Fusão AT&T e Time Warner acende alerta no mercado

De um lado, mercado financeiro vê aceleração do endividamento da operadora com a oferta de US$ 85,5 pela empresa de mídia. De outro, entraves regulatórios podem onerar o negócio em US$ 10 bilhões. Venda de ativos, inclusive no Brasil e América Latina, podem ser forma de companhia rentabilizar aquisição, transformando-se em OTT.

dinheiro investimento leilão oferta compra aporte capitalO segundo maior grupo de comunicações dos Estados Unidos, AT&T, vai pagar US$ 85,5 bilhões pela Time Warner, empresa dona de um império de produtoras de conteúdos, entre as quais os canais de TV por assinatura CNN, HBO e TNT e os estúdios Warner Bros.

O negócio, no entanto, acendeu um alerta no mercado. No Brasil, a empresa deverá escolher o que priorizar: os ativos da TimeWarner ou da Sky. No entender de advogados ouvidos pelo Tele.Síntese, a Time Warner no país se enquadra na Lei do SeAC, que impõe limites à propriedade cruzada, por produzir conteúdo nacional.

As estimativas apontam para um valor de cerca de US$ 5 bilhões, equivalente a 10% da avaliação da DirecTV na América Latina, para os ativos da Sky por aqui. A venda é inevitável? “Sim, uma vez que o conteúdo é rei. Desinvestir na Sky Brasil faz sentido”, diz Akshay Sharma, analista do Gartner, ao Tele.Síntse.

Com a nova dívida pressionando, todo dinheiro que entrar poderia ser usado para deixar a operadora mais preparada para um futuro em que mídia se confundirá com a internet. Até mesmo a venda de ativos em toda a América Latina pode ser interessante. “Estes ativos podem ser vendidos supondo que a AT&T possa se tornar uma OTT, aproveitando a recente aquisição da QuickPlay”, reforça Akshay.

Finanças
Na bolsa de Nova York, os papéis da tele apresentavam queda nesta tarde, no primeiro dia útil após a oficialização do negócio. Analistas se preocupam com o endividamento. A compra deve ser paga metade com dinheiro, metade com ações. Para conseguir financiar o negócio, a AT&T vai emitir títulos cujos juros devem somar US$ 9 bilhões ao ano a partir de 2018. O endividamento do grupo deve chegar a US$ 170 bilhões após a operação.

O tamanho dessa dívida fez a empresa de análise de crédito Moody’s emitir um alerta, avisando que pode rebaixar a nota dos títulos da AT&T em um ponto. Na visão da agência, a relação EBITDA/dívida da companhia pode atingir 3,5x, quando o ideal seria permanecer abaixo dos 3x, no modelo pro forma, que já simula a união das operações. Números diferentes dos divulgados pela tele, que prevê relação de 2,5x no primeiro ano, caindo nos quatro anos seguintes a 1,8x, beneficiados ainda or US$ 1 bilhão em sinergias.

Além disso, haverá um custo de pelo menos US$ 10 bilhões até que todas as autorizações regulatórias sejam obtidas. A estimativa é que boa pare do fluxo de caixa livre da AT&T acabe comprometido.

O negócio é visto como uma jogada interessante, mas arriscada. “O plano de aquisição é uma estratégia defensiva que dá poder à AT&T moldar a evolução da indústria de TV por assinatura em seu favor. Mas para fazer isso aceitou pagar o preço completo por um negócio que enfrenta mudanças profundas”, analisa a Moody’s.

Em conferência com analistas, os CEOs da AT&T e TimeWarner afirmaram que a fusão deve enfrentar poucos problemas regulatório, ao menos nos Estados Unidos, por ser a segunda fornecedora da primeira. Além disso, o negócio, na visão deles, tende a reduzir preços ao consumidor.

[Esta reportagem foi atualizada Às 16h25]

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Rafael Bucco

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