Menos telco, mais tech: a aposta da Vivo em serviços digitais

Em evento para o mercado financeiro, Christian Gebara defendeu o processo de diversificação das receitas da Vivo e traçou horizonte de ampliação da importância dos serviços digitais - próprios ou de parceiros - para crescer nos próximos anos.

Christian Gebara, CEO Vivo (Divulgação)

A Vivo completou 25 anos no Brasil, e a data marca uma transformação relevante em sua estratégia no país, mais que nunca marcada pelas expectativas de expansão com serviços digitais.

“É hora de falar menos de concessão e ter mais discussões sobre o mundo da internet”, vaticinou hoje, 5, o presidente da companhia, Christian Gebara.

A frase diz respeito às negociações com a Anatel para a migração das concessão para o regime privado, o que a seu ver será positivo para a companhia e, principalmente, deixará para trás tecnologias legadas, deficitárias, garantindo ao setor a possibilidade de focar no que está por vir.

Para Gebara – e para a Vivo – o futuro é digital. A empresa vai ser menos telco, e mais tech. O segmento de telecomunicações não deixará de ser fundamental tão cedo. Na verdade, a base de assinantes é o ativo necessário para a companhia buscar oportunidades no mundo digital, explicou hoje, 5, durante do Vivo Day. O evento reuniu analistas e a imprensa na sede do grupo, em São Paulo.

O plano não chega a ser novo. A Vivo busca parcerias com OTTs, fintechs, empresas de saúde, educação, energia, para vender e revender serviços que fogem das telecomunicações há alguns anos. Tais segmentos podem ser interessantes para sua base de clientes, sobre os quais a companhia tem conhecimento de hábitos e poder de compra.

“Temos o terceiro maior data lake da América Latina”, ressaltou Gebara. A quantidade de dados que a companhia tem só não é maior que a de dois bancos nacionais.

Na seara das parcerias, ele lembrou que a Vivo é hoje a maior vendedora intermediária de assinaturas de serviços de streaming do Brasil para as plataformas que aqui operam. A oportunidade é aproveitada principalmente para atender clientes que preferem reunir todos os serviços contratados em uma mesma fatura.

A seu ver, a Vivo seguirá vendendo mais serviços digitais de terceiros. E como o foco é ser digital, a empresa fez um retrofit de seu app Meu Vivo, que vai se tornar mais amigável, detalhado, reunirá informações de contratação de todos os serviços de terceiros no mesmo espaço e vai apontar quais serviços os assinantes móveis ou de banda larga têm incluídos em seus planos a partir de março. A companhia dá importância fundamental ao aplicativo, pois hoje 80% dos clientes o utilizam. E quanto mais usuários, menores os gastos com atendimento.

7 verticais

A Vivo prioriza em seu plano industrial sete verticais: Fintech, Edutech, Entretenimento, Consumer Electronics, Casa Inteligente, Saúde e Bem-Estar, Energia.

A companhia anunciou nos últimos meses negócios em todos estes segmentos. Por exemplo, em Entretenimento, revende assinaturas de Netflix, Disney+, Paramount+, Globoplay, Spotify. Em fintech, tem o Vivo Pay, Money, Seguros, Cartão Itaú, Compra Planejada (em breve, tudo será concentrado no Vivo Pay). Como edutech, participa do mercado com a Vivae. Em Energia, criou uma joint venture com a Auren. Em saúde, tem acordo com Vale Saúde e o app ATMA, de yoga. Em casa inteligente, aposta em serviços de suporte e instalação.

E em consumer electronics, passou a vender de tudo. A loja da Vivo hoje é diferente da loja de 1998. Quem entrar ali vai ver oferta de celulares e fones de ouvido ainda. Mas as semelhanças terminam aí. Agora tem também robô aspirador, caixas de som, acessórios de automação, games, ambientes de experimentação.

A venda de aparelhos pode ser ampliada graças à capilaridade das lojas. A Vivo compete com varejistas em número de estabelecimentos, “mas a venda de aparelhos está ainda distante do que vendem as grandes varejistas, então há muito espaço para crescer”, observou Gebara.

Em 2023, a Vivo faturou R$ 344 milhões com as vendas de aparelhos diversos. Disso, R$ 40 milhões vieram da recém lançada marca própria Ovvi, um jogo de letras com a marca Vivo.

Toda essa frente de novos negócios representam hoje 3% da receita total do grupo Vivo, que como Gebara deixa claro, não vai parar por aí.

No B2B, a oportunidade também está no digital. A tele revende serviços de cloud, cibersegurança, IoT, big data, rede e, mais recentemente, de open gateway (para acesso direto pelo cliente a recursos de rede).

Oportunidades em telco

A diversificação de receitas será construída ao longo do tempo. A área de telco ainda é, e será, a principal fonte de receitas por anos, se é que um dia será ultrapassada. Até porque o sucesso das iniciativas digitais está atrelado à possibilidade de acessar a base de 113 milhões de clientes para ofertar produtos.

Conforme Gebara, a Vivo construiu uma rede extensa, com fibra, que já passou todas as concorrentes em número de HPs (casas aptas a assinar banda larga por fibra óptica), tem acordo com a TIM para reduzir os gastos com tecnologias móveis legadas como 2G e 3G, e pode agora focar na expansão do 5G sobre essa infraestrutura.

A empresa tem 26 milhões de HPs, mas vai terminar 2024 com 29 milhões. É muito? “Isso dá 60% dos domicílios [das classes] ABC com fibra, que nos dá espaço de 40% para trabalhar”, falou no evento. A cobertura do 5G já atinge 47% da população, e 98% vive sob redes 4.5G da empresa.

Com isso, o capex será estabilizado. Este ano, não vai repetir aportes vultosos vistos no período de pandemia ou no ano passado em função da incorporação da Oi Móvel. A previsão, disse, ficará abaixo dos 17,2% sobre a receita, visto em 2023.

“Os investimentos já realizados nos permitem reduzir a intensidade de capital”, resumiu David Melcon, o CFO da Vivo. Que também comentou a estratégia de focar mais e mais em serviços digitais próprios ou via parcerias: “Os serviços digitais não consomem Capex, o que traz a tendência de redução dos investimentos de capital para os próximos anos”.

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Rafael Bucco

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