Telefónica quer lei que obrigue big techs a bancarem infraestrutura

Presidentes da Telefónica, da Vodafone, da Orange e da Deutsche Telekom afirmam que setor não tem poder de barganha sobre as big techs e nem dinheiro para fazer a infraestrutura necessária para o crescimento exponencial da demanda até 2030.

O grupo espanhol Telefónica, dono da empresa de mesmo nome no Brasil, lançou hoje, 14, carta na qual defende que os países da União Europeia tenham um marco legal que obrigue as big techs a bancarem a construção de infraestrutura de telecomunicações.

A carta é assinada pelo presidente da Telefónica, José María Álvarez-Pellette. Também é assinada por Tom Höttges, CEO da Deutsche Telekom, por Nick Read, CEO da Vodafone, e Stéphane Richard, CEO da Orange.

Segundo os executivos, o crescimento exponencial do tráfego de dados por parte das provedoras de conteúdo é responsável por definir o tamanho e capacidade das redes das operadoras. Apesar disso, nenhuma big tech paga pela expansão das redes, afirmam. E alertam que o cenário atual não é sustentável.

“O fardo do investimento tem de ser dividido de forma mais proporcional. Hoje, streaming de vídeo, jogos e mídias sociais originados em algumas poucas plataformas de conteúdo representam 70% do tráfego que circula em nossas redes”, dizem os executivo.

Segundo eles, as plataformas digitais estão lucrando com modelos de negócios exponenciais (“hyperscaling”), com um custo marginal, enquanto as operadoras de rede suportam o alto investimento em conectividade. “Ao mesmo tempo, o varejo de telecomunicações está em declínio perpétuo quanto à lucratividade”, observam.

Segundo a Telefónica e as demais, as operadoras não conseguem negociar com as big techs, pois estão em posição de desvantagem no mercado. O poder de barganha das teles, afirmam, é pequeno diante da magnitude das plataformas digitais. E apontam para uma assimetria: enquanto as telecomunicações são reguladas, as big techs não o são.

“O resultado é que não conseguimos ter um retorno viável do nosso alto investimento, colocando em risco o desenvolvimento de nova infraestrutura”, alegam.

Eles apontam que na Coreia do Norte os reguladores já debatem uma contribuição por parte das big techs para financiamento de infraestrutura de rede. Debate este que tem ligação direta com disputas legais em função do pico de demanda das redes causado pelo sucesso da série “Round Six”. Nos EUA, ressaltam, os reguladores avaliam que o serviço de acesso universal seja bancado pelas plataformas digitais.

“Sem um ‘preço’ para a emissão de dados, o incentivo para grandes provedores de conteúdo otimizarem seu tráfego de dados permanecerá baixo”, acrescentam. E por fim, cobram pressa dos reguladores europeus. “Será necessário um investimento enorme para atender às metas de conectividade definidas para 2030 pela Comissão Europeia. E sem uma solução equilibrada, não chegaremos lá”, vaticinam.

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Rafael Bucco

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