Sem redes 5G, país pode ficar atrasado em inovação, afirma Ricotta, da Ericsson

Executivo voltou a defender a realização de leilão em breve, com viés não arrecadatório a fim de liberar o dinheiro das operadoras para investimentos na rede.
Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson do Brasil e Cone Sul

O Brasil corre o risco de ficar para trás na corrida por inovações significativas se ativar redes 5G depois de outros mercados. Essa é a percepção do presidente da Ericsson para o Sul da América Latina, Eduardo Ricotta.

O executivo falou hoje, 14, em coletiva virtual com jornalistas. No evento, defendeu que o leilão seja realizado, no mais tardar, no começo de 2021. E disse que a quinta geração irá viabilizar não apenas novas oportunidades para as operadoras móveis, mas em outros setores.

“Se tivermos defasagem em relação a outros países, vamos ficar para trás no quesito inovação. E não são inovações no setor de telecomunicações que estou falando. Mas vindas de outros setores”, afirmou.

Como exemplo, ele disse que antes da chegada da 4G, que ampliou a velocidade da banda larga móvel, aplicações como o Uber eram impensáveis, assim como Spotify. A 5G vai destravar a criatividade e originar novos produtos. “O que já sabemos é que tem potencial em telemedicina, com exames feitos remotamente. Ninguém imaginava o que seria possível colocar sobre uma rede 4G. Acho que com a 5G também vamos descobrir serviços novos”, afirmou.

Interesses

A definição da data do leilão de espectro 5G depende de múltiplas variáveis. A Anatel vem sofrendo pressões de todos os lados. Por parte do governo, há interesse na arrecadação que viria da venda do espectro. Mas empresas de TV aberta, operadoras de satélites e mesmo operadoras móveis afirmam que não há ambiente para a realização do certame dada a incerteza trazida pela pandemia de Covid-19. Também falta detalhes a ser lapidados nas regras do edital, como a convivência do IMT-2020 com serviços satelitais.

Para Ricotta, seja qual for o desfecho, a 5G será instrumento importante para a retomada econômica no mundo pós-pandemia.

“Estivemos com a equipe econômica para defender que o leilão seja realizado sem um viés arrecadatório. Isso libera recursos para investimento na rede. O governo ganha com mais instalações, mais aparelhos, novos serviços. Se o governo precisa aumentar a arrecadação, deve olhar por esse lado, o ecossistema que surge de ponta a ponta”, observou.

Investimento de R$ 1 bi mantido

Ele reiterou a previsão de investir R$ 1 bilhão no Brasil para a produção de equipamentos 5G. Disse que a alta do câmbio teve pouco impacto sobre as operações, uma vez que nesta pandemia a fábrica brasileira passou a compensar o fechamento temporário de outras unidades mundo afora. A unidade local também ampliou as exportações para os mercados da América Latina.

“A fábrica está operando em 100% da sua capacidade. A equipe administrativa foi mandada para trabalhar de casa, e vimos que isso manteve a produtividade. Os funcionários que precisam ir à fábrica seguem protocolos de segurança. Por isso, nossa previsão de receitas está mantida”, disse.

Segundo ele, implantar a capacidade produtiva para fazer equipamentos 5G levará de seis meses a um ano, contando-se a partir de novembro, quando o investimento foi anunciado. E a quinta geração terá tempo de vida de 12 a 15 anos, o que justifica a manutenção dos planos.

Mudança permanente

Para o executivo, a experiência de trabalho remoto generalizado tem sido um sucesso. A Ericsson está com 85% dos empregados no mundo trabalhando de casa. “Temos visto que há uma boa eficiência com reuniões virtuais, com o trabalho mais digital. Acho que isso veio para ficar”, afirmou.

O reflexo, disse, se verá nas redes das operadoras. O aumento de 20% no tráfego da rede fixa, em média, não deverá desaparecer. A nova rotina será de mais pessoas em casa, mais trabalho remoto, mais uso de ferramentas de colaboração e streaming de vídeo.

“Então as operadoras continuam comprando os equipamentos, continuam tendo de investir em rede”, observou, ao comentar o reflexo nas vendas que a pandemia teria sobre a demanda da fabricante.

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Rafael Bucco

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