ISPs serão massacrados se ficarem fora do leilão 5G, prevê CEO da Americanet
A participação dos ISPs no próximo leilão de frequências 5G da Anatel é motivo de disputas, como ficou claro na última consulta pública realizada pela agência. De um lado, grandes operadoras dizem que poderão fazer mais com mais espectro. De outro, as pequenas dizem que poderão conectar o Brasil, desde que o certame traga regras que as incentivem.
Lincoln Oliveira, CEO da Americanet, é taxativo ao dizer que a questão é de vida ou morte para os PPPs, termo usado pela Anatel para classificar os ISPs.
“Seria um massacre as PPPs ficarem sem acesso às frequências 5G”, avaliou durante live realizada pelo Tele.Síntese hoje, 11. O executivo participou do segundo episódio da série Tudo Sobre a 5G, ao lado de Francisco Pinheiro Neto, presidente do conselho da Mob Telecom, sob moderação de Miriam Aquino, diretora da Momento Editorial, e Alex Jucius, da Associação NEO.
Custo do FTTH vs. FWA
A explicação é matemática. Segundo Oliveira, um provedor regional precisa alugar postes a custos mais altos do que as grandes empresas. Além disso, para conectar uma residência com fibra óptica, precisa instalar equipamentos no poste e na casa do cliente. Vai, também, precisar de técnicos especializados. Pelas suas contas, cada novo cliente custa ao provedor R$ 800.
“A Nokia já mostrou um modem 5G, com WiFi integrado, que poderá ser vendido pelas operadoras em lojas. O consumidor compra, conecta-se ao modem por smartphone, escolhe o plano, e estará navegando por WiFi numa rede de 400 Mbps. Sem custo com poste ou maquinário. Em vez do técnico, o consumidor mesmo compra e instala em casa”, compara.
Por esse motivo, o executivo vê como desleal uma competição entre a fibra e a banda larga fixa 5G, caso o espectro seja reservado apenas às grandes. Caso os ISPs entrem na disputa, poderão explorar a 5G de maneira complementar à fibra.
A experiência das grandes mostra, na opinião de Francisco Pinheiro, da Mob Telecom, que os pequenos são fundamentais para cobrir cidades menores. “São 324 cidades com mais de 100 mil habitantes cobertas com 4G de qualidade. Nas outras cidades, menores, o 4G ainda é precário, o 3G funciona bem. Então não dá para pensar em ter três operadoras para desenvolver o 5G no Brasil todo. Quanto mais operadoras participarem, mais rápido será”, afirmou.
4G não é problema
Para Oliveira, o fato de PPPs não terem redes 4G não pode ser visto como um empecilho à entrada no leilão. A Americanet, por exemplo, é provedora de banda larga e tem também operação móvel graças a um acordo de MVNO firmado com a TIM. Pelo contrato, a empresa pode usar a rede LTE da TIM no Brasil todo, e a TIM também pode aproveitar pontos de presença da Americanet para ampliar sua rede móvel.
“A 5G será nacional, vai ter no Brasil todo. Mas onde não tiver 5G, será possível o cliente entrar no roaming 4G, através dessas parcerias”, exemplificou.
A seu ver, reduzir o leilão à participação das grandes operadoras seri um erro que respingaria sobre a competição do mercado de telecom nacional e resultaria em atraso na implantação da tecnologia. “O mercado brasileiro é enorme. São 210 milhões de habitantes. Ter duas, três, quatro empresas apenas para levar 5G para o Brasil inteiro, quanto tempo levaria?”, questionou.
Agilidade
As PPPs, afirma, serão capazes de implantar a 5G no interior do país antes de as grandes operadoras finalizarem suas redes equivalentes nas capitais. E para aqueles que duvidam da capacidade de investimento das pequenas, ele afirma que há fundos de investimento dispostos a bancar a expansão dos ISPs para as redes móveis de quinta geração nas cidades pequenas.
“Uma PPP tem total condição de cobrir uma cidade com 50 mil habitantes. E com parcerias com outras PPPs, será possível cobrir dezenas, centenas de cidades. Não tem PPP querendo ir para a capital. As grandes vão colocar dinheiro nas grandes cidades, as pequenas, nas pequenas cidades”, afirmou.
Francisco Pinheiro, da Mob Telecom, concordou: “As pequenas tem muito mais agilidade, conseguem se desenvolver mais rápido e implantar a rede mais rápido”. E vaticina que, sem a entrada das PPPs, quem perderá será a população. “Quem mais perde se não tiverem condições viáveis para os PPPs entrarem na 5G é o povo. Principalmente quem mais precisa. E lá no futuro vamos continuar um país atrasado”, avaliou.
Lote ideal
Pela minuta do leilão 5G, o espectro de 60 MHz na faixa de 3,3 GHz destinado a pequenos provedores será loteado em oito regiões. São áreas muito grandes para associações como Abrint e Telcomp, que sugeriram em suas contribuições fracionamento por estado ou DDD.
Para Lincoln Oliveira, o tamanho é adequado. A seu ver, os ISPs vão se associar para arrematar os lotes no leilão. “A gente fez estudos e entendemos que estes blocos são completamente adequados para os projetos que estamos colocando para os próximos anos”, falou.
Ele também aprova a possibilidade de os ISPs comprarem as faixas mediante compromisso de investimentos em backhaul. “Todo ano temos orçamento para investir em backhaul, isso cai como uma luva. Essa obrigação, as PPPs já cumprem. Onde vão chegar com 5G, já chegam com fibra”, disse.