Internet das coisas leva fabricante de SIM cards a mudar foco

Oberthur Technologies ampliará esforços no desenvolvimento de software e serviços à medida que o padrão eSIM for adotado por operadoras e fabricantes. Estimativa é de 1 bilhão de eSIMs vendidos em 2020.
eSIM x SIM card oberthur
O eSIM, à esquerda, em três modelos conforme a necessidade de uso (de dispositivos móveis a carros conectados). À direita, as três variantes do SIM card tradicional, que não vem embutido nos aparelhos. Ao contrário do eSIM.

A conexão de bilhões de dispositivos à internet das coisas fez a fabricante de SIM Cards Oberthur Technologies (OT) mudar o foco de atuação. A companhia francesa, fornecedora de chips de segurança para operadoras e bancos, planeja uma virada nos próximos anos, deixando de ser essencialmente uma fabricante para se tornar uma fornecedora de serviços de segurança.

A transformação da companhia vem a reboque do avanço tecnológico proporcionado pelo eSIM – versão do SIM Card feita para vir embarcada de fábrica nos dispositivos que se conectam a redes móveis. “Atualmente, 80% de nossa receita vem dos produtos industriais. Três anos atrás eram mais de 90%. A tendência é nos transformarmos em uma fornecedora de soluções de segurança”, falou a Tele.Síntese Pierre Barrial, vice-presidente executivo e diretor para operadoras móveis da OT.

O executivo prefere não precisar em quanto tempo os serviços devem se tornar a maior fonte de renda da companhia, mas considera a tendência inescapável. “Ainda existem muitas oportunidades com o SIM Card tradicional. O eSIM deve decolar à medida que surgirem os casos de uso”, pondera. A OT tem receita anua

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Pierre Barrial, da OT prevê vendas de 1 bilhão de eSIMs em 2020.

Em 2015, foram vendidos no mundo 5,5 bilhões de SIM Cards. O número deve permanecer praticamente estável até 2020, quando serão comercializados 6 bilhões desses chips, pelas contas de Barrial. O eSIM, em compensação, deixará de ser apenas um produto de nicho, usado por empresas no M2M, para se tornar algo de massa junto ao consumidor final. “Em 2020, serão vendidos 1 bilhão de eSIMs“, prevê. No ano que passou, a OT vendeu 1,2 bilhão de chips, metade SIM cards, e a outra metade, elementos de segurança para diversos fins, como cartões de crédito.

Com 700 empregados no Brasil e planta em Cotia (SP), a fabricante fará investimentos em data center por aqui para entregar os serviços de segurança em pagamentos móveis que o eSIM proporcionará – entre os quais, o Samsung Pay. Ao menos dois grandes clientes, a Samsung e uma operadora, já aderiram ao eSIM, exigindo o uso das plataformas de cadastro de perfil dos usuários e registro over the air dos chips.

A Samsung vai lançar no Brasil o relógio Gear S2, compatível com redes 3G, no país nos próximos meses. A Vivo foi a primeira operadora do país a revender a versão sem eSIM do relógio inteligente, no final do ano.

eSIM
O padrão eSIM não é nenhuma novidade. Usado há pelo menos quatro anos com finalidades específicas, agora começa a ganhar potencial como produto para o consumidor final devido ao desenvolvimento dos dispositivos vestíveis, como os relógios inteligentes. Sua tecnologia vai além do SIM card comum, uma vez que compreende o objeto conectado à internet como parte de uma conjunto de objetos associados a uma única conta de usuário.

Para a fabricante, o eSIM amplia o leque de clientes. A OT passará a fornecer um componente para fabricantes e uma plataforma de gestão over the air para as operadoras. Já o SIM Card tradicional, por exemplo, tem como cliente apenas as operadoras. O primeiro cliente da plataforma da OT de gestão de eSIM, chamado M-Connect, no mundo, é a TeliaSonera, que confirmou hoje a contratação para vender, justamente, o Gear S2. Há duas semanas, a companhia fechou acordo semelhante com a Etisalat, no Egito.

O modelo traz vantagens, como economia para as operadoras em logística de chips. As fabricantes de aparelhos poderão criar modelos mais finos, já que o eSIM é muito menor que o cartão comum. Para o usuário, o diferencial é ter uma conta com vários objetos conectados, em vez de contratar uma linha móvel para cada dispositivo.

Mas há também preocupações para as operadoras ao considerar o produto. De uma hora para outra a competição se acirra. O dono de um aparelho com eSIM tem liberdade de contratar serviços móveis, ou largar uma prestadora em poucos passos, usando um aplicativo no smartphone. “Poderia aumentar o churn, mas do mesmo jeita será mais fácil atrair novos clientes”, analisa Luís Cohen, vice-presidente para operadoras da OT na América Latina.

O padrão eSIM foi desenvolvido em conjunto pelas associadas da GSMA. As operadoras deverão, ainda, atualizar seus sistemas de billing e backoffice para se adequar ao uso do eSIM e faturar um único cliente conectado por múltiplos aparelhos. O Gear S2, primeiro aparelho com a tecnologia, foi anunciado no final de fevereiro, durante o congresso MWC 2016, que aconteceu em Barcelona, na Espanha.

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Rafael Bucco

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