Consolidações de teles e ISPs prometem agitar 2020

Oi, Copel, Sercomtel, Telebras, ISPs são alvos do movimento. Continuidade da expansão das redes de fibra óptica pelo interior do Brasil manterá o apetite de investidores por negócios na área.

A venda da operação de celular da Oi não é o único movimento de consolidação no mercado de telecomunicações brasileiro esperado para o próximo ano. Estão também no radar dos analistas e investidores e venda da Copel Telecom, da Telebras e de muitos ISPs (provedores de internet). E toda essa movimentação tem uma razão: o fortalecimento das ofertas de banda larga por fibra óptica, que cresce a taxas chinesas no Brasil, mas ainda tem muito o que avançar.

Conforme os dados da Anatel, em outubro de  2019, o Brasil tinha 32,7 milhões de residências com banda larga.  As quatro  teles – Claro, Vivo, Oi e TIM – eram responsáveis por 22,2 milhões desses acessos, e os ISPs, 10,5 milhões de linhas vendidas. Se esses números demonstram que no próximo ano os acessos em banda larga fixa ultrapassarão os longevos telefones fixos (a base em outubro era de 34,4 milhões) eles também confirmam as razões para os  investimentos que grupos de todos os tamanhos estão fazendo para avançar com as redes de fibra óptica. Segundo a Anatel, esses acessos não cobrem ainda a metade das residências brasileiras (47% de densidade), o que confirma o enorme mercado que ainda precisa ser atendido.

Além da ausência de rede de banda larga em mais da metade dos lares brasileiros, há ainda uma grande base legada – acessos com os antigos ADSL e rádios de baixa capacidade – de mais de 20 milhões de linhas que precisam ser substituídas.

As grandes operadoras, depois de uma certa letargia que permitiu o ingresso e a organização de milhares de pequenas empresas na oferta do serviço – estão reagindo na mesma proporção de seu tamanho. A Claro há dois anos anunciou a expansão de sua rede para novas cidades, já com a rede de FTTH, e hoje conta com cerca de 6  milhões de acessos com mais de 34 Mbps. A Vivo, em pouco tempo, acumulou em sua base nada menos do que 2,5 milhões de acessos em fibra óptica e a Oi, com seus planos de cabear 16 milhões de casas até o final do próximo ano, apresenta crescimento consistente nas linhas com FTTH, alcançando quase a casa do milhão ao final do ano.

Mas são os ISPs que demonstram o maior crescimento com as redes avançadas. Alguns analistas estimam que até agosto do próximo ano, por causa dessas operadoras menores, não haverá um único município brasileiro sem uma rede de FTTH. E esse movimento se justifica, explica Rodrigo Leite, sócio da Advisia, porque a demanda por banda larga de qualidade, virá de dois polos – das casas e do 5G, que precisa da capilaridade das redes de fibra para instalar as milhares de antenas. “Temos dois mercados para a mesma rede de fibra: o de 5G e o de banda larga residencial”, explica.

Os compradores

Se o reposicionamento da Oi ficará no radar dos grandes players mundiais, da justiça que autorizou a Recuperação Judicial, das agências de defesa da concorrência e de regulação setorial, no segmento dos provedores de banda larga, fusões e aquisições deverão ocorrer já no primeiro semestre, e novos agentes já estão prontos para entrar no mercado.

Segundo Leite, existem pelo menos 25 empresas consolidadoras nesse segmento. Quatro delas contam com recursos de fundos de private equity que já compraram várias ISPs. Mas segundo o consultor, novos fundos de investimentos já aprovaram a entrada no setor, e ingressam comprando empresas.

Entre os fundos de equity que devem continuar as aquisições estão na lista o Warburg Pincus, que tem uma carteira global de mais de US$ 60 bilhões e ingressou este ano no capital da AmericaNet. Também se mantém no topo dessa lista o Vinci Partners, gestor brasileiro com mais de R$ 20 bilhões, de ex-sócios do banco Pactual, e que formou a operadora Vero. Também com muita sede está o EB Capital, que está em forte expansão através de sua operadora, a Sumicity. E por fim, o grupo Acon, que adquiriu este ano seis operadores, mantém-se em negociações com outros operadores regionais.

E os consolidadores, cada qual em sua estratégia, estão também bem ativos. A Mob Telecom está cada vez mais abrangente e, recentemente, lançou debentures, em uma demonstração de que tem muito apetite para expansão. A Wirelink continua  ampliando sua presença e a líder, Brisanet, resolveu adotar uma postura ainda mais agressiva: deixou os sertões do Nordeste para iniciar a competição com as grandes teles nas grandes cidades. Já vende banda larga em João Pessoa e Natal.

“A grande fronteira de crescimento passou a ser as grandes cidades. Os ISPs já estão entrando nos municípios com mais de 300 mil habitantes, e essa estratégia vai se adensar em 2020”, prevê Leite.

Engrossam essa lista de “consolidadores” operadoras como MHNet; Valenet, Unifique, Desktop que deverão estar agitadas no próximo ano. Para Leite, em quatro anos é possível que o país tenha pelo menos seis ou sete grandes players de banda larga. “Em pouco tempo, pelo menos três ou quatro ISPs terão mais de um milhão de clientes de banda larga”, vaticina.

Torreiros

Outro agente que deverá fazer aquisições no Brasil são os conhecidos por “torreiros”, ou os grupos que compraram as torres das operadoras de celular. Entre eles, a American Tower, que comprou a Cemig Telecom, está bastante ativa na oferta de serviços para as telcos e para outras corporações. A Fênix também não fica atrás, e também dá sinais de mais expansão.

Os negócios vão acontecer nos mais variados modelos, mercados, segmentos e tecnologias. A velocidade da expansão vai continuar a depender das modelagens regulatórias, das políticas fiscais e das alternativas tecnológicas. Mas somente as políticas públicas poderão assegurar que não se reproduza a desigualdade digital tal qual é hoje a desigualdade de renda do país.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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