Desabastecimento de componentes afeta 70% das indústrias eletrônicas locais

Dados atualizados do setor indicam que a crise causada pelo novo coronavírus continua a escalar. Fabricantes podem ficar sem produtos acabados caso fornecimento de insumos não volte ao normal em 47 dias.

Os reflexos da epidemia de novo coronavírus sobre a cadeia de suprimentos da indústria brasileira ganharam maior escala na última semana. Nova sondagem realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) revela que saltou para 70% a quantidade de fabricantes do setor com problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos vindos da China.

Na sondagem divulgada no dia 05 de fevereiro de 2020, esse percentual havia atingido 52% e subiu para 57% na segunda pesquisa (20 de fevereiro).

Foram ouvidas 50 indústrias do setor. O que significa dizer que 35 delas apresentam problemas de abastecimento. A situação é mais grave entre os fabricantes de celulares e computadores, diz a entidade.

A crise de falta de componentes é resultante da paralisação de plantas na China e também da redução de atividades logísticas no país asiático, decorrente da epidemia do vírus Covid-19.

A Abinee afirma que três fabricantes (6% das pesquisadas) já operam com paralisação parcial das fábricas brasileiras devido à falta de materiais, componentes ou insumos. A entidade não diz quais são as fabricantes, mas segundo sindicatos de trabalhadores, as linhas de produção afetadas foram da Motorola (Flextronics), da LG e da Samsung.

O número de paralisações deve aumentar, alerta no entanto a Abinee. Pelas contas da entidade, ao menos 7 fábricas podem interromper a produção de forma parcial “em breve”. Já 48% (24 indústrias) não programaram nenhuma paralisação.

Produção menor

Os problemas terão impacto direto no desempenho das empresas neste ano. O levantamento aponta que 21% das empresas esperam um produção menor no primeiro trimestre do ano por causa da crise causada pelo Covid-19. A produção das empresas que se dizem afetadas deverá ser 31% menor que no mesmo período do ano passado. Na sondagem anterior, do final de fevereiro, o impacto no desempenho previsto seria inferior, de 22%.

Para 48% das empresas será possível manter a produção estimada para o 1º trimestre deste ano. E para outros 31% dos entrevistados ainda não é possível dar essa indicação.

Neste levantamento a Abinee constata que as empresas começam a admitir que, caso a crise se prolongue, poderá haver falhar na entrega do produto final para os clientes, o que ainda não acontece. A entidade diz que 54% das fabricantes que deixarão de cumprir as entregas caso o desabastecimento perdure mais 47 dias.

Também foi coletada previsão sobre a recuperação após o fim da crise. As fábricas alegaram que deve demorar 67 dias para que a produção retorne ao normal após a retomada dos embarques de materiais, componentes e insumos da China.

Conforme do IBGE e do SECEX/MDIC, do total de insumos do setor (matérias-primas e componentes) cerca de 60% são importados e 40% nacionais. A China é a principal origem das importações de componentes do Brasil, totalizando US$ 7,5 bilhões em 2019, o que representou 42% do total importado. Isso significa dizer que somente esse país foi responsável por 25% do total de insumos do setor (nacionais + importados).

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Rafael Bucco

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