Brasil vai mudar de posição na WRC-23 e apoiar faixa de 6GHz para o celular?

A Anatel havia decidido se abster da votação sobre a faixa de 6GHz na Conferência. Mas o MCom informa em seu site que uma das propostas brasileiras é destinar metade desse espectro para a telefonia celular. Só que aqui a agência já havia destinado todo o espectro para o WiFi.
Delegação do MCom na Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23) | Foto: Kayo Sousa/MCom
Delegação do MCom na Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23) | Foto: Kayo Sousa/MCom

Release divulgado hoje, 20, pelo Ministério das Comunicações, sobre a WRC-23, ou a Conferência Mundial de Radiocomunicação da UIT, que acontece em Dubai, provocou um frisson no mercado. Será ato falho? Ou o Brasil estaria mesmo mudando sua posição? O comunicado que está publicado no site do Ministério lista as principais propostas brasileiras para a Conferência. E, entre as propostas elencadas, há uma singela afirmação:

– Identificação da faixa de 6425 – 7125 MHz para IMT.

Traduzindo em miúdos: o site oficial do Ministério das Comunicações está afirmando que o Brasil, na WRC-23, vai defender a destinação de 700 MHz da faixa de 6 GHz para a telefonia celular ( o IMT é o padrão das tecnologias móveis a partir do 3G). Se essa comunicação não for um ato falho, significa que o Brasil mudou de posição.

Isso porque, a Anatel já decidiu destinar TODA a faixa de 6 GHz, que começa em 5.925 MHz e vai até 7.245 MHz para outra tecnologia e outro serviço. A agência brasileira destinou todo o espectro para o WiFi, que é uma tecnologia sem-fio FIXA, e não móvel, como o IMT.

A decisão da Anatel tomada há dois anos colocou o Brasil ao lado dos Estados Unidos, que por sinal perderam o timing na disputa da tecnologia móvel, mas querem se reerguer no segmento de telecom via tecnologia fixa, não licenciada. Mas essa decisão, embora receba o apoio da indústria norte-americana e das grandes empresas de internet, como Google e Facebook e dos provedores regionais de internet brasileiros, está sendo severamente questionada pelas empresas que oferecem o serviço de telefonia celular no Brasil e no mundo, e por outros importantes blocos econômicos, como Europa e China.

Para uma importante parcela da indústria de todo mundo, se essa banda for destinada integralmente para o WiFi, as próximas gerações da telefonia móvel – como a 6G – ficarão fortemente comprometidas. E esse debate será um dos mais intensos na Conferência deste ano. A proposta dos diferentes países pró-celular é para que esse espectro seja dividido em dois: a faixa mais baixa fique destinada ao WiFi e a mais alta fique reservada ao celular.

Abstenção

Embora o regulador nacional tenha decidido pela destinação integral do espectro para o WiFi 6E,  a Anatel havia decidido que na WRC-23 o Brasil  vai se abster dessa votação. O que é um sinal mais favorável ao segmento da telefonia móvel, pois será um voto a menos para o WiFi. E o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, disse em algumas ocasiões que não vê problema em a Anatel alterar sua decisão, se considerar que o serviço celular irá mesmo precisar dessa banda.

Por isso, a nota do Ministério das Comunicações agitou o mercado.

Procurado pela reportagem, até o fechamento desta edição, o Ministério ainda não tinha se manifestado.

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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