A operação de guerra montada para bloquear o X no Brasil

A "operação de guerra" envolveu nova ordem do STF para bloqueio de IPs de CDNs utilizados pelo X. Empresa nega ação deliberada para burlar ordem judicial. Plataforma deve sair do ar até as 16h.

O retorno do X ao ar no país ontem, 18, resultou em uma verdadeira operação de guerra e movimentação intensa entre as autoridades para colocar em ação estratégias a fim de garantir o cumprimento da determinação judicial emitida pelo STF. O ministro Alexandre de Moraes soltou uma ordem para a Anatel agir ainda durante a tarde. Nela, estabelece o bloqueio a IPs de Cloudflare, Fastly, Edgeuno e similares utilizados pelo X em 24 horas.

Em outra frente, a Anatel já conversava com a Cloudflare para providenciar o bloqueio. A fim de evitar impacto sobre outros usuários da CDN, a empresa segregou o X a um conjunto específico de IPs (dois IPv4 e dois IPv6). A agência reguladora remeteu estes endereços no fim da tarde de ontem para operadoras e provedores iniciarem os bloqueios.

Na mensagem, a Anatel alerta que novos IPs podem ser informados a qualquer momento para extensão do bloqueio ao X.

Fachada da sede do Twitter, em São Francisco, iluminada com a nova marca (crédito: Linda Yaccarino/Twitter)

Como as CDNs têm múltiplos clientes e há o temor de reflexos sobre eles, a agência criou ainda um email apenas para receber avisos sobre impactos detectados pelas operadoras em serviços legítimos, sem qualquer relação com o X. O prazo para teles e provedores concluírem o bloqueio dos 4 IPs repassados se esgota às 16h desta quinta-feira, 19.

Técnicos da Anatel ainda investigam se há IPs em uso pelo X nas redes de Fastly, Edgeuno ou outras CDNs. Segundo uma fonte da agência, embora Moraes as tenha mencionado, ainda não se identificou roteamento por meio de outros serviços. Mas tão logo seja identificado, as prestadoras de telecomunicações serão notificadas a efetuar o bloqueio.

X negou ação intencional

Ainda ontem, o X usou seu perfil oficial na plataforma para negar que tenha contratado a Cloudflare para burlar o bloqueio judicial no Brasil. A empresa alega que recorreu à CDN para melhorar o serviço na América Latina, afetado pela retirada de servidores do Brasil.

“Quando o X foi fechado no Brasil, nossa infraestrutura para prover o serviço na América Latina não estava mais acessível por nosso time. Para continuar a oferecer o serviço, mudamos de provedores de rede. Isso resultou em uma restauração inadvertida e temporária para usuários brasileiros. Embora acreditemos que em breve o X fique inacessível novamente, seguimos nos esforçando junto ao governo brasileiro para retornar em breve às pessoas do Brasil”, escreve a empresa em post publicado às 17h47 de ontem.

Para a Anatel, no entanto, a iniciativa foi deliberada: “A Agência Nacional de Telecomunicações informa que, ao longo do dia 18/9, constatou que a rede social X estava acessível a usuários, em desrespeito à decisão judicial proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Com o apoio ativo das prestadoras de telecomunicações e da empresa Cloudfare, foi possível identificar mecanismo que, espera-se, assegure o cumprimento da determinação, com o restabelecimento do bloqueio. A conduta da rede X demonstra intenção deliberada de descumprir a ordem do STF. Eventuais novas tentativas de burla ao bloqueio merecerão da Agência as providências cabíveis“.

Empresas já agem

Basílio Perez, conselheiro da Abrint, conversou novamente com o Tele.Síntese nesta manhã de quinta-feira e confirma que os provedores receberam os IPs da Cloudflare identificados pela Anatel e já estão efetivando a determinação de bloqueio.

Segundo ele, a medida deve derrubar novamente o X no país, mas não é possível garantir que o site saia completamente do ar para todos os brasileiros. “Ainda não sabemos se haverá algum efeito colateral deste bloqueio. A Anatel enviou os IPs da CloudFlare, mas há ainda outros serviços, o Fastly e o Edgeuno, em uso. Para estes ainda não recebemos os IPs. Então poderá ter alguém acessando via estes serviços”, explica.

Atualização

Antes das 16h o X já havia deixado de funcionar no país, aparentemente por iniciativa da própria rede social. A empresa deixou de redirecionar seus IPs para os endereços da CloudFlare. Com isso, o bloqueio voltou a funcionar como antes da utilização da CDN.

O X também nomeou, finalmente, representantes legais no país. Foram indicados advogados do escritório Pinheiro Neto, de São Paulo. O ministro Alexandre de Moraes solicitou a confirmação de que os nomes vão responder de fato pela companhia na Brasil, em 24h. Lá fora, segundo o site Poder360, a rede social bloqueou os perfis solicitados pela Justiça brasileira que saíssem do ar.

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Rafael Bucco

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