Baigorri assume condução do acordo Winity-Vivo e decisão pode ser adiada

O presidente da Anatel já dialoga com os diferentes players do setor em busca de uma solução. Mas cresce a impressão de que, quaisquer que sejam as restrições ao acordo, haverá judicialização.
Carlos Baigorri, presidente da Anatel. Crédito- Vinicius Loures, Agência Câmara.
Presidente da Anatel, Carlos Baigorri | Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

A Anatel não deverá concluir amanhã, 1º de setembro, a análise e julgamento do acordo Winity-Vivo, cuja reunião do Conselho Diretor está marcada para as 15 horas. Isso porque o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, assumiu a condução do processo e passou a dialogar com todos os stakeholders do setor na busca de uma solução e deverá pedir vistas do processo para elaborar sua proposta.

O relator do acordo, conselheiro Alexandre Freire, deverá, na reunião, ler seu voto de mais de 200 páginas, que tratam não apenas da proposta das duas empresas, mas das justificativas e razões legais para ter pedido que as duas operadoras fizessem uma autocomposição, de maneira a tornar viável a aprovação do acordo. O problema, contudo, para diferentes agentes do mercado diretamente e indiretamente afetados por esse acordo, é que até as vésperas da reunião não se tinha conhecimento sobre uma possível nova proposta por parte da Winity e Vivo, e tão pouco se Freire teria pelo menos buscado ouvir todos os lados.

Assim, o presidente da Anatel resolveu desamarrar esse nó. A primeira iniciativa de Baigorri nessa direção foi a de dialogar com dirigentes de todas as empresas. Baigorri chegou a pedir que cada uma das entidades (entre elas, também as operadoras nacionais, além das operadoras regionais que compraram frequência do 5G) apresentassem suas preocupações, e até mesmo propostas de “remédios”, ou restrições, que poderiam ser estabelecidas pela Anatel, para avalizar o acordo Winity-Vivo.

Mas a avaliação de muitos do mercado é que os remédios sugeridos (e em estudo pela Anatel), que poderiam deixar o regulador mais confortável com a decisão de liberar o acordo de compartilhamento do espectro de 700 MHz e infraestrutura das torres de celular entre Winity e Vivo, farão grandes alterações à proposta original das duas empresas, o que tenderá à judicialização de todo o processo.

Guerra de pareceres

Os dois últimos pareceres divulgados por entidades contrárias ao acordo – pela Associação NEO (que representa médias empresas de telecomunicações ) e pela Abrintel (que representa as grandes empresas de torres) estão repercutindo bastante. Os dois pareceres – o primeiro do jurista Floriano Marques e o segundo do ex-ministro do STF, Marco Aurélio Mello – usam a forte palavra “fraude” para classificar o acordo firmado.

O ex-ministro do Supremo vai ainda mais longe, e a afirmar que a aprovação do acordo  Winity -Vivo poderá provocar ações judiciais não apenas contra o Estado, mas também contra os dirigentes, pessoas físicas que porventura o tenham aprovado.

Na avaliação dos dois juristas, a Vivo não poderia usar a frequência comprada em leilão pela Winity, porque o edital proibia a compra, pelas grandes operadoras, da faixa de 700 MHz. Mesmo com os argumentos apresentados pelas duas empresas, de que não haveria qualquer afronta ao edital, pois ele liberava a participação das grandes operadoras caso esse espectro não fosse vendido no primeiro lote, e porque a Vivo só estará usando a frequência em caráter secundário (sem preferência) em pouco mais de mil cidades, os dois foram bastante taxativos em seus pareceres contra essa iniciativa.

Avatar photo

Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
[email protected]

Artigos: 2294