Como o digital pode potencializar a agricultura regenerativa e de baixo carbono
De acordo com o mais recente balanço do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), referente a 2022, a agricultura representa 27% da emissão de CO2e. A maior parcela está na conta das mudanças do uso da terra e florestas, com 48%. É neste cenário que as práticas sustentáveis crescem como objeto de transformação digital no campo.
O assunto foi debatido por quem trabalha com as soluções de agricultura regenerativa e de baixo carbono em painel do AGROtic, evento realizado pelo Tele.Síntese em parceria com a ESALQtec, nesta quinta-feira, 21.
As práticas são baseadas em seis pilares, como explica o líder de Desenvolvimento do Negócio de Carbono da Bayer Latam, Felipe Albuquerque: “conservação de água, preservação da biodiversidade, mitigação dos efeitos climáticos, melhoria da saúde do solo, melhoria socioambiental e, por último, a melhora da produtividade”.
No entanto, embora esteja elencada por último, é a produtividade que impulsiona a adoção da tecnologia pelo mercado. A geração e análise de dados vem auxiliando esse processo, mostrando na prática os resultados. O primeiro deles é a desmistificação, reforçando que a produtividade anda junto com a saúde do solo.
Albuquerque conta que um levantamento realizado pela Bayer com 2 mil agricultores, envolvendo mais de 220 mil hectares, teve como objetivo medir o carbono armazenado no solo ao longo dos anos.
“Em alguns casos, tem mais [proteção] do carbono na área da agricultura do que na mata preservada pelo agricultor. E aí a gente vai ver essa área agricultada, é onde há um sequenciamento de práticas de agricultura regenerativa, rotação, usando o máximo de tecnologia disponível […] Então, indiretamente, quanto mais a gente produz, mais a gente ajuda aquele ambiente a ser restaurado”, afirma Alburquerque.
Entre os projetos elaborados pela Bayer, o executivo destaca o PRO Carbono Commodities, que calcula o quanto se emite para produzir, mas também o quanto se sequestra. “Temos visto números incríveis em comparação ao que se tinha conhecimento na academia. Quando a gente vai para a prática, com dados primários, são de 60% a 70% abaixo do esperado para uma produção de tonelada”, disse Alburquerque.
O desenvolvimento de tecnologia para análise do solo é a principal especialidade de outra empresa, a Quanticum. O diretor Executivo, Diego Siqueira, ressalta a relevância do monitoramento.
“Existem mais de 200 tipos de argila e elas impactam na proteção do carbono. Tem áreas que a gente já sabe, em projetos com várias empresas, que quando muda esse tipo de argila que se forma nas cidades ou fazendas, a capacidade de proteção do carbono muda de 20% até 60% em 3 anos”, conta.
Aplicações
No mesmo sentido, Marcos Ferraz, presidente da AsBraAP (Associação Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital) ressalta que as técnicas de agricultura de precisão beneficiam a sociedade como um todo. “Estamos dosando melhor. Antes, para adubar, eram duas enxadadas e uma mão de adubo, hoje eu tenho ferramentas para medir exatamente o quanto eu preciso, qual é a dose, então quando eu sou mais preciso eu erro menos. Se eu erro menos, eu desperdiço menos, e a minha pegada de carbono vai ficar cada vez melhor”, diz.
A exemplo das ferramentas que podem ser usadas, Ferraz cita a pulverização inteligente, que utiliza sensores para determinar onde exatamente deve-se aplicar defensivos. “Por ano, a gente gera uma economia de pelo menos 1 milhão de litros de produtos químicos com essas máquinas e são muito poucas as empresas que usam esse tipo de maquinário”, afirma.
Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP complementa. “Hoje o fertilizante, sobretudo o nitrogenado,, tem um impacto considerável. Mas graças à modernidade de fertilizantes – com liberação controlada, inibidores, encapsulamento, minerais orgânicos e uma série de tecnologias – hoje a gente consegue quantificar e verificar a redução de emissão de gases do efeito estufa, notadamente um gás que chama óxido nitroso, que tem um potencial de aquecimento global quase 300 vezes maior que CO2. É redução em função da melhor aplicação. Não é ser contra fertilizante, ou a produção animal é fazer isso de forma adequada”, defende.