Vodafone e Vecto trocam farpas na disputa pelo mercado de IoT

Em comunicado Vodafone questiona permissão da Vecto para comercializar serviços em todo o Brasil e publicidade da entrante. Vecto rebate, afirma que há confusão da concorrente e que modelo permite, sim, operação nacional.

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O mercado brasileiro de internet das coisas (IoT) deve movimentar, em 2025, entre US$ 50 e US$ 200 bilhões. A cifra consta de estudo que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está fazendo sobre o setor, e foi revelada nesta terça-feira, 12, por Carlos Costa, diretor de tecnologia da instituição, no 2° Congresso de IoT.

Natural, portanto, que a disputa em torno desse mercado já comece a se acirrar. Hoje, a Vodafone, MVNO com cobertura nacional, emitiu nota à imprensa através da qual questiona a comunicação e a publicidade de outra MVNO, a Vecto Mobile. Ambas têm em comum o foco em IoT.

Posição da Vodafone

O primeiro questionamento se refere à área de atuação da Vecto. Segundo a Vodafone, a concorrente recebeu autorização para prestar serviços em todo o território nacional. Mas a comercialização dos produtos só é possível dentro da área em que a Algar Telecom tem autorização para trabalhar como operadora celular, que seriam regiões do interior de São Paulo, em Minas Gerais e nos estados do Centro-Oeste.

Isso porque a Algar Telecom é o que se chama “operadora de origem”, a empresa de telecomunicações à qual a MVNO está vinculada para prestar serviços.

“A comercialização do serviço pela Vecto Mobile para clientes fora da área de autorização da Algar Telecom constitui venda de serviços de telecomunicações sem a devida licença, confrontando a legislação de telecomunicações e constituindo crime contra a constituição brasileira”, diz o departamento jurídico da Vodafone.

Arthur Ribeiro, gerente de inteligência de marketing e produtos da Vodafone, detalhou melhor ao Tele.Síntese a questão. “Não significa que a Vecto Mobile não possa prestar o serviço em outras regiões. Só que é diferente prestar o serviço de comercializar. A licença que eles têm hoje de MVNO não permite comercializar em todo o país”, diz.

A Vodafone estuda se deve ou não entrar com reclamação na Anatel. “A gente precisa da comprovação de que a Vecto está comercializando serviços fora na área em que tem permissão para isso. Se a gente perceber isso, obviamente vamos entrar com ação na Anatel”, completa.

Os executivos da Vodafone também analisam medidas por publicidade enganosa. Segundo Ribeiro, a Vecto erra ao afirmar ser a “primeira MVNO brasileira 100% focada em internet das coisa”, como aparece em sua página na internet.

“Eles falarem que são a primeira com foco em IoT e M2M não faz sentido. A gente tem negócios assim desde 2013. É um dos nossos grandes diferenciais. Na medida que a gente perceber que nossos fatores de diferenciação estão sendo colocados em questão, a gente vai coibir”, reforça Ribeiro.

Posição da Vecto

A MVNO Vecto Mobile também conversou com o Tele.Síntese. Negou que não tenha autorização para operar nacionalmente, uma vez que obteve a licença da Anatel.

Segundo o CIO da Vecto, Gerson Rolim, o processo de outorga foi transparente e está publicado no SEI, o sistema eletrônico de informações da Anatel. “O setor é extremamente regulado, e se a Vecto não pudesse operar, a Anatel não teria fornecido a licença”, diz.

O executivo afirma que o mercado de internet das coisas no Brasil está em expansão, e que será possível a todas as empresas crescer apostando nessa tecnologia.

“Acredito que seja uma confusão deles [Vodafone] com relação ao que é área de concessão e o que é área de autorização da Algar, que é a nossa operadora de origem. Mas nós temos a licença da Anatel para operar, sim, dentro das regras em todo o território nacional”, completa.

O executivo afirma ainda que a Vecto pode prestar serviço e comercializar soluções em todo o território. “A legislação é clara em dizer que a comercialização é restrita à área de autorização da MNO de origem. Mas isso vale para quem tem lojas. A Vecto não tem loja. É um modelo B2B2B. É outro mal entendido”, afirma.

O executivo garante que as metas serão batidas, e com folga. “Estamos concluindo projetos-piloto, com empresas do agribusiness, de rastreamento de gado, de tratores, colheitadeiras, e telemetria. Estamos sendo conservadores”, alega.

Procurada, a Algar Telecom diz que não comenta contratos com seus clientes.

Mercado

Vale lembrar que o mercado de internet das coisas no Brasil ainda é incipiente no país, e ainda é computado como M2M pela Anatel. A Vecto promete conquistar 100 mil acessos até o final do ano, 500 mil até o final de 2018. A Vodafone, MVNO sobre a rede TIM, tinha em julho 166 mil acessos.

Dados da Anatel indicam que há ativos no país 14 milhões de chips M2M, tanto padrão, quanto do tipo especial. Quase a totalidade distribuída pelas grandes operadoras (Vivo, Claro, Oi e TIM).

 

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Rafael Bucco

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