Chuvas no Sul destroem infraestrutura de rede. Operadoras liberam o roaming.
As chuvas que afligem o Sul do país nesta semana estão causando estragos à população e a sua capacidade de se conectar em busca de socorro. Imagens às quais o Tele.Síntese teve acesso mostram que a água chegou à altura da fibra em postes, inundou equipamentos de rede e impede a manutenção do que foi danificado. Diante dos alagamentos, os técnicos utilizam até jet ski para mapear os estragos, mas ainda sem ter muitas opções de ação, em função da persistência das enchentes.
A situação é de calamidade, decretada pelo governo do Rio Grande Sul. Segundo dados da defesa civil do estado, 147 cidades sofrem com enchentes, 4,6 mil pessoas estão em abrigos, 9,9 mil desalojados, e ao menos 67,8 mil foram afetados negativamente pelo evento climático. Há 21 pessoas desaparecidas e 13 mortes confirmadas. A previsão é de mais chuvas.
Em Bento Gonçalves, a instabilidade derrubou os telefones da prefeitura, que explica a situação em seu site. Entre a cidade e a vizinha Cotiporá fica uma barragem, que se rompeu, ampliando a inundação.
A Anatel trabalha com um grupo do qual participam representantes das empresas, a fim de compreender a extensão dos danos – que afetam tanto provedores de internet fixa locais, como grandes operadoras de telefonia móvel. Um boletim sobre a amplitude dos problemas revela que:
Dos 497 municípios totais no Rio Grande do Sul, em 147 há afetação, mas ao menos alguma prestadora com cobertura ativa. Em 8 cidades há afetação total, ou seja, nenhuma operadora disponível: Agudo, Arroio do Meio, Bom Princípio, Capitão, Dona Francisca, Marques de Souza, Muçum e Santa Clara do Sul.
Em Santa Catarina há 295 municípios. Destes, 42 com afetação parcial, onde há ao menos alguma prestadora com cobertura ativa. Nenhum 100% afetado.
Roaming liberado
A fim de reduzir os problemas de conectividade da população, as três operadoras Claro, TIM e Vivo liberaram o roaming entre si. Ou seja, clientes de uma poderão utilizar a rede da outra, automaticamente, pois há setores onde um dos sinais ainda se sustenta.
“As operadoras de telecomunicações seguem atuando para tentar minimizar os impactos causados pelas fortes chuvas que ainda atingem municípios do Rio Grande do Sul. As prestadoras acompanham de perto a situação climática, que afeta o fornecimento de energia elétrica e a liberação de estradas, para retomar com segurança o trabalho de restabelecimento dos serviços prejudicados. Como forma de minimizar os impactos para a população atingida, as associadas da Conexis Brasil Digital que atuam no estado habilitaram automaticamente os clientes para uso da rede de qualquer uma das operadoras móveis”, diz a entidade, em nota.
Sem ter como chegar
A Vero, uma das empresas que teve equipamentos inundados, explica a situação. Segundo Rodrigo Rescia, Diretor de Engenharia e Serviços ao Cliente da Vero Internet, o desastre atual é diferente do ciclone que afetou o Rio Grande Sul em 2023. Nos eventos passados, diz, os impactos afetaram postes por conta dos fortes ventos. Agora, o maior problema são os alagamentos.
“Em termos práticos, esta condição impacta as redes subterrâneas, os pontos de presença (POPs) e os acessos às regiões alagadas – alguns sites foram inundados ou estão completamente sem energia, além das estradas para locomoção de equipes técnicas, que estão sem condição de tráfego não permitindo o acesso para manutenção”, observa.
Segundo ele, apesar disso, o backbone da Vero vem se comportando bem. “Tivemos problemas pontuais em São Sebastião do Caí e em Ijuí durante a madrugada, período de baixo tráfego. Houve uma de dupla falha com dois provedores, que prontamente se mobilizaram para a restauração das condições da rede. Um deles sanou a questão ainda de madrugada e o outro deverá finalizar os reparos ainda hoje”, conta.
O engenheiro diz que há um clima muito forte de cooperação entre os provedores da região. A Vero também tem mobilizado pessoal na doação de itens essenciais indicados pela Defesa Civil, como colchões, cobertores, lençóis e toalhas em benefício dos desalojados.
O grupo Unifique está deslocando equipes técnicas de Santa Catarina, mas o deslocamento esbarra nas vias interditadas.
“Estes colaboradores estarão empenhados na reconstrução de redes de fibra óptica, no atendimento às residências dos clientes e no reestabelecimento de pontos operacionais danificados pela catástrofe”, informa em comunicado.
Telebras
A fim de lidar com a falta de conectividade causada pelas chuvas em pontos do Rio Grande do Sul, a Telebras entregou antenas de sua banda larga via satélite. São 14 terminais satelitais transportáveis (T3SAT), já nas mãos do Comando Militar do Sul e da Defesa Civil, segundo o Ministério das Comunicações. Os aparelhos ficarão à disposição das equipes de resgate no atendimento de moradores ilhados.
Profissionais da Telebras e da Defesa Civil estadual estão avaliando as rotas de acesso às localidades mais atingidas nas cidades de Santa Maria, Lajeado e Estrela, que se encontram com acesso interrompido, devido a alagamentos, transbordamento de rios, deslizamentos ou outras consequências das chuvas e da cheia de rios.