Usina na Praia do Futuro ameaça hub de cabos submarinos
Aconteceu hoje, 25, em Fortaleza, no Ceará, um evento com a presença de políticos da região e do Ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Organizado em parceria por Anatel e Telcomp, a iniciativa buscou sensibilizar os participantes para os riscos de construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro – local que se transformou na última década em polo de chegada e saída de cabos ópticos submarinos e terrestres.
Ao participar do evento, Filho afirmou que a proteção aos cabos submarinos “terá toda a atenção” do MCom. “Há previsão de chegada de novos cabos nos próximos anos e, para isso, vamos preservar e construir um ambiente seguro para que possamos avançar e garantir a segurança desse tráfego e desses cabos, tão importantes para a geopolítica e para as telecomunicações no Brasil”, falou.
A respeito da construção da usina, o ministro disse: “Qualquer situação que gere impacto deve ser profundamente discutida, analisada e avaliada para que busquemos construir juntos, por meio do diálogo, o melhor caminho para a preservação desse hub internacional que é Fortaleza. Estaremos juntos, com a Anatel e com todas as entidades do setor, discutindo formas de construir um ambiente seguro, sem nenhum tipo de impacto nas infraestruturas”.
A Telcomp, que tem entre associados empresas de cabos submarinos como Algar, Cirion e Telcables, diz que é impossível a convivência de uma indústria com um polo de interconexão de cabos submarinos e terrestres. A Anatel emitiu este ano parecer contrário à obra por conta dos riscos à rede brasileira. As operadoras nacionais, representadas pela Conexis Brasil Digital, também apontam preocupação com o tema.
A Cagece, empresa estadual de saneamento do Ceará, é a responsável pelo projeto da usina de dessalinização, considerada a primeira de grande porte do Brasil. Diz que a iniciativa é importante para a sustentabilidade hídrica de Fortaleza até 2040. Mas vem esbarrando em licenças ambientais para realizar as obras. Alega que já reviu o projeto a pedido das operadoras, afastando as tubulações em 500 metros dos cabos (antes estariam a 50 metros).
Para a Telcomp, não é suficiente. “As operadoras de cabos submarinos escolheram a Praia do Futuro justamente por não ter esse tipo de exposição a todo tipo de risco que instalações industriais oferecem. A mudança de distância não impede que a usina continue atravessada sobre áreas que passam cabos terrestres”, diz o presidente executivo da entidade, Luiz Barbosa.
Vale lembrar que chegam a Fortaleza cabos vindos dos Estados Unidos, do Caribe, da Europa e da África. Por ali passa a maior parte do tráfego internacional de dados do Brasil. Um rompimento tem potencial para afetar milhões de brasileiros de uma só vez.
Não à toa, os cabos são considerados estruturas críticas. Por isso, esteve no evento, além de deputados federais, estaduais, e vereadores, o Coordenador Geral de Segurança de Infraestruturas Críticas, do Departamento de Assuntos da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, da Secretaria de Acompanhamento e Gestão de Assuntos Estratégicos (SAGAE), Cel. Marcelo Oliveira da Silva.
Os cabos submarinos são considerados fundamentais dentro da Estratégia Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas e do Plano Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas. Apenas na Praia do Futuro desembocam 17 sistemas ópticos.