Leilão 5G: fabricantes dizem que blocos regionais reduzem eficiência da rede
As fabricantes de equipamentos de rede e componentes aproveitaram a consulta pública do edital do leilão de frequências 5G para demonstrar preocupação quanto ao risco de um loteamento de espectro que traga ineficiência às redes móveis.
Todas manifestaram entendimento de que lotes regionais em 2,3 GHz e 3,5 GHz trazem riscos à qualidade da rede, especialmente nas divisas estaduais. Redes que operam em frequências diferentes levam a problemas de sincronia que resultam em perda de até um terço da eficiência. Veja, abaixo, as posições manifestadas por Nokia, Intel e Ericsson. A Qualcomm, integrante da cadeia produtiva da 5G, manifestou sua posição ao Tele.Síntese em entrevista concedida em março.
Nokia
A Nokia quer que a Anatel ofereça um lote nacional de 60 MHz da faixa de 3,5 GHz que pelo edital atualmente será oferecido apenas de forma fracionada em lotes regionais. Argumenta que é necessário um lote nacional pois o uso da tecnologia TDD na telefonia móvel é mais eficiente com blocos contíguos. O mesmo vale para a faixa de 2,3 GHz.
A fabricante também sugere que o edital preveja o uso do espectro adquirido (em todas as subfaixas) para o serviço limitado privado. Isso porque, explica a empresa, os principais casos de uso não virão necessariamente do atendimento da população com serviços móveis, mas de casos de uso específicos não massivos, como para servir rodovias, ferrovias, portos, minas, fábricas.
Por fim, a Nokia afirma que a Anatel não precisa reservar mais do que 100 MHz de espectro em 3,5 GHz por operadora. Mais do que isso seria um desperdício, uma vez que a padronização internacional da 5G não define portadora maiores do que 100 MHz.
“Caso mantido o limite de 140 MHz teremos a situação onde a prestadora será confrontada com a necessidade de colocar duas portadoras independentes o que afeta diretamente a eficiência espectral, ou seja a densidade de bits por Hz”, atesta.
O mesmo conceito afeta também a proposta da agência de compra mínima de 20 MHz. No caso, a Nokia sugere que o mínimo seja 40 MHz, uma vez que a eficiência espectral de 20 MHz seria a mesma que do LTE (4G).
Intel
A Intel, fabricante de chips embutidos nos equipamentos de rede, também recomenda revisão do tamanho dos blocos propostos na faixa de 3,5 GHz. O texto hoje prevê blocos de 100 MHz, 80 MHz, 60 MHz, 40 MHz e 20 MHz. Mas a empresa ressalta que o desempenho de uma rede em bloco menor que 80 MHz é baixa. “Blocos de 60 MHz ou menores seguramente apresentarão desempenho inferior e aumentarão os custos de implementação das redes”, argumenta.
Por conta dessa menor eficiência, recomenda que o leilão de blocos regionais aconteça por último, apenas depois que as rodadas por lotes nacionais de quatro blocos de 100 MHz termine e haja sobra. Para a faixa de 2,3 GHz, hoje apenas com oferta de blocos regionais, que a agência faça oferta por lotes nacionais.
“A distribuição regional com blocos em tamanhos distintos tornará sobremaneira complexa a coordenação de fronteiras e sincronização das redes entre operadores nacionais e regionais, e mesmo entre os próprios regionais”, argumenta.
A empresa também adota postura cautelosa quanto à liberação de mais faixa em 3,5 GHz, em função da interferência existente sobre serviços de TV aberta por satélite (TVRO). Para a Intel, o mercado precisa saber antes, detalhadamente, o tamanho do ônus que haverá na limpeza da faixa.
Ericsson
A Ericsson, como as demais, também propõe a preferência por blocos nacionais nas faixas de 2,3 GHz e 3,5 GHz. Diz a empresa que dessa forma reduz os custos para a manutenção da rede com mitigação dos problemas que surgem da dificuldade em sincronizar redes TDD entre si.
“A regionalização de blocos deve ser apenas empregada para aqueles blocos que deverão ser adquiridos por prestadoras com caráter estritamente regional. Para prestadoras com presença nacional, não deve haver regionalização dos blocos, sob pena de que regiões vizinhas terminem com arranjos distintos da banda”, diz a empresa. Os arranjos distintos, explica, resultam em problemas de sincronia que podem reduzir a capacidade da rede em até um terço.
A empresa também propõe que as obrigações de 2,3 GHz e 3,5 GHz sejam reunidas em um só grupo de projetos de investimento em acesso e transporte, com metas para aporte em infraestrutura de acesso 5G. E pede que o edital traga preferência para a aquisição de equipamentos que tenham PPB (processo produtivo básico) por parte das operadoras.
Huawei
Por sua vez, a Huawei sugere que a Anatel disponibilize todo o espectro em 2,3 GHz para as operadoras por ser uma das principais faixas usada no mundo inteiro para o IMT. Nos 3,5 GHz, discorda da Nokia e defende que cada operadora tenha, no mínimo, 100 MHz por ser a principal faixa para a primeira onda da 5G.
Mas, como as demais, também defende a retirada de lotes regionais por conta do impacto técnico sobre a qualidade das redes móveis. Isso, sugere, tanto nos 2,3 GHz, como nos 3,5 GHz.
“As alocações regionais de blocos resultarão na interferência co-canal nas fronteiras, inevitavelmente, o que prejudicará o desempenho da rede e a experiência do usuário, reduzindo a eficiência do espectro, que é o recurso precioso para o desenvolvimento de negócios da IMT”, argumentou.