Proposta de Refis para regulados pode rever gestão de multas da Anatel

Projeto de refinanciamento está em 'avaliação política' como parte das alternativas para bancar desoneração da folha. Em 2023, Agência constituiu 668 multas e 67% não foram arrecadadas.

 

Em 2023, valor de multas não arrecadadas pela Anatel chegou a R$ 98 milhões. | Foto: Carolina Cruz/Tele.Síntese
Em 2023, valor de multas não arrecadadas pela Anatel chegou a R$ 98 milhões. | Foto: Carolina Cruz/Tele.Síntese

Senadores anunciaram na noite de quinta-feira, 13, uma lista de propostas que se encontram “em avaliação política” para compensar a desoneração da folha de pagamento. Consta entre elas eventual programa de refinanciamento (Refis) de multas aplicadas pelas agências reguladoras. Se colocada em pauta, a medida pode provocar uma revisão na gestão de sanções da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

A ideia inicial é de que o conjunto de propostas de compensação à desoneração seja apresentada em um projeto de lei de iniciativa do senador Efraim Filho (União-PB). Ao Tele.Síntese, o parlamentar afirmou que ainda não há um projeto a ser usado de referência no Senado. A construção dos termos terá colaboração da consultoria legislativa.

A gestão de multas no setor de telecomunicações tem suas particularidades. Embora a regularidade fiscal das prestadoras seja um requisito para participar de licitações, requisitar outorgas e celebrar contratos, há judicialização e inadimplemento. Diante disso, a Agência vem convertendo as sanções em obrigações de fazer (saiba mais abaixo).

Apenas em 2023, a Anatel constituiu 668 multas, mas 67% delas não foram arrecadadas, de acordo com Relatório de Gestão. Em valores, o volume financeiro das sanções somou R$ 225 milhões, enquanto que o montante recolhido foi de R$ 127 milhões.

Dos R$ 98 milhões não arrecadados, R$ 78,9 milhões estão suspensos judicialmente.

Ainda conforme o Relatório de Gestão, em relação às 450 multas ainda não arrecadadas, a Anatel tem adotado medidas de cobrança em parte delas. “Para 218 multas foram expedidos comunicados aos devedores alertando de que o não pagamento do débito implica inclusão no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin), no prazo de 75 dias a contar do recebimento da notificação”, informa o documento.

Caso não haja pagamento prossegue-se para “a inscrição do devedor no Cadin e encaminhamento o processo para a Procuradoria Federal Especializada com vistas à inscrição em Dívida Ativa e ajuizamento de execução fiscal judicial”, há exceção apenas para os casos em que o valor do crédito seja inferior aos limites mínimos estabelecidos em regulamento.

Anatel converte multas

Desde 2019, a Anatel incorporou a possibilidade de sanção de obrigação de fazer alternativamente à sanção de multa, envolvendo projetos como a ampliação da cobertura do 4G e o provimento de conectividade em escolas públicas.

Ainda de acordo com o mais recente Relatório de Gestão, “das 39 propostas de sanção de obrigação de fazer contidas em decisões de 1ª instância ou em grau recursal, duas foram cumpridas e atestadas e 11 estão em acompanhamento, correspondendo a investimentos nos montantes de R$ 11 milhões e de R$ 232 milhões, respectivamente”.

As demais 26 propostas, que totalizariam mais R$ 449 milhões, “não foram aceitas pelas prestadoras”, segundo o documento.

Desoneração

A busca de alternativas para compensar a desoneração faz parte do acordo que está em construção entre governo e Congresso Nacional para o tema. A proposta do governo, que seria de restringir o uso de créditos do PIS/Cofins, foi rejeitada pelo Legislativo. Com isso, espera-se que os parlamentares apresentem sugestões para bancar o desfalque nas contas, sob risco da lacuna ser considerada inconstitucional.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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