Por trás das inovações: Municípios buscam alternativas para financiar projetos
“Ninguém vai ligar para as Prefeituras e falar: ‘Olha, tem uma verba aqui para você. É preciso fazer o alinhamento dos planos municipais. A cidade é multidisciplinar’”, a observação de Waleska Del Pietro, integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia e também do Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, é o ponto de partida na busca por recurso para projetos de cidades inteligentes. Ela e gestores públicos falaram sobre os percalços no caminho da inovação durante o Smart Cities Mundi, evento promovido pela Momento Editorial, nesta quinta-feira, 17.
O encontro reuniu representantes das Prefeituras de Águas de São Pedro, Jundiaí e São José dos Campos, todos em São Paulo, para compartilhar as principais soluções implementadas e o arranjo necessário para custeá-las.
Em Jundiaí (SP), a Prefeitura começou a investir em um projeto para tornar a cidade inteligente a partir de 2017, com recursos do próprio orçamento e, em 2019, a cidade já estava entre as top 10 mais inteligentes do país, de acordo com o Ranking Connected Smart Cities.
O diferencial de Jundiaí em relação a outros municípios brasileiros está na estrutura organizacional. A cidade tem uma companhia de informática pública, a Cijun, considerada estratégica para o desenvolvimento tecnológico na região, segundo o secretário Adjunto de Finanças, Jones Henrique Martins.
“Isso faz com que os sistemas implantados na Prefeitura se tornem políticas públicas, independente da troca de governo. […] Uma cidade inteligente não é aquela que apenas possui sistemas, mas sim aquela que consegue entender muito bem os seus processos, usar seus dados, não é uma ação que fica pronta de uma noite por dia. Tem que ser feita de forma continuada”, observa Martins
Entre as soluções automatizadas que já em funcionamento por lá está o gerenciamento de dados de trânsito e monitoramento por imagens. Recentemente, a Prefeitura firmou financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) que garantiu recurso para ampliar a rede de câmeras inteligentes em locais estratégicos da cidade.
Na Saúde, o município dispõe de prontuário eletrônico, que integra as unidades de saúde da Prefeitura, compartilhando exames entre as instituições.
Quanto aos recursos, Martins explica que a maior parte da receita municipal vai para a folha de pagamento. Além dos recursos da Cijun, a Prefeitura conta com financiamentos. Entre os contratos recentes está um firmado por meio do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), sendo R$ 10 milhões para transformação digital, e também do BNDES, que proporcionou custear data center, de R$ 30 milhões.
São José dos Campos
O município de São José dos Campos (SP), que abriga um Parque Tecnológico, também acumula cases. A digitalização já proporciona gerenciamento de atendimentos na saúde, sistema de localização de transporte público, monitoramento de segurança com câmeras, além de plataforma de reserva de vagas para serviços de cultura, educação e esporte.
Um dos projetos destacados pelo secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São José dos Campos, Alberto Alves Marques Filho, é o chamado Observa, que promove o monitoramento do território municipal via satélite, em parceria com a Empresa Visiona Tecnologia Espacial S.A. A solução é usada desde 2018 para auxiliar a fiscalização de áreas com proteção ambiental e para combater a construção irregular.
“A cada três dias, a cidade é toda fotografada por nove satélites. Há um sistema de Inteligência Artificial que sobrepõe essas imagens, e o próprio sistema já faz o relatório de ocorrências”, explica o secretário Marques Filho.
São José dos Campos é uma dentre as 12 cidades brasileiras que fecharam parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em projeto de cidades inteligentes para instalar luminárias com recurso de conexão à rede 5G SA. No município, elas ficam no centro da cidade, perto de UBS, cartório, lojas e restaurantes. “Agora, vamos reunir essas operações e tentar desenvolver soluções comerciais”, disse o gestor.
Para a execução dos projetos tecnológicos da região, o secretário cita opções que considera de baixo custo, como parcerias com startups e o modelo integrado de “Mobility as a Service – MaaS” para a rede de fibra.
Águas de São Pedro
Em Águas de São Pedro, município com cerca de 4,5 mil habitantes, a digitalização está só começando. Até pouco tempo, o Diário Oficial da Prefeitura tinha apenas edições impressas. “Literalmente, hoje, nós estamos começando a implantar o sistema sem papel aqui na Prefeitura”, conta o prefeito, João Victor Barboza.
De acordo com o gestor, sem a digitalização dos sistemas, diversos processos internos são mais lentos, como licitações e solicitações de acesso à informação. Uma das inovações já implementadas ocorreu no serviço de saúde, que agora opera com sistema automatizado para gerenciar os atendimentos, com chatbot, que auxilia na redução do absenteísmo, as faltas ou atrasos.
“Aumentamos a quantidade de consultas em 23,5% nos últimos 15 dias, porque o pessoal agora é avisado pelo WhatsApp”, disse o prefeito.
Já outros projetos, que demandam mais recursos públicos e parcerias, são exemplos de dificuldade.
“Tivemos aqui um projeto piloto feito com uma rede de telefonia, que não foi pra frente após a troca de presidente [na empresa]. Naquela época, foi instalado até um sistema de controle das vagas de trânsito na nossa avenida. Mas como isso se perdeu no caminho, praticamente tudo que tinha sido feito se foi, com exceção da parte de infraestrutura de rede de telefonia e internet”, conta o prefeito.
A Prefeitura tenta dar continuidade ao trabalho com tecnologia, com recursos públicos, sendo esse um dos principais desafios. A automatização da gestão de atendimentos de saúde, por exemplo, contou com parceria de empresa e com aumento da distribuição de verba para a Atenção Básica por parte do governo federal.
“Nós somos um dos menores municípios do país. Nós não temos outros tipos de receita. Aqui não tem indústria, não tem zona rural, aqui a gente só vive do Turismo e dos repasses diretos […] O jeito de aumentar a arrecadação foi o Turismo, que investimos pesado, para que as empresas começassem a olhar diferente pra cá ”, explica o gestor.