Nuvem: pregão de R$ 273 milhões causa controvérsia e pode ser suspenso

Pregão de nuvem coordenado pela Procergs para companhias de processamento de dados de 10 estados termina dia 8, mas tem ameaças de judicialização e muitos questionamentos.

Um pregão público aberto em 17 de junho para contratação de serviços em nuvem para 10 empresas estaduais de processamento de dados vem gerando controvérsia entre integradoras do ramo. O edital traz dois lotes, um para prestação de serviços multicloud, e outro para nuvem da Oracle.

A licitação das “prods” estaduais prevê um preço de R$ 223 milhões para contratação dos serviços multicloud, e de R$ 50 milhões para contratação de nuvem exclusivamente da Oracle, por três anos.

Empresas que tencionam participar da disputa dizem que a existência de um lote exclusivo de nuvem pública da Oracle causa estranheza por reduzir o número de competidores – e porque o trabalho do broker prevê a entrega de projetos com tecnologia selecionada conforme as características do cliente, e não com base no fornecedor.

Além disso, o cálculo dos valores sugeridos para a contratação está abaixo do que é praticado no mercado e mostra desalinhamento com os custos reais de projetos de digitalização. Nestes, a maior parte dos custos está na prestação do serviço pela integradora, e não no uso da nuvem em si, como propõe o registro de preços.

O edital polêmico foi lançado pela Procergs. Prevê o registro de preços para contratação de “IaaS, SaaS, PaaS, treinamento, concepção, projeto, provisionamento, configuração, migração, suporte, manutenção e gestão de serviços em provedores de serviço em nuvem pública” no lote 1. E “contratação de prestação de serviços continuados sem dedicação exclusiva de mão de obra, de computação em nuvem no Provedor Oracle Cloud Infrastructure”, no lote 2.

Será utilizado para contratação por parte da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar), Centro de Informática e Automação de Santa Catarina (CIASC), Companhia de Processamento de Dados da Paraíba (Codata), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Empresa Matogrossense de TI (MTI), Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa), Companhia de Processamento de Dados do Amazonas (Prodam), Companhia de TI de Minas Gerais (Prodemge), Centro de Gestão de TI do Amapá (Prodap) e Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Inovação de Goiás (SEDI/GO).

O lote 2, de contratação da Oracle, é para atender apenas Celepar, MTI, Procempa e Prodemge.

Corrida contra o relógio

A finalização do pregão acontece na sexta-feira, 8 de julho. No momento, há 53 questionamentos enviados à Procergs sobre a coerência do edital. Alguns apontam a inviabilidade da proposta ou dificuldade em compreender os critérios utilizados.

O edital foi baseado em outro registro de preços feito em 2021, pelo Ministério da Economia. Apontam fontes ouvidas pelo Tele.Síntese que as estimativas de preços foram mantidas, embora haja um número muito maior de serviços que deverão ser entregues.

O edital do Ministério da Economia tinha 95 serviços. A Procergs incluiu mais 102 serviços novos, indo a 197, mantendo as mesmas cotações, ignorando consultas que realizou junto ao mercado. O valor global, ainda assim, ficou menor que o do ME.

“O equívoco é que agora são mais serviços a serem prestados, com características e complexidade maiores”, diz o executivo de uma integradora que prefere não se identificar.

Além dos questionamentos já enviados, os pedidos de impugnação do edital da Procergs não param de chegar. Nesta semana, até o momento, já são seis. Foram enviados pelos brokers Claro, Oi Soluções, Brasoftware, Innuvem, Global Web e AX4B. Todas essas empresas pedem alterações. Caso contrário, ameaçam levar o caso à Justiça.

Desequilíbrio

Uma fonte explica que, historicamente, contratos públicos de nuvem preveem que em média 25% dos custos sejam destinados aos serviços profissionais de migração e integração dos sistemas, manutenção e outros. A licitação das companhias de processamento, porém, reserva apenas 7,5% do investimento para o serviço dos integradores, e o restante para pagamentos dos provedores de nuvem.

“A discrepância é tão grande, que não dá nem para comparar com o que é praticado no exterior”, reclama esta fonte. “Há um erro de subdimensionamento e de cotação”, resume.

O erro de dimensionamento é comum nos órgãos brasileiros, que costumam direcionar mais dinheiro para a nuvem do que a para a integração, embora esta seja a parte do serviço que exige mais mão de obra.

Na tabela abaixo é possível constatar essa realidade, e perceber que o pregão feito pelo Ministério da Economia foi ainda mais desequilibrado. Justamente o que serviu de base para o da Procergs.

Não bastasse, serviços equivalentes no lote 1 e no lote 2 têm preços diferentes. O custo do serviço de plataforma as a service sugerido pela Procergs é de R$ 1,68 por unidade. Nas na plataforma Oracle, salta para R$ 9,14.

Imperícia

Os problemas do edital são vistos como erros técnicos causados por falhas de comunicação interna ou falta de conhecimento sobre a integração de serviços em nuvem, avalia um executivo.

Nos questionamentos enviados, por exemplo, um integrador observa que o edital cota em R$ 283 a migração de uma instância de banco de dados, a ser feita por três profissionais. Mas, por outro lado, define o custo de criação de uma instância de computação em R$ 350.

“Vemos no processo administrativo que a Procergs desconsiderou todas as cotações recebidas, mesmo tendo um instrumento diferente e mais complexo que o do Ministério da Economia, então questionamos: como é possível, na visão do orçamento da Procergs que a migração de um banco de dados tenha um custo 19% inferior a uma simples criação de VM? Perguntamos qual o critério de preços, qual a cotação de mercado, qual é o balizamento feito pela Procergs para que um serviço tão complexo quanto uma migração de banco de dados tenha um valor máximo orçado inferior a simples criação de uma VM?”, diz o questionamento, que pode ser acessado no site da licitação, aqui.

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Rafael Bucco

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