TIM: conexão no campo tem de ir além da porteira
A conexão do campo é uma oportunidade enorme para as operadoras móveis, mas para acontecer precisa ir muito além das porteiras do cliente. A TIM está aproveitando seu projeto de levar 4G a todas as cidades do Brasil para incrementar a cobertura no campo baseada na infraestrutura de rede celular tradicional LTE.
Nas palavras de Alexandre Dal Forno, head de marketing corporativo e IoT da TIM Brasil, as tecnologias levadas ao campo devem se beneficiar de “ganhos de escala” a fim de se tornarem acessíveis para a maioria dos produtores rurais e elevar a produtividade agrária. O executivo participou hoje, 14, de painel do evento AGROtic, organizado pela Momento Editorial, publisher do Tele.Síntese.
Potencial há de sobra. Segundo ele, o Brasil tem uma área agrícola de 170 milhões de hectares que poderiam se beneficiar da digitalização.
Os ganhos de escala, explicou, vêm de diversas iniciativas. A primeira consiste na escolha da solução mais adequada para cobrir um país de extensão continental como o Brasil. Neste caso, a aposta recai sobre o uso de tecnologia NB-IoT, que funciona sobre rede móvel em frequência de 700 MHz.
“Os 700 MHz têm escala, a TIM vai botar 4G em todas as cidades do Brasil em breve. A tecnologia está pronta, é mais simples. Outras são muito embrionárias: o uso de 250 MHz para alguns é uma jabuticaba – não é ruim, é muito boa, mas é restrita à fazenda. Se quiser uma tecnologia que vá além da porteira, chegue até o porto, talvez até o outro lado do mundo, tem que ser compatível”, disse.
O espectro de 450 MHz, que chegou a ser distribuído entre as operadoras em 2014, nunca foi usado justamente pela falta de grande variedade de fornecedores. “Os 450 MHz, divididos entre as operadoras regionalmente, acabou não evoluindo. A questão do ecossistema é um problema, e ainda não decolou. Por ser frequência baixa teria cobertura maior, porém tem essa questão do ecossistema, não tem escala mundial”.
Ele disse ainda que o produtor rural deve escolher uma tecnologia de conectividade adequada a seu perfil e que não o “torne refém do que escolheu”. E explicou que os 700 MHz são compatíveis com as diversas redes brasileiras e de outros países, o que torna a produção dos dispositivos IoT usados no campo mais acessíveis.
Mas defendeu que o governo e Congresso se unam para isentar esses aparelhos da taxa do Fistel, em outra iniciativa para orientar os ganhos de escala.
Satélite e 5G
Dal Forno vê complementaridade do satélite na conectividade rural, mas como suporte para a infraestrutura móvel terrestre. Citou como exemplo a necessidade de escoar o tráfego do celular e redes IoT por maio de backhaul satelital. Mas duvida que soluções de IoT baseadas em satélite tenham custo condizendo com a necessidade do produtor rural de reduzir despesas. Além disso, ressalta que solução satelitais tendem a ser específicas.
“A comunicação via satélite é fundamental para ter internet banda larga na sede da fazenda, para emitir nota fiscal, sem dúvida, e para levar conectividade como backhaul da rede móvel. Mas tem a questão do custo, do Opex, que é mais alto. Além disso, a rede não deve ser apenas para conectar máquinas, precisa ser multisserviço, e o satélite para isso acaba sendo limitado. Vai ter uma rede de cobertura maior, mas muito limitada e com custo não competitivo”, afirmou.
O executivo defendeu ainda que para 90% das necessidades atuais dos produtores agrícolas, a 4G é mais que suficiente. A 5G, disse, será usada para as outras aplicações a aos poucos ganhar espaço, depois de ter penetração alcançada nos grandes centros urbanos. “A 5G vai começar nas capitais, onde se financia com a adoção em massa e vai indo para o interior”, previu.
Estratégia
Para acelerar a construção da cobertura 4G rumo ao interior agrícola, Dal Forno contou que a TIM adotou modelo em que o cliente, que no caso pode ser um grupo produtor ou cooperativa, paga um “setup fee”. Esta taxa é usada para abates o custo total de implantação da rede. Outra parte do custo fica com a TIM, que passa a usar aquela infraestrutura também para prestar serviços móveis tradicionais à população da área coberta. Ou seja, a tele chega à área fornecendo o serviço IoT específico para um grupo produtor, mas acaba ampliando também sua cobertura celular.
Roaming IoT
O executivo também criticou iniciativas de venda de chips multisserviço M2M. A iniciativa, que leva marca da Algar Telecom, significa que o serviço IoT está operando em roaming permanente, no entender de Dal Forno, uma vez que a Algar não tem cobertura nacional. “Esse chip que a Algar está oferecendo no mercado não é regulatoriamente permitido na nossa visão, e não poderia estar sendo feito”, disse.
O roaming permanente se dá quando um chip de uma operadora está ativado e funcionando em cima da rede de outra operadora por não haver, no local, a rede própria. No Brasil, a Anatel não deliberou sobre o roaming permanente.
Além de Dal Forno, estavam no debate Diego Aguiar, head de IoT, Big Data e Inovações B2B da Vivo,
Eduardo Polidoro, diretor de Negócios de IoT da Claro, e Paulo Bernardocki, diretor de Soluções e Tecnologia para a Ericsson Latam South.
A Algar, por sua vez, enviou nota ao Tele.Sintese na qual diz que o produto obedece as regras brasileiras. Veja abaixo:
“A Algar Telecom reforça que não há qualquer irregularidade na prestação desse serviço e que a solução atende aos requisitos legais previstos na regulação de telecomunicações brasileira. O roaming, facilidade essencial para garantir ampla mobilidade aos clientes, está suportado por contratos firmados de forma transparente”.