já trabalhava com essa mentalidade e montamos squads. Com o uso de inovação, engajamento e agilidade, esses squads estão fazendo grandes mudanças na Caixa”, afirmou o presidente do banco, Carlos Vieira. Tudo com foco na transformação cultural de trabalho na instituição quanto na jornada do cliente.

A 34ª edição do Febraban Tech, evento de tecnologia e inovação organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), acontece até quinta-feira, 27, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

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Simone Costa

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