Teles aprimoram o apoio a startups e a criatividade surge de todos os lados
No final desta década, as cinco maiores operadoras de telecomunicações do País colocaram o pé no acelerador para buscar a dianteira na corrida da inovação. Passaram a investir com mais critérios e foco no apoio a startups, em busca de soluções tanto para problemas internos quanto para ajudar seus clientes e em ações de responsabilidade social. Trilharam um caminho sem volta e cada vez mais necessário diante de uma crise interminável agravada com a queda ladeira abaixo de recursos públicos para Ciência e Tecnologia. Daí surgem projetos capazes de melhorar o dia a dia das organizações e dos cidadãos com novas oportunidades de negócios e bem-estar em um mundo cada vez mais conectado e tecnológico.
Algar, Claro, Oi, Tim e Vivo intensificaram seus programas de gestação, incubação e aceleração de startups. Já levaram ideias de técnicos, universitários e de empreendedores experientes ao pódio de competições internacionais. Querem também resultados mais concretos e com valores milionários previstos em pouco tempo, apostando em casos já bem sucedidos, as chamadas scale-ups. Ao mesmo tempo, abrem espaços para projetos de tratamento de água a baixo custo, de aplicativos para tratamento de autistas e melhor comunicação de surdos.
Saúde dos clientes
Pensar na saúde das empresas clientes é o remédio adotado pelo estreante Brain Open, que lançou seu primeiro edital de seleção em janeiro deste ano. É um programa de cocriação de soluções lançado pelo Brain, Instituto de Ciência e Tecnologia fundado pela Algar Telecom, em parceria com a ACE, empresa de investimento em startups e inovação corporativa, com foco no segmento B2B (negócios de empresas para empresas).
Na semana passada, o Brain anunciou as quatro empresas selecionadas, como antecipou o portal Tele.Síntese (Atende Simples, Confere Cartões, Digifarmz e SmartGreen). A nova iniciativa contou com 310 inscrições dos segmentos de agro, energia, saúde, logística, indústria 4.0, financeiro e cyber security, com soluções de IoT, Telco/cloud e digital.
O Brain destina-se a oferecer soluções tecnológicas para negócios de menor porte, parcela significativa dos contratos da companhia e que enfrentam dificuldades de gestão, segundo a presidente do Brain, Zaima Milazzo. “Pesquisamos as dores dos nossos clientes, avaliamos as nossas teses de negócios e cruzamos com as escolhas tecnológicas que fizemos até aqui. A partir disso, optamos pela aceleração de iniciativas que condizem com a nossa necessidade”, afirmou.
Viés universitário
O estímulo a novas ideias vindas de gente jovem do mundo técnico e acadêmico é outra prioridade das teles. Assim são iniciativas conduzidas pela Claro e pela TIM. No dia 6 de maio, o Instituto Net Claro Embratel divulgou a lista de quatro startups selecionadas na 7ª edição do programa Campus Mobile, uma parceria com a Universidade de São Paulo.
Desde a criação do programa em 2011, essa edição teve recorde de inscrições, com 217 projetos de 25 estados do Brasil e 483 participantes nas categorias Smart Farms, Smart Cities, Diversidade e Educação. Os estudantes têm a chance de desenvolver o seu projeto com o prêmio em dinheiro e tutoria de especialistas. Os projetos mais bem avaliados ganham uma viagem de imersão no Vale do Silício (EUA).
Depois dessa viagem, os vencedores têm reunião com os consultores executivos para refinar o caminho dos empreendimentos, segundo o gerente de Projetos do Instituto NET Claro Embratel, Flávio Rodrigues. “Como a gente trabalha essas startups pelo viés social, a gente vai até esse ponto. A gente tem casos de sucesso que continuaram e que hoje já viraram empresas”, explicou.
TCCs em startups
Na TIM, o AWC (Academic Working Digital) vai apoiar este ano 34 projetos. Trata-se de programa de empreendedorismo universitário criado há quatro anos que já selecionou mais de 130 projetos de cerca 500 universitários interessados em transformar seus TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) em startups tecnológicas.
Os escolhidos passam um ano participando de workshops, monitorias, mentorias e outros métodos de acompanhamento. “Oferecemos liberdade para trabalhar com qualquer tecnologia, até hardwares, desde que seja tecnologia universitária”, explicou o coordenador do AWC, Diogo Dutra. “Muitas vezes, alunos que estão em cursos, como os de engenharia, não tem o ímpeto de empreender. A função do programa AWC é incentivar o empreendedorismo entre esses estudantes”, destacou.
Três trabalhos do AWC 2018 foram participaram este ano da HackBrazil, competição realizado em Boston (EUA). A Aqualuz ficou em 2º lugar com uma experiência que usa energia solar para tornar potável água de poços ou cisternas.
A TIM também desenvolve o programa de Open Innovation, que tem como o objetivo estabelecer uma rede de intercâmbio entre empresas, startups e instituições de ensino. Uma das parcerias é com o Cubo Coworking Itaú, espaço de startups em São Paulo. A operadora fornece ultra banda larga e exerce o papel de tutora em determinados projetos. Instituições de ensino também são grandes parceiras da TIM. Entre elas, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
“Entendemos startups como empresas que identificam e propõem uma solução para um problema real”, avaliou Janilson Bezerra, head de Innovation & Business Development da TIM Brasil. Segundo o executivo, um dos alvos das ações da operadora é apoiar cidades com vocação tecnológica, como Santa Rita do Sapucaí (MG). Em outra ponta, destacou, a TIM apoia projetos como o Giulia, que facilita a comunicação de surdos e levou a empresa a ganhar neste ano o Prêmio Anatel de Acessibilidade.
Demandas
Desde o início de 2018,o Oito é o local de empreendedorismo inovador aberto pela Oi no Rio de Janeiro, com supervisão da própria operadora. No primeiro edital, houve mais de 500 inscrições de todo o País, resultando em 7 incubadas e 10 residentes. Já no segundo, lançado neste ano, foram inscritos 204 projetos do Brasil e de quatro países (Canadá, Estados Unidos, Israel e Portugal). A seleção ainda está em curso.
Segundo a operadora, o número de inscrições no segundo edital foi menor porque o primeiro, mais aberto, permitiu a inscrição startups de diversos perfis, como a Everywhere e a Energy2Go. Já o segundo teve critérios definidos e desafios estabelecidos por várias áreas da Oi nas categorias: operacionais, financeiros, negócios e open telecom. Por isso, o Oito considerou muito bom o resultado deste ano.
“A gente ajuda de diversas maneiras. Não só com dinheiro inicial, mas com outros serviços dos nossos parceiros, como inteligência artificial, da IBM; e espaço na nuvem, da Amazon”, explicou Pedro Abreu, diretor do Oito.
A estratégia, que antes era focada apenas em inovação, agora mira em produtos tecnológicos para ajudar o cliente, aumentar a eficiência operacional da Oi ou gerar novas oportunidades de negócios para a companhia ou seus parceiros. “Percebemos que podemos escolher projetos que respondam a questões que recebemos dos nossos clientes e demandas das diversas diretorias da OI”, apontou o executivo.
Soluções para hoje
A Telefônica Vivo deu um passo à frente na política de apoio à inovação, depois de haver investido R$ 12 milhões em 70 startups de diferentes segmento, como Cloud, LegalTech, Big Data e Agtech, a exemplo da Iotag. Neste ano, passou a apostar em empresas com mais estrutura para atuar imediatamente em grandes negócios, com contratos superiores a R$ 5 milhões. Assim, mudou o perfil da Wayra, que era aceleradora de startups desde que surgiu em 2012 e agora é um hub de inovação.
“Houve um amadurecimento no mercado brasileiro de novas empresas. Há mais empresas prontas para começar a fechar grandes contratos e é elas que estamos buscando. Empresas que possam suprir necessidades dos nossos clientes e inovar as nossas soluções e produtos. Os contratos fechados pela operadora com startups ficavam, em média, entre R$ 200 mil e R$ 300 mil”, comparou Renato Valente, Country Manager da Wayra Brasil.
Na visão das operadoras, a aceleração de startups é interessante para a concepção de novidades tecnológicas, mas é muito longo o tempo estimado para essas empresas de fato ingressar no mercado e devolverem o investimento em soluções.
“Antes, estávamos esperando até três anos para que uma empresa chegasse ao tamanho, à estrutura, para aguentar os contratos com grandes corporações. E hoje, com a velocidade em que surgem as novidades, esse tempo está reduzido. Precisamos de soluções para hoje”, comentou Valente. Enfim, todas as operadoras têm pressa porque o futuro já chegou.