Sandro Mendonça: Desvendando a excelência dos ISPs na competição

A premiação da Abrint deste ano, que destacou 35 prestadores de pequeno porte, demonstra que o ciclo de vida da indústria sofreu já uma inflexão.
Sandro Mendonça analisa o perfil dos vencedores do prêmio Abrint. Crédito-Divulgação
Entre os vencedores do prêmio Abrint deste ano, 15 empresas integram grandes grupos ou são resultados de M&A, aponta Mendonça. Crédito-Divulgação

*Por Sandro Mendonça

O encontro Abrint 2023 realizado em São Paulo no mês passado teve muitos aspectos que mereceram a nossa atenção. Mais de 25 mil participantes, quase 200 expositores, um rolar contínuo de debates e palestras. Foi um destravar de debate e um momento de enfoque pós-pandêmico em grande escala para provedores e fornecedores, técnicos e gestores, empreendedores e consultores, reguladores e governantes. Porém, esta é altura para ganharmos perspectiva e nos perguntarmos: para além das fortes impressões, o que podemos reter em termos de reflexões ?

Este texto propõe-se a uma análise nova. Vamos olhar para os prêmios Abrint e tentar perceber os contornos da qualidade revelada por eles. Será que dá para afastarmos a cortina e entendermos melhor os padrões escondidos que explicam os movimentos observados?

A Abrint dividiu os prêmios em seis categorias: até 1000 acessos, 1001-2500, 2501-5000, 5001-50.000, 50.0001-200.000 e mais 200 mil. Houve um vencedor em cada categoria de dimensão, mas houve muitos finalistas: ao todo 35 empresas chegaram ao topo, cinco por categoria exceto na maior categoria (caso em foram dez as empresas nomeadas). A partir desta lista de finalistas poderemos, então, entrever algumas tendências.

O que nos dizem estas 35 empresas sobre a sua proveniência geográfica? Elas chegam de 11 unidades federativas, ou seja, 40,7% das 27 unidades territoriais que compõem a União (ver mapa).

Mapa origem ISPs que ganharam Premio Abrint

Os estados com mais presença no total dos 35 provedores com maior qualidade revelada foram São Paulo (com 14 empresas), Minas Gerais (7) e Santa Catarina (4). Dois estados tiveram duas empresas finalistas cada um: Rio Grande do Sul e Pará. Os demais estados foram contemplados com uma presença: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba e Paraná.

Sabemos agora de onde  aparecem essas empresas. Porém, o que sabemos sobre como  aparecem? Isto é, por crescimento orgânico ou por consolidação? E o seu capital, permanece com os fundadores ou está aberto para fundos e outros agentes interessados?

A origem do capital

Ao compilarmos os dados descobrimos que hoje em dia 15 empresas são grupos ou resultado de fusões & aquisições. E vemos também que a esmagadora maioria (14) destes casos de consolidação estão concentrados nas categorias de empresas com maior dimensão, ou seja, acima do limiar dos 50 mil acessos. O mesmo se passa com a base do capital, isto é, 9 empresas têm capital aberto e 8 delas são das categorias dos maiores provedores. Notamos, assim, e a partir da análise destes prémios Abrint 2023, que existe uma relação entre desenvolvimento organizacional e a dimensão das empresas.

À luz destes dados percebemos melhor como está a mudar essa vibrante realidade das telecomunicações brasileiras, mas sentimos também como a situação ainda é assimétrica. Surgem também desta análise algumas implicações, e é talvez com estas reflexões finais que podemos seguir em frente.

Em primeiro lugar, quando este ano o Cade publicou um importante relatório sobre o mercado de telecomunicações somos levados à opinião que o segmento insurgente do setor recebeu pouca atenção  quando comparado com o bloco incumbente dos grandes operadores. Por outras palavras, o negócio está hoje muito mais dinâmico, diversificado e imprevisível do que até há pouco tempo se pensava. E uma das novidades é mesmo essa franja de novos protagonistas de pequeno porte.

Em segundo lugar, já é palpável uma mutação de lógicas organizativas. Isso a manifesta-se na concentração de pequenos provedores que vão dar corpo a novas formas corporativas. Isso é dizer que, com muita probabilidade, o ciclo de vida da indústria sofreu já uma inflexão . Ora, isso é relevante para a percepção de agências como o Cade (mas também a Anatel) vão construindo sobre o setor. Contudo, essa transformação também será importante para as estratégias de outros entes públicos, como o BNDES ou o CGEE, e privados, como fundos de capital de risco e investidores-anjo.

Por fim, uma implicação decorre também para a Abrint e outras associações congêneres. Estas iniciativas de promoção, de destaque e de desenvolvimento das massas empreendedoras valem a pena. Mas à medida que estas organizações coletivas se vão tornando mais importantes, tendo como suporte empresas cada vez mais maduras, a inovação vai também sendo cada vez mais importante de modo a manter o dinamismo e a coesão. Uma ideia no próximo ano poderia ser atribuir uma menção honrosa por Estado, para dar o sinal que existe muita excelência tanto no fim da rua como no fim do sertão ou da selva.

NOTA FINAL: os melhores esforços foram canalizados para colher e integrar a informação disponível. Os dados da Abrint são públicos. O critério de localização foi a sede das empresas, mas poderiam haver outros critérios. A avaliação da natureza dos provedores e do seu capital contou com insumos de participantes empresariais, de representantes de várias (três) associações de provedores e também de especialistas da regulação. Agradeço a todos.

*Por Sandro Mendonça

Professor da Iscte Business School (Portugal) e

Conselheiro do Centro de Altos Estudos da Anatel (Ceatel)

 

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