A órbita brasileira se ilumina

Empresas iniciam a operação de novos satélites em posições orbitais brasileiras, ampliam a oferta de dados e aquecem a competição.

[O Tele.Síntese está publicando semanalmente as reportagens presentes no Anuário Tele.Síntese de Inovação 2018. Abaixo, um panorama da competição no mercado satelital.]

A órbita brasileira se ilumina

A competição no mercado de satélites brasileiro nunca esteve tão aquecida. Nada menos que seis equipamentos de última geração e alta capacidade entraram ou entrarão em operação no período de 2017-2018. Voltando-se dois anos no tempo, o número de lançamentos aumenta para oito naves cobrindo não apenas o mercado local, como também América Latina, Caribe, América do Norte, Europa e África.

Juntos, todos os novos satélites acrescentam mais de 100 Gbps de capacidade à banda Ka sobre o país e consumiram cerca de US$ 2,1 bilhões em investimentos, de acordo com projeções do SindiSat. Mas há espaço para todos?

Para a Star One, do grupo América Móvil, a resposta é um evidente sim. A empresa aposta tanto no mercado brasileiro que colocou um satélite em órbita em 2017, o D1, que consumiu US$ 400 milhões, e já planeja outro para 2019. O objetivo é estar à frente da concorrência na oferta de dados por satélite, demanda que só fará crescer, acredita seu presidente, Gustavo Silbert.

Mas não só. Como faz parte de uma holding com uma das maiores operadoras móveis das Américas, a Star One pretende destinar boa parte da capacidade para backhaul de redes móveis. “Atendemos outras ‘Claro’ na América Central, além da Claro Chile com DTH, a Claro Colômbia com backhaul, usando os mesmos satélites nas nossas
posições orbitais brasileiras”, ressalta o executivo. A empresa buscou crescer nos países vizinhos nos últimos três anos, de forma a compensar a crise econômica brasileira.

Os mercados de broadcast e DTH continuam fortes na carteira da empresa, mas a necessidade por banda larga é a que mais traz novas fontes de receita. “Não vejo diminuição do uso do satélite para vídeo. O que vejo é um crescimento de demanda em outras frentes de negócio com a banda Ka”, resume.

Em todos, usa banda Ku para atender o mercado de broadcast. Com o Amazonas 5, vai entrar em novo mercado. Prepara-se para ligar sua capacidade em banda Ka e fornecer banda larga para provedores regionais de internet.

“Estamos fazendo um plano para que a venda se dê por megabits, não somente por megahertz”, explica Sérgio Chaves, diretor de negócios para a América do Sul da Hispamar. O projeto prevê cobrir a região litorânea do Brasil com pouca ou nenhuma infraestrutura de internet.

A intenção é diversificar. O principal segmento da empresa é o de transmissão de vídeo. Ele orgulha-se em dizer que a Hispamar conquistou 65% de share neste setor. Mas, com a redução do apetite do consumidor final por TV paga, é preciso ampliar a importância de outros segmentos na carteira.

Por isso, a Hispamar quer atender quem cresce sem parar: os ISPs. Os provedores regionais de banda larga são o segmento das telecomunicações brasileiras que mais cresce todo ano, conforme dados da Anatel. “Teremos um serviço de megabits dedicado para eles. Acho que toda empresa de satélite que trabalha com banda Ka tem
que pensar nisso. A ideia é que eles revendam a antena, instalem, administrem o consumidor com marca deles, enquanto nosso papel será a conectividade”, conta.

Atacado e varejo

Entrante no mercado brasileiro, a Yahsat aposta na universalização da banda larga para competir com os demais. A empresa originária dos Emirados Árabes Unidos lançou e ativou o satélite Al Yah-3 neste ano. O equipamento todo dedicado à banda Ka levará banda larga no atacado e no varejo a diversos cantos do Brasil e a 19 países da África.

Uma parte da capacidade do satélite já está sendo comercializada no atacado. A integradora InternetSat, por exemplo, foi uma das compradoras. Ela só comercializa para o mercado corporativo. Mas a Yahsat também pretende vender diretamente ao consumidor. A expectativa é alcançar uma força de vendas e serviços de quase quatro mil pessoas.

“Percebemos que o mercado está em desenvolvimento, em linha e até um pouco melhor que o esperado. O avanço dos ISPs mostra que ainda existe mercado não atingido pela banda larga”, explica Marcio Tiago, diretor-geral da Yahsat Brasil.

O Al Yah-3 exigiu um investimento de mais de US$ 200 milhões. A empresa enfrentou uma anomalia no lançamento que atrasou a entrada em operação do equipamento em um mês. Mas, agora, o projeto está pronto para engrenar. “O satélite completou todos os testes em órbita e está preparado para oferecer o serviço de acesso à internet banda larga no país”, frisa Tiago.

[Atualização] O serviço residencial da Yahsat foi ativado em novembro e cobre, por enquanto, 234 cidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Norte. Em dezembro, em mais 72 cidades haverá sinal.

Já a europeia Eutelsat lançou em 2016 o satélite 65 Oeste A, dedicado aos mercados de banda larga (parceria com a HughesNet), DTH, TV digital terrestre, backhaul de celular, VSAT corporativo e IoT. A menina dos olhos, no entanto, é a banda larga. “É um grande sucesso, o que reforça a importância da tecnologia dos satélites para fornecer
internet de alta velocidade no país”, diz Rodrigo Campos, diretor-geral da Eutelsat do Brasil. Conforme a Hughes, que usa capacidade do 65 Oeste A, já passam de quatro mil as cidades cobertas com a banda larga via satélite da empresa.

Consumidor e backhaul

Campos acredita que a grande extensão territorial brasileira comporta a chegada de tantos concorrentes. “Com mais de oito milhões de quilômetros quadrados, o Brasil é o local ideal para a tecnologia de satélites. A concorrência provavelmente criará novas oportunidades em várias aplicações, por exemplo, no mercado de IoT”, ressalta.

A canadense Telesat vai operar seu novo satélite, o Telstar 19 Vantage, da posição brasileira 63º Oeste. Conforme Mauro Wajnberg, o T19 foi pensado para ser compatível com a base instalada de VSATs, inclusive agregando funcionalidades além da transmissão de vídeo. “Isso irá proporcionar uma transição suave para a capacidade tipo HTS aos clientes”, observa.

Quando a companhia comprou a posição orbital no leilão de 2015, o objetivo era ampliar a capacidade de atendimento de radiodifusores e integradores. Com mais capacidade, diz Wajnberg, virão novos clientes. “Os mercados emergentes no Brasil são Internet das Coisas e backhaul para serviços 5G. Embora ambos ainda estejam a muitos anos de sua maturação, vão se beneficiar do alto desempenho do nosso satélite”, afirma.

O equipamento também já nasce com parte da capacidade vendida para a Hughes, que opera no Brasil e na América do Sul serviço de banda larga ao consumidor final usando a marca HughesNet.

A SES, que lançou em janeiro de 2018 o SES-14, aposta no uso do HTS aplicado à banda Ku para vender alta capacidade de transmissão de dados. Segundo Jurandir Pitsch, que comanda a SES Video no Brasil, o mercado voltou a esquentar em 2018 em função da expansão das redes móveis de quarta geração (4G). “Espera-se que o celular backhaul & trunking representem o maior segmento da região latino-americana até 2026, enquanto
a banda larga via satélite deve ser a segunda maior aplicação, seguida por redes corporativas”, diz.

Além do SES-14, a empresa também lançou quatro satélites O3b MEO em março. Mais quatro satélites O3b MEO serão lançados em 2019. Em 2021, será a vez do SES-17, um satélite totalmente HTS em banda Ka, que permitirá aplicações de dados para as Américas.

As empresas com a palavra

Fusão para a Vanguarda

A Hispasat, dona de 80% da Hispamar, acaba de comprar parte da empresa norte-americana LeoSat, fabricante de satélites de órbita baixa. A LeoSat vai lançar em 2019 uma rede de 108 satélites que se comunicam entre si e com os Geoestacionários HTS, formando um backbone sideral com velocidade de transmissão de dados ao redor do mundo 1,5 vez maior que por fibra óptica.

“Em um momento de disrupção tecnológica, tem-se mais condições para consolidação”, resume Sérgio Chaves, diretor da Hispamar na América do Sul.

Eficiência nos resultados

Responsável pelas operações da Telesat no Brasil, Mauro Wajnberg diz que a multiplicação de satélites sobre o Brasil vai acelerar a competição, mas a empresa está bem posicionada.

“Estamos implantando a capacidade HTS em um slot que já é usado pelos milhares de VSATs que acessam nosso satélite Estrela do Sul 2. Isso permitirá que os clientes façam uma migração suave da capacidade ‘convencional’ para os ‘spot beams’, se for a melhor decisão do ponto de vista do seu negócio”, frisa Mauro Wajnberg, diretor da Telesat.

Por menos taxas

Yahsat defende mudanças na regulação para ampliar o papel do satélite em levar internet a locais remotos. Prega redução do Fistel e no cáluclo da renovação de licenças.

“Acreditamos que duas regras devem ser mudadas: a primeira, baixar a TFI e a TFF, o que tornaria o custo da tecnologia de satélite mais competitivo. Estamos pleiteando isonomia, não desconto. Ainda, a metodologia de cálculo é feita com base em critérios tecnológicos ultrapassados, o que torna mais
cara a renovação”, diz Marcio Tiago, diretor-geral da Yahsat no país.

Um novo supersatélite

A Star One já começou a construção do segundo satélite multibanda da família ‘D’. O D2 será lançado no final de 2019 em operação em 2020, na posição 65º Oeste. Terá bandas C, Ku e Ka. Vai atender broadcasters e reforçar o backhaul da Claro, ampliando a capilaridade da tele em áreas onde é difícil chegar com redes terrestres.

“A estratégia do grupo tem sido usar a banda Ka para backhaul, já que o crescimento do consumo de dados se dá por celular nos países da região”, observa Gustavo Silbert, presidente da Star One.

Avatar photo

Rafael Bucco

Artigos: 4424