Teles investem em energia própria

Claro, Oi, Vivo e TIM pretendem concluir projetos de geração distribuída neste ano. A estratégia é ter usinas geradoras nos estados de maior demanda, a fim de reduzir os custos com a compra do mercado tradicional elétrico. Os custos podem ser 20% mais baixos.

As maiores operadoras de telecomunicações do Brasil trabalham para reduzir (muito) a dependência que têm do mercado cativo de energia elétrica – aquele em que a distribuidora cobra o preço determinado pela Aneel, sem negociação possível junto ao consumidor. Para isso, todas apostam na construção de usinas dentro do conceito de geração distribuída (GD), além da compra no mercado livre.

Claro, Oi, TIM e Vivo estão investindo onde podem para diversificar suas matrizes de consumo, obter energia limpa e reduzir os gastos. Todas preveem aumento do consumo elétrico conforme a banda larga e a telefonia móvel no país ganham mais usuários.

São dezenas de milhares de torres e antenas que precisam ser iluminadas, data centers e centrais que têm de funcionar sem falhas, sem parar, e cada vez com maior intensidade. A chegada de novas tecnologias, como a 5G, embora seja mais eficiente em termos energéticos, tende a aumentar a conta de luz em função da “densificação” das instalações de novas antenas.

Sustentabilidade

“Ao mesmo tempo em que investimos em fontes renováveis, conseguimos trabalhar com economia. No primeiro tranche [de GD], em que ligamos 2,3 mil pontos, tivemos ganhos financeiros de 24% comparado com o mercado cativo”, relata Caio Silveira Guimarães, diretor de patrimônio da Vivo.

A empresa do grupo espanhol Telefónica tinha como objetivo iniciar 2019 usando energia apenas de fontes sustentáveis ou, quando não fosse possível, recorrer a certificados de energia renovável (RECs). E conseguiu. Todos os seus 30 mil pontos de consumo são abastecidos por energia renovável vinda de geração distribuída, do mercado livre incentivado, ou do mercado cativo – neste caso, compensados pela compra dos RECs.

A companhia consome 200 MW médio por mês. Ainda compra 65% da energia total que consome no mercado cativo. Mas a intenção é diminuir o quanto for possível, até quase eliminar a dependência desta fonte em 2030. A Vivo começou sua história em GD por Minas Gerais, onde abastece torres com energia vinda de pequenas hidrelétricas (CGHs), desde dezembro. Isso corresponde a cerca de 5% do total de energia consumido pela empresa.

Uma segunda fase do projeto, em que haverá a compra do dobro do volume usado em MG, será contrata neste ano e começará a operar em 2020. “Vamos fazer uma RFP ainda neste semestre. A ideia é usar energia de geração distribuída em 10 diferentes áreas de concessão de energia”, explica Guimarães. Além das CGHs, a empresa espera investir em solar e eólica nesta nova etapa.

Menos insegurança

Os executivos das operadoras de telecom brasileiras se deram conta em 2015 que precisariam criar uma estratégia de investimentos para reduzir a dependência do mercado cativo de eletricidade. O governo Dilma chegou a permitir na época aumentos de 100% nas tarifas em alguns estados. A medida era vista como necessária para sanear as contas do setor elétrico pelo então ministro da Fazenda Joaquim Levy, hoje presidente do BNDES do governo Bolsonaro.

Ainda em 2015 a Aneel publicou a resolução 687, que autorizava o investimento por consórcios em usinas de GD, mesmo em usinas distantes do local de consumo. Abriu-se a oportunidade para empresas de todos os segmentos realizarem aportes com risco reduzido – e as teles não ficaram de fora.

A Claro tomou a dianteira. “Investir nisso é estratégico porque energia é um insumo fundamental, é sustentável e é importante para o modelo de negócio a questão da previsibilidade dos custos, para reduzir riscos. Tivemos anos recentes em que a conta de energia variou 20%. Não tem business case que pare em pé com essa variação”, ressalta João Pedro Neves, diretor de Suporte Financeiro ao Negócio da Claro Brasil.

Hoje a empresa do grupo mexicano América Móvil tem talvez o maior projeto dentre as operadoras, um dos maiores dentre empresas privadas do país. Com um consumo de 150 MW médio ao mês, tem contratos com nove usinas espalhadas por quatro estados (MG, MS, SP e PR). A primeira foi contratada já em 2015.

“Compramos ainda 60% do mercado cativo, mas queremos chegar a 80% de fontes sustentáveis. Nosso projeto prevê o uso de 63 usinas, temos nove prontas, portanto faltam 54, de todo tipo: solar, eólica, CGHz, biogás, cogeração qualificada. Ainda este ano teremos todas prontas”, diz.

Como os demais, o executivo da tele não diz quanto investiu no segmento elétrico. Mas afirma que a compra de energia de GD traz economia de 15% a 20% dos custos comparados ao mercado cativo. A empresa gasta, apenas com eletricidade, R$ 1 bilhão ao ano, segundo ele.

Além do mercado livre

A abordagem da TIM no segmento consiste em comprar energia de geração distribuída em baixa tensão para iluminar as antenas, e recorrer ao mercado livre de energia para manter em funcionamento centrais e data centers. A companhia atingiu o limite de compra possível no mercado livre e já cogita como endereçar as necessidades em média tensão também com outras fontes – mantendo sempre o foco no que é renovável e limpo.

A empresa está concluindo a contratação de energia de GD para 11.225 sites, espalhados por 21 estados. “Serão 37 usinas no novo projeto. Foram escolhidas 12 empresas que serão as fornecedoras e estamos neste momento em fase de implantação. A maioria das usinas já está pronta para operar, restam apenas as solares. Agora vamos entrar na fase de negociação com as distribuidoras para fazer a conexão”, explica Bruno Gentil, VP de Recursos Corporativos da TIM Brasil.

Com isso, até 2020, terá usinas em 23 estados. Isso porque desde dezembro conta com uma iniciativas de biogás em São Paulo, que produz energia a partir de lixo, e desde 2017 contrata cinco CGHs em Minas Gerais que fornecem energia para 1.168 sites no estado. A TIM tem um consumo de 80 MW médio e, em 2018, comprava 72% de sua energia no mercado cativo, 20% no mercado livre, e 8% provinha de GD. Até 2020 pretende inverter essa equação.

Mais uma vez, o impacto financeiro é fundamental. “Os contratos de GD têm uma redução média de dois dígitos, de 12% a 18% em média, na fatura de energia, que é diluído ao longo do tempo”, destaca Gentil. Até 2032, a TIM pretende reduzir os custos com energia pela metade.

Corte de custos

A Oi chamou recentemente um novo executivo para estruturar a estratégia de energia da operadora. O consumo da tele é o maior dentre as quatro operadoras (130 GWh médios por mês), graças ao número também maior de pontos de consumo (são 68 mil, das quais, 66 mil em baixa tensão). Além disso, passa por uma recuperação judicial que prevê reestruturação dos gastos e economias onde for possível. Aí entra o plano de investir em fontes de energia que não sejam do mercado cativo.

“Buscamos esforços para reduzir custos operacionais de forma eficiente e inteligente, trazendo as melhores práticas do mercado para o dia a dia da companhia, associando também a redução de custos à sustentabilidade. Entre as iniciativas previstas no plano estratégico da companhia de eficiência energética, está a de diversificar a sua matriz de consumo, utilizando fontes renováveis com menor custo, além de ações estruturantes nas unidades consumidoras”, diz Bernardo Scudiere, diretor de energia da Oi.

Para isso haverá migração em larga escala para o mercado livre e GD, em detrimento do cativo. “Dos 130 GWh mês médios de consumo total, em 2019, a Oi pretende diversificar o mix de consumo, atingindo 50% do mercado livre incentivado e 30% em Geração Distribuída. Os 20% restantes são pequenas unidades do mercado cativo”, completa.

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Rafael Bucco

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