Eficiência tecnológica reduz impacto da Selic para fintechs

Eduardo Silva, CEO do Edan Finance Group, analisa como o investimento em eficiência operacional por meio da tecnologia pode mitigar a perda iminente de margem das empresas de tecnologia dedicadas a serviços financeiros
Eficiência tecnológica reduz impacto da Selic para fintechs
Silva, do Edan, analisa como investimento em eficiência tecnológica pode mitigar perda de margem pelas fintechs devido à Selic

Por Eduardo Silva*

A recente alta da taxa Selic, de 0,25 ponto percentual na última quinzena de setembro e a expectativa de novas elevações até o final do ano, até 11,75% ao ano, têm impacto imediato para as fintechs brasileiras que sofrem contração de margens e precisam ficar mais seletivas na concessão de crédito. A taxa maior aumenta o custo do dinheiro, o que tende a encarecer os empréstimos e outros serviços ofertados aos clientes.

O mercado brasileiro é cíclico quando se refere a taxa de juros, pois temos desafios internos e uma dependência do mercado internacional. Por isso, é sempre importante olhar para uma tendência. O limite para absorver as altas da Selic fica ao redor de 1 p.p. em 12 meses. Desde a primeira elevação, em setembro último, de 10,5% a.a para 10,75%, e se concretizadas as expectativas do relatório Focus, até o final deste ano, a Selic subirá 1,25 p.p. Em outras palavras, em um curto espaço de tempo as fintechs não terão mais como manter os mesmos custos aos clientes, ou haverá repasse, ou precisarão fazer mudanças e buscar eficiência operacional para evitar perder market share.

Além da captação mais cara, a inadimplência é outro fator de preocupação. Segundo dados recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens (CNC), os endividados que admitiram atraso no pagamento de empréstimos somavam 29% em setembro, ante 28,8% em agosto. Nesses números, não temos apenas as pequenas e médias empresas, mas gigantes, como a Polishop, Coteminas, SideWalk, Casas Bahia, Supermercados Dia e por aí vai. As dívidas milionárias dessas empresas não se limitam a fornecedores, mas também a obtenção de financiamentos de capital de giro junto ao mercado.

Dentro deste quadro mais complexo, entendo que cada instituição financeira se vê obrigada a adotar estratégias para mitigar a perda iminente de margem, o que passa por aprimorar as estruturas de governança e inovação. Afinal, não adianta repassar o aumento dos custos aos clientes sem olhar a realidade do cenário. Sem dúvida uma das principais saídas está no investimento em eficiência operacional por meio da tecnologia.

Outro ponto é “fazer do limão uma limonada”. Por exemplo, quando olhamos para os Estados Unidos, vemos uma tendência inflacionária que vai sofrer uma pressão do mercado americano. Consequentemente, haverá reflexos em países como nosso, que precisa naturalmente ter um pouco de aumento da taxa de juros para poder preservar investimento de estrangeiros do mercado brasileiro. Por outro lado, abre para todos nós uma grande oportunidade, que são as captações internacionais. Trazendo essas captações para o mercado brasileiro conseguimos fazer dívidas no mercado internacional de forma mais competitiva.

Em cenários mais adversos, como o atual, é preciso observar todos os detalhes que ampliam as oportunidades do negócio. Deixo como exemplo uma solução para franquias.

O franqueado recolhe impostos sobre toda a base que recebe e, depois, paga à franqueadora, o que gera uma bitributação. Além do mais, muitos franqueadores ainda reclamam de inadimplência no pagamento dos royalties.

A solução, nesse caso, pode ser criar na própria maquininha de cartão e pix um split, de maneira que, quando alguma coisa é paga pelo consumidor no estabelecimento comercial, é possível separar o percentual do royalty do franqueador daquilo que é devido ao franqueado. Com isso, o franqueador reduz o seu grau de inadimplência em relação aos royalties que ele iria receber, reduz o efeito da bitributação do franqueado e, portanto, aumenta a lucratividade dele. Isso é pura tecnologia empregada no processo.

Ou seja, ao invés de falar do aumento de 0,25 ponto na taxa de juros para um cliente, o que se pode é eliminar algumas inconformidades no processo. Faço uma ressalva sobre outros cuidados na emissão do cupom que devem ser tomados, para que seja considerado como válido legalmente.

Outra maneira de amenizar o impacto dos juros é o trabalho de redução de tarifas para os clientes. Em algumas situações, é possível que uma instituição chegue a 100% de redução, isentando o cliente. Temos exemplos de como a adoção de novas tecnologias, aprimoramento dos controles internos e da eficiência operacional, conseguem melhorar as margens da empresa e de seus clientes.

Afinal, se o cliente é visto como o principal investidor, o foco deve ser melhorar constantemente suas margens e com isso ampliar a reciprocidade, aumentando naturalmente a geração de receita num modelo que todos ganham.

Quando falamos de fortalecimento sustentável de uma instituição, visando o crescimento contínuo, a inovação deve ser pautada nos pilares da segurança, eficiência e retorno para a corporação, clientes e consequentemente para a sociedade.

*Eduardo Silva é CEO do Edan Finance Group

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