Anatel avalia migrar a TVRO para a Banda Ku, diz seu presidente

Ao participar da primeira live da série Tudo Sobre 5G, organizada pelo Tele.Síntese, o presidente da Anatel, Leonardo de Morais, contou que integrantes da agência não estão convencidos de que é possível a convivência entre a 5G em 3,5GHz e a TV aberta satelital, e aguarda testes de campo com novos LNBFs.

O presidente da Anatel, Leonardo de Morais, afirmou nesta sexta-feira, 8, que os membros da agência ainda não estão convencidos de que as soluções propostas para convivência do celular em 3,5 GHz com a TV aberta por satélite (TVRO) seja adequada.

Ao participar da primeira live da série “Tudo Sobre 5G”, realizada pelo Tele.Síntese, o executivo ressaltou que a decisão definitiva só será tomada com a certeza de que permita o cumprimento da política pública estipulada pelo governo. Em portaria, o MCTIC determinou que é preciso preservar a capacidade dos usuários de TVRO de continuarem a usar o sistema. As condições para isso farão parte do próximo edital de frequências da agência, ainda a ser publicado.

“Até o momento, realizamos testes, pré-testes, e não estamos convencidos que as soluções disponíveis são suficientes”, afirmou na live. No encontro virtual, ele conversou com a diretora da Momento Editorial, Miriam Aquino, e Ari Lopes, gerente sênior para Américas da OMDIA, novo nome da consultoria Ovum.

Novos LNBFs chegam no fim de maio

Morais afirmou que a agência vem trabalhando com os fabricantes de equipamentos e colaborando para o desenvolvimento dos LNBFs que permitiriam a convivência entre TVRO e o IMT-2020 em 3,5 GHz. LNBF é o hardware colocado na ponta da parabólica que capta os sinais.

Esse trabalho sofreu atrasos em função da crise da Covid-19, uma vez o isolamento levou à postergação dos testes de campo. Ainda assim, uma leva de LNBFs reconfigurados para lidar com a convivência chegará ao país no final de maio, contou. Do que se tem até agora, nenhum equipamento apresentou desempenho que a Anatel considere satisfatório.

“Por isso não descartamos a solução via banda Ku. Pelo contrário. Enquanto a solução de convivência não se mostra adequada, a área técnica trabalha também com opção de [migração dos canais de TVRO para] banda Ku”, afirmou Morais.

Impacto financeiro

Morais ressaltou que a decisão final ainda será tomada, e questões fundamentais vão se impor. A grande pergunta é quanto custaria a migração dos canais em TVRO para a banda Ku. Essa medida exigiria aportes para a migração das ocupantes da banda C a frequências mais altas, além da distribuição de kits com decoders e antenas para usuários.

Cálculos do SindiTelebrasil, que representa as operadoras móveis, apontam que a migração para banda Ku é mais custosa do que se chegar a uma solução de convivência.

“É preciso ter em mente a conta que essa opção [migração para banda Ku] impõe. A consequência de um custo mais alto pode ser redução nos investimentos [das operadoras em redes 5G]. A decisão entre migração e mitigação ainda não foi tomada”, ressaltou Morais.

Por fim, ele frisou que a escolha será feita após a conclusão dos testes de convivência com os novos LNBFs. “Temos o compromisso de realizar os testes de campo para tomar essa decisão. A pandemia colocou alguns óbices em relação a esses testes. Ia ser preciso mais um mês pelo menos. Em paralelo fizemos simulações computacionais, mas não vamos abdicar de testes de campo”, afirmou o presidente da agência.

Bande guarda

Morais também afirmou que mesmo a adição de mais 100 MHz de espetro na faixa de 3,5 GHz para uso das operadoras móveis precisa de reavaliação. “A partir do momento que incluímos os 100 MHz adicionais, tivemos problemas”, disse.

Este espectro adicional invade a banda C estendida, e vai exigir a migração de serviços fixos de satélites para frequência mais alta dentro da banda C. Isso terá um custo, que empresas de satélite querem ver indenizados.

“Alguns operadores do setor [de satélite] têm sido contundentes em relação principalmente ao ressarcimento. Superada a questão do ressarcimento, ainda teríamos que garantir a convivência com os serviços fixos satelitais. Aí, nesse sentido, pode ser que precisamos de uma banda de guarda de 120 MHz”, afirmou.

A minuta do edital do leilão colocada em consulta pública previa 400 MHz disponíveis para o IMT entre 3,3 GHz e 3,7 GHz. Com a banda de guarda maior, as operadoras móveis poderão arrematar 380 MHz. “O setor do IMT se manifestou disse que estava tudo bem encaminhado com o setor satelital, mas não parece pelo que vi das contribuições”, apontou.

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Rafael Bucco

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