Programa de Formação Docente em Competências Digitais

Uma aprendizagem sobre tecnologia e com tecnologia
Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo

O desenvolvimento das competências digitais tornou-se fundamental para acompanhar a evolução tecnológica, facilitar os processos de aprendizagem e preparar os estudantes para o mercado de trabalho. No entanto, o desafio vai além da disponibilidade de equipamentos e conectividade nas escolas, uma vez que também é preciso capacitar os professores para utilizar essas ferramentas com intencionalidade pedagógica, e de forma eficaz. Assim, iniciativas como o Programa de Formação Docente em Competências Digitais, implementado em 2022, fruto da parceria entre Fundação Telefônica Vivo, Instituto Natura e Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso (Seduc-MT), assumem papel relevante para o atual contexto educacional do país.

Na agenda pública, esse assunto vem sendo discutido pela Coalizão Tec Educação, que atua em três frentes para alcançar o potencial máximo do uso da tecnologia na educação. A primeira delas diz respeito à premissa de que as escolas devem ter equipamentos de conectividade para uso pedagógico, com especificações mínimas que garantam acesso a todos os estudantes. Outra frente, liderada principalmente pelo Centro De Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), atua para que as Secretarias de Educação possuam recursos educacionais digitais – de gestão e pedagógicos – implantados, e com equipe técnica fortalecida e integrada para ações de inovação e tecnologia. A intenção é que as ferramentas sejam suporte para um melhor acompanhamento dos dados escolares ao longo do processo de desenvolvimento dos estudantes e para garantir rapidez no processo de alocação dos professores, entre outras tomadas de decisão.

A terceira frente está diretamente relacionada ao desenvolvimento de competências digitais das equipes escolares (diretores, coordenadores pedagógicos e professores), fundamental para que os equipamentos sejam utilizados com foco no objetivo principal: a aprendizagem dos estudantes. Ou seja, parte-se do princípio de que não adianta a escola ter equipamentos e dispositivos eletrônicos, se não tiver professores preparados para usá-los. E foi aqui que a Fundação Telefônica Vivo atuou com a implementação do Programa Formação Docente em Competências Digitais, no Estado do Mato Grosso. A formação oferecida pelo Programa englobou uma variedade de trilhas adequadas a diferentes contextos, de acordo com o nível de desenvolvimento de competências digitais dos professores. Isso só foi possível graças a um diagnóstico feito com a ferramenta de autoavaliação Guia EduTec, desenvolvida pelo CIEB e disponível gratuitamente a qualquer professor do país.

O questionário do Guia EduTec conta com 23 perguntas que avaliam as competências digitais em três áreas: pedagógica, cidadania digital e desenvolvimento profissional. O resultado é dado em até cinco níveis: o primeiro (exposição) e segundo (familiarização) indicam que o professor dificilmente consegue levar a questão da tecnologia para suas práticas pedagógicas com foco na melhoria da aprendizagem dos estudantes. O terceiro (adaptação) e o quarto (integração) apontam um conhecimento adequado para uso da tecnologia em prol de ações como personalização da aprendizagem; é quando o professor consegue integrar o uso da tecnologia ao currículo. Já o quinto nível (transformação) evidencia a tecnologia como um recurso para a produção de conhecimento, e os docentes neste nível podem, inclusive, apoiar seus pares no tema. A partir os resultados, a estrutura da formação variou de acordo com o perfil e as necessidades dos educadores, garantindo uma abordagem adequada a cada grupo de professores, de acordo com o nível.

Alguns pontos foram especialmente significativos para o sucesso do Programa, como o compromisso da Secretaria de Educação, Seduc-MT. O Mato Grosso já vinha direcionando sua atenção para a importância da tecnologia na sala de aula e para o aprimoramento das práticas pedagógicas. Dessa forma, garantiu conectividade e equipamentos em todas as escolas para professores e estudantes, e priorizou o tempo e a disponibilidade dos docentes para participação nessa jornada formativa, entre outras ações estratégicas.

O Programa demonstrou impacto positivo de forma significativa nas práticas dos educadores e no engajamento dos alunos. Houve aumento de 30 pontos percentuais na participação dos professores com níveis de apropriação adequados, de acordo com o Guia EduTec. Além disso, 90% dos docentes da rede que receberam a formação tiveram crescimento em seus níveis de apropriação das competências digitais. O patamar de adesão também foi relevante: mais de 16 mil professores participaram do programa de formação e 51% dos municípios no estado aderiram à política em regime de colaboração.

Após um ano de Programa, os professores repetiram a autoavaliação e os resultados foram muito positivos. O número de educadores que se encontravam nos níveis um e dois diminui em 14,4 e 13 pontos percentuais, respectivamente. E, mais importante, histórias como do professor de Química Roger Vinicius Nunes Queiroz da Costa, da Escola Estadual João Panarotto, em Cuiabá, mostram como a formação permitiu a incorporação de tecnologias de forma criativa e eficaz, estimulando a participação dos estudantes e diversificando as estratégias pedagógicas. No Webinário “Como incorporar as competências digitais na formação de educadores de escolas públicas”, conduzido pela Fundação Telefônica Vivo para compartilhar os resultados do Programa, Roger contou que essas abordagens possibilitaram que os alunos se tornassem mais participativos e engajados no processo de ensino e aprendizagem, assumindo um papel de protagonismo.

Sempre teremos desafios, mas os resultados obtidos até o momento incentivam a continuidade e o aprimoramento do programa, reiterando seu papel fundamental da iniciativa na construção de uma educação digital inclusiva e eficiente. O programa já está sendo replicado em outras regiões do Brasil, como Pernambuco e Maranhão, adaptando-se às realidades locais e visando alcançar um número cada vez maior de educadores. O objetivo principal é garantir que pelo menos 70% dos professores das escolas públicas de todo o país tenham as competências digitais adequadas até 2030.

A formação em competências digitais é um pilar importante para a modernização e melhoria da educação. O Programa de Formação Docente em Competências Digitais no Mato Grosso demonstra o potencial transformador dessas iniciativas, impulsionando o avanço educacional e preparando professores e alunos para os desafios do mercado de trabalho daqui para frente.

Para garantir a sustentabilidade e a expansão dos impactos do Programa de Formação Docente em Competências Digitais no longo prazo, é fundamental o engajamento contínuo das redes públicas, com foco na equidade e na implementação de políticas que garantam as melhores oportunidades para todos os estudantes.

 


Por Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo

 

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Da Redação

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