Siemens: Resolução da Anatel trouxe segurança para uso dos 3,7 GHz na indústria

A fabricante alemã Siemens quer abocanhar o mercado brasileiro de roteadores industriais 5G, atendendo dos setores de mineração à manufatura.

A fabricante alemã de equipamentos para indústrias Siemens está de olho no mercado de redes 5G. Mas não como fornecedora para grandes operadoras. O objetivo da companhia é atender o setor produtivo, em diferentes verticais – da manufatura à mineração -, com roteadores capazes de irradiar sinal 5G no espectro de 3,7 a 3,8 GHz.

O que só se tornou possível após a publicação, pela Anatel, da Resolução 742/21. Publicado em 2 de março, o texto atualizou as regras para uso do espectro de 3,5 GHz e deixou claro que a faixa entre 3,7 GHz e 3,8 GHz poderá ser utilizada no serviço limitado privado (SLP) em caráter primário.

A Siemens já pedia reserva de espectro para uso, em caráter primário, pela indústria. Este foi o teor de contribuição enviada a consulta pública realizada ainda em 2018 sobre o assunto.

Com a resolução, há a segurança jurídica de que o usuário de uma faixa em uma área não vai perder o investimento por conta da retomada do espectro pelo titular. Conforme fala ao Tele.Síntese Sergio Sevileanu, especialista em telecomunicação para Digital Grids da Siemens, a indústria faz um alto investimento para cobrir sua área com rede. Tal aporte leva anos para se pagar. A possibilidade de abortar o projeto impedia que o SLP “decolasse”.

“O business case na indústria é de ganho operacional. Então leva alguns anos para ter retorno. Quando faz um investimento desse em caráter secundário, tem risco que não se pode equacionar. E se o dono pedir, a indústria tem seis meses para devolver. Então isso tem sido um inibidor. Por que utilities não usam? Por causa da insegurança jurídica. A Siemens acredita que o uso em carácter secundário, quando tem um dono, é inviável”, resume.

À prova de futuro

O executivo acredita também que a faixa de 3,7 a 3,8 GHz está segura por muitos anos. Na aprovação do edital do leilão 5G, a Anatel optou por migrar canais de TVRO para a banda Ku, o que vai liberar boa parte do espectro de banda C no país. Tal banda poderá ser alvo de novo leilão para 5G em alguns anos.

Sevileanu considera, no entanto, que os 100 MHz em 3,7 GHz estão protegidos e não serão licitados. “Acredito que essa faixa vai permanecer para aplicação industrial porquê o FSS [serviço fixo satelital] que ocupa esse espectro não vai ser migrado. Então o SLP acaba funcionando como banda de guarda para o FSS, já que a aplicação industrial é restrita e possível controlar sua interferência”, avalia.

A Siemens já está em contato com clientes para iniciar as vendas de um roteador industrial, o Scalance MUM 856-1, capaz de emitir sinal de 5G e 4G. Por enquanto, o item usa o padrão release 15, mas será adaptado para o release 16 e release 17 – que trará a maior parte das melhorias para aplicações industriais da 5G.

Equipamento

Já na versão atual, diz Sevileanu, o roteador é capaz de entregar velocidades e latências para aplicações de veículos autônomos. Também se comunica com redes 5G públicas, das operadoras, permitindo o roaming dos usuários que transitam em uma área. Ele será revendido por integradoras, que fazem os projetos de redes SLP, e canais.

O equipamento é importado da Alemanha. A redução recente do imposto de importação terá efeito positivo, portanto, sobre o preço do produto. O que impede, então, a indústria de começar já a criar suas redes privadas 5G? Para o executivo, nada. “Como a regulamentação está disponível, é uma questão de tempo para as empresas, para o segmento industrial, absorver isso”, conclui.

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Rafael Bucco

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