Setor de telecom segue dividido com relação à destinação dos 6GHz
As Comissões de Comunicação e de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados realizaram nesta segunda-feira, 30, um debate a respeito da destinação do espectro de 6GHz, reunindo governo, Anatel, operadoras e entidades do setor. O tema central foi se a faixa inteira, que soma 1.200 MHz, deve permanecer integralmente destinada a uso não licenciado (WiFi) – como decidido pela Anatel em 2020 – ou ser revista para comportar também a telefonia móvel.
Durante a audiência, o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, comentou que a agência pode rever a decisão sobre o uso da faixa a depender de como a padronização mundial se estabelece (veja mais aqui).
O debate contou com representantes do setor de telecom, incluindo todas as operadoras e entidades. Veja, em síntese, a posição de cada um deles:
GSMA
Larissa Jales, gerente de Políticas Públicas da GSMA, apresentou os principais resultados do estudo Visão do Mercado Brasileiro, lançado no ano passado, que prevê o crescimento do 5G e a necessidade de planejamento para “necessidades adicionais” de espectro. “Para todos os países estudados, não há um cenário em que a destinação da totalidade da faixa de 6GHz para uso não licenciado gere maior benefício para a população”, citou Jales.
Telcomp
O presidente da Telcomp, Luiz Henrique Barbosa, colocou a competição no centro do posicionamento, lembrando que a associação inclui provedores de internet, mas também operadoras móveis, empresas de torres e MVNOs. “Dentro da associação, estamos trabalhando por uma política justa de competição entre esses dois segmentos”, resumiu.
Cisco
“Sem sombra de dúvida, não estamos falando de um lado ou de outro. Não é sobre o WiFi ou o 5G. É sobre o WiFI e 5G e como ele se compõe no dia a dia. […] É necessário que as duas redes tenham espectro, qualidade e velocidade. Não existe uma panaceia, uma tecnologia que resolva todos os problemas. O que o Brasil precisa, assim como o mundo inteiro, é uma combinação entre o 5G, e o WiFi, e a fibra, e o cabo metálico, e o satélite.. É sempre ‘e’”, disse Giuseppe Marrara, diretor da Cisco.
Abrint
Para a conselheira da Abrint, Cristiane Sanches, é “absolutamente crítica a destinação dos 1.200MHz dentro da faixa de 6GHz”. “Ela não só valida e dá segurança jurídica que o setor quer para a resolução 726/2020 [que liberou a faixa de 5.925 MHz a 7.125 MHz para uso por equipamentos de radiação restrita] como ela também é uma maneira clássica de se democratizar o espectro”, defendeu Sanches.
Huawei
Carlos Lauria, diretor de Relações Governamentais da Huawei, reforçou a visão de que há um complemento entre as tecnologias de conexão. “Essa banda de 6GHz é muito estratégica para a complementação do 5G e para a implantação do 5.5G”, afirmou Lauria. A empresa defende 500 MHz para WiFi na parte inferior e 700 MHz para redes móveis na parte superior, e chama atenção para a importância de se decidir o quanto antes.
“O espectro é uma ciência que tem que ser feita a longo prazo e em uma eventual ocupação da banda agora por WiFi, se em algum momento se decidir [alterar], vai ser muito difícil fazer a limpeza da banda”, alertou o executivo.
Claro
Fábio Andrade, Relações Institucionais da Claro, destacou o uso do celular como principal dispositivo de acesso à internet no Brasil para defender a entrada das redes móveis na faixa de 6GHz. “Essa parte dos brasileiros vai precisar de mais banda, porque o serviço é crescente”.
Oi
“A posição da Oi é pela disponibilização total dos 1.200MHz da faixa de 6GHz para o uso não licenciado, porque será fundamental no cenário futuro de crescimento exponencial do tráfego móvel com o 5G e as suas novas aplicações, ao mesmo tempo em que as conexões de fibra oferecerão cada vez maiores velocidades”, afirmou Helton Posseti, representante da Oi.
O comunicado da Oi, lido por Posseti, diz ainda que “a reserva parcial ou total do espectro para o 5G retardaria o uso do bem escasso, com incerteza do uso da faixa pelo mercado”.
TIM
Camila Monteiro, gerente de Relações Institucionais da TIM, citou o estudo promovido pela GSMA, o qual afirma haver mais impacto representativo no PIB quando a faixa de 6GHz não é direcionada totalmente para o WiFi. “Do ponto de vista de política pública e bem estar social, a destinação desse espectro para a telefonia móvel, mesmo que parcial, seria a melhor alternativa. Na nossa visão, reservar essa parcela para a telefonia móvel vai permitir no futuro que a gente tenha um 5G com toda potencialidade e nos dando a oportunidade de participar, mais uma vez, de um leilão e de investir na aquisição de espectro de radiofrequência”.
Vivo
O diretor de Relacionamento Regulatório da Vivo, José Gonçalves Neto, destacou que a empresa defende a divisão de 500 MHz para WiFi na parte inferior e 700 MHz para redes móveis na parte superior. “Não queremos esvaziar ou inviabilizar a utilização da faixa de 6GHz pelo WiFi. Esses usos podem conviver no espectro”, afirmou.
Associação Neo
Anibal Diniz, representante da Associação Neo, afirmou que a decisão da Anatel em direcionar a faixa de 6GHz para o WiFi foi acertada. Do ponto de vista competitivo, destacou a expansão dos provedores e democratização do acesso como consequência, inclusive com redução do preço para o consumidor. ”Entendemos que se fatos novos vierem a necessitar de uma rediscussão, que seja avaliado tempestivamente. Mas, no momento, tem que prevalecer, sim, essa posição”, disse Diniz.