Onda das fintechs deve durar mais cinco anos, prevê Bradesco
As empresas tecnológicas de serviços financeiros, fintechs, vieram para ficar e vão continuar surgindo às centenas pelos próximos cinco anos, ao menos. A previsão é do Banco Bradesco, que se diz atento a esta onda e pretende capitalizar o fenômeno.
Segundo Fernando Moraes de Freitas, gerente de inovação do banco, as instituições financeiras tradicionais precisam prestar atenção ao que está acontecendo. “Em dez anos, boa parte do mercado deve ser deslocada para novos entrantes. De 20% a 30% dos serviços financeiros na Ásia já são prestados por não bancos. No mundo, as fintechs são usadas em média por 15,5% das pessoas usuárias de tecnologia”, ressaltou, citando dados de estudo da Ernest Young (EY) sobre o tema.
No Brasil, 11% das pessoas conectadas já recorrem a alguma fintech. Freitas participou de evento da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), realizado nesta segunda-feira, 05, em São Paulo.
O executivo calcula que, desde 2011, as fintechs receberam aportes cujo total se aproxima dos US$ 50 bilhões, no mundo. Apenas em 2016 essas empresas foram alvo de quase US$ 25 bilhões. “O valor é maior que os investimentos conjuntos dos bancos em TI”, disse o executivo.
A seu ver, os bancos precisam agir, e rápido, para aproveitar o momento antes que sofram o mesmo que outros setores impactados pela digitalização. “O mundo das telcos é um exemplo onde os entrantes pegaram um grande volume dos serviços tradicionais. Pode ser isso que aconteça no mercado financeiro.
Segundo dados da consultoria Mckinsey, há na América Latina 352 fintechs. Desso total, 170 estão sediadas no Brasil.
Regulação
Essa transformação no mercado financeiro já exige resposta dos reguladores. No mundo, os asiáticos são considerados os mais avançados em termos de liberdade de ação sem afetar a estabilidade dos serviços tradicionais, que mantém a economia.
O ponto que mais cedo deve ser analisado no Brasil diz respeito à posse dos dados. “No mundo começa a se discutir se a informação pertence aos bancos ou aos clientes. O Banco Central europeu, por exemplo, defende o compartilhamento de parte das informações dos clientes com outras empresas para permitir a melhoria e inovação de serviços. A sociedade brasileira vai ter que debater isso também nos próximos cinco anos”, lembrou.
Segundo Mardílson Queiroz, executivo do departamento de normas (DNOR) do Banco Central, a posição brasileira é de receptividade aos novos entrantes. “O Banco Central vê como positivas essas inovações para o mercado financeiro nacional e para o país. É um processo inevitável, irreversível, que traz eficiência tanto para os incumbentes, como para os novos entrantes, resultando em um serviço mais competitivo”, falou.
Há, no entanto, posição de cautela, com o Bacen fazendo intervenções em segmentos específicos à medida que se estabelecem. Foi regulação de 2013 para o mercado de pagamentos que permitiu, por exemplo, o surgimento de bancos totalmente digitais, como Nubank e Superbank, comprado pelo Santander. E os próximos segmentos a ser abordados serão os de peer-to-peer lending (ferramentas de empréstimos entre pessoas físicas) e crowdfunding (financiamento coletivo).
A posição de observar, mapear e monitorar antes de agir segue aconselhamento de organismos internacionais. Essa atitude ajuda a evitar que decisões regulatórias se tornem obstáculos ao surgimento de produtos inovadores.
Mas há quem haja, especialmente centros financeiros globais. Os países mais avançados em suas propostas regulatórias são Austrália, Canadá, Inglaterra, Hong Kong, Singapura. Nestes três últimos adotou-se o conceito de “sandbox” regulatório, espécie de limbo legal vigiado no qual as empresas podem inovar e trabalhar antes de ganhar volume. Em caso de sucesso, a regulação no segmento é aperfeiçoada.
No caso brasileiro, o Banco Central acaba de montar um grupo de trabalho com a missão de monitorar o avanço das fintechs e seus impactos tanto nos bancos tradicionais, como na sociedade.