Blu365 e QueroQuitar buscam mais recursos para acelerar crescimento
A pandemia teve um impacto direto no mercado de recuperação de dívida. A crise econômica só piorou a situação já dramática da inadimplência no Brasil. De acordo com o Banco Central, o endividamento das famílias – relação entre o estoque de dívida das famílias com o SFN e a Massa Salarial Ampliada Disponível – atingiu 53,4% em janeiro. O comprometimento mensal de renda das famílias – relação entre o valor dos pagamentos mensais esperados para o serviço da dívida (juros e amortizações) e a massa salarial – foi a 30,4%. Já a inadimplência foi de 11,5% no cheque especial, 30,8% no rotativo dos cartões de crédito e 5,3% no parcelado.
Duas das principais fintechs que atuam neste mercado, a Blu365 e a QueroQuitar passam por novas rodadas de captação de investimento para suportar o forte crescimento, já que ambas já estão na fase de scale up (crescimento acelerado).
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Alexandre Lara, engenheiro de computação fundador da Blu365 ao lado do estatístico Paulo de Tarso, diz que, a partir de dezembro, após o fim do auxílio emergencial, houve uma redução na capacidade de pagamento das pessoas com a restrição do orçamento familiar, desemprego e inflação, cenário da atual conjuntura econômica. As plataformas de negociação entram como uma opção mais amigável e acessível para o devedor quitar seus débitos; e como uma alternativa de recuperação de crédito para diferentes negócios – bancos, utilities, operadoras, varejo.
“As negociações na plataforma estão mais demoradas e a frequência de pagamentos diminuiu. Mas, de modo geral, do ponto de vista das empresas, cada vez mais as plataformas são uma alternativa válida e bastante pertinente para o momento. As pessoas é que vão atrás para negociar suas dívidas, devido à forma como nos posicionamos, compreendendo suas dores. Em 2020, crescemos 20%”, diz Lara.
Ele informa que a Blu365 tem em suas bases de dados mais de 55 milhões de CPFs para os quais pode oferecer negociação, e realiza mais de 200 mil reuniões de negociação por mês. “Temos quase R$ 65 bilhões em ativos de dívida. De cada 100 pessoas que nos procuram temos uma taxa de 14 negociações bem-sucedidas”, revela Lara.
Grandes redes de varejo
Entre os seus clientes estão Pernambucanas, Renner, Magalu, Marisa, Ponto Frio e Casas Bahia; as financeiras regionais incluem a Forte Brasil, Tricard e PortoCred; e operadoras como Claro, Vivo e Oi; em energia a empresa atende a CPFL; além de Avon, Banco BMG, BV, Ipanema, Porto Seguro Cartões e Credsystem.
A Blu365, recebeu o primeiro aporte em 2016, de valor não revelado, do fundo de investimento Monashees. Em janeiro deste ano, uma rodada reuniu a KPTL, a Distrito, e a Plug and Play. O valor não é divulgado, mas é robusto o suficiente para ajudar a empresa iniciar uma nova operação de compra de carteiras. A rodada atual em andamento também vai alavancar esta operação.
“Algumas empresas nos procuraram para nos pedir um adiantamento da carteira de inadimplentes, uma espécie de recebível não performado – non performing loans (NPL) no jargão do mercado. Desde o ano passado, a Blu365 compra os direitos creditórios dessas carteiras, um movimento que nos permitiu crescer bastante, ajudando empresas médias com ativos futuros a receber que ajudamos a monetizar”, explica Lara. Ele destaca que o grande diferencial da empresa é a modelagem estatística, e posiciona a fintech como uma empresa de tecnologia.
“Temos quase 100 modelos de machine learning para precificar, pagar e executar com retorno acima de 20% ao ano. Já temos R$ 150 milhões em carteiras e nossa meta é comprar R$ 1,5 bilhão de valor de face de carteiras em 12 a 15 meses.”, anuncia o fundador da Bu365. Ele também credita o sucesso à forma de se relacionar e a empatia com a situação do devedor. Para reforçar essa atuação, a empresa vem agregando educação financeira e indicando crédito de menor custo para quitação de dívidas por meio de parceiros como a EasyCrédito.
Quero Quitar
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A QueroQuitar é uma startup na fase de crescimento acelerado (scale up) muito premiada (inclusive pelo Anuário Tele.Síntese) e que obteve aporte inicial de investidor anjo e das aceleradoras Waira, da Telefônica, e 500Startups, do Vale do Silício. Depois recebeu investimento seed de R$ 1 milhão do fundo BRStartups, encabeçado pela Microsoft. Desde janeiro, a empresa está com uma rodada aberta de Série A – que pode ir de R$ 8 milhões a R$ 20 milhões.
Criada em 2013, por Marc Lahoud, Artur Zular e Alencastro José Santos Silva, a QueroQuitar foi uma pioneira neste mercado, tendo passado pelo programa InovaBra, do Bradesco, com o qual iniciou as operações com uma prova de conceito, atendendo exclusivamente ao banco entre 2015 e 2016. Em junho de 2016, foi para o mercado com um modelo de negócio inovador e conquistando outros clientes como o Santander, Porto Seguro, BV, BMG, Algar, Itapeva.
“O mercado total é de 64 milhões de pessoas e 5,6 milhões de empresas negativadas, ou seja, 90% são pessoas físicas. A QueroQuitar já atua com volume de dívidas de 55 milhões de devedores e R$ 70 bilhões em carteira. Criamos um mercado em que empresas e pessoas podem negociar ao menos uma dívida. A taxa de sucesso depende de cada credor e do tempo da dívida”, diz Marc Lahoud, CEO da QueroQuita.
Ele observa que a pandemia trouxe uma dinâmica diferente na conversa com o devedor. Houve uma mudança de comportamento, porque as pessoas estão mais em casa, com menores gastos no dia a dia como e com uma maior consciência do orçamento familiar.
“O próprio auxílio emergencial, recebido por até mais de uma pessoa na família, ajudou a equilibrar o orçamento e acabou organizando as finanças a ponto de permitir uma maior quitação de dívidas neste período. Atualmente, as empresas estão concedendo crédito com mais rigor o que limita o crescimento da inadimplência”, analisa Lahoud. Ele destaca ainda as inciativas de educação financeira e programas como o “Quero Renda” para ajudar a resgatar os devedores.
“Um dos fundadores da QueroQuitar, Artur Zular, é um behaviorista, que conhece profundamente o quanto impacta na vida da pessoa o fato de estar negativada. Isso traz uma série de desarranjos, não só familiar, mas também psicológicos. Sabemos que a dor que a gente trata é imensa na vida do brasileiro “, conclui Lahoud.