Nota técnica do IPEA indica reconfiguração do setor de telecom devido à 5G

Outros dois estudos que circulam na Anatel mostram diferentes cenários para implantação das redes. Um deles sugere que a implantação da 5G SA vai reduzir a dependência das operadoras em relação aos fornecedores tradicionais.

Uma nota técnica publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério da Economia, prevê que a 5G vai modificar o cenário de telecomunicações no mundo, Brasil incluído.

O documento foi elaborado pelo consultor Robert Spadinger e não deve ser lido como a opinião nem do Ipea, nem do Ministério. Mas é um dos materiais que contribuem para a recomendação, por parte da pasta, de políticas públicas para a área no país.

O relatório, publicado em 12 de janeiro, traça cenários para a chegada da 5G e seu impacto na indústria de telecomunicações mundial. Deixa claro que o mercado das operadoras virou de cabeça para baixo nos últimos anos, que viram seus custos com tráfego de dados explodirem, enquanto as receitas mantiveram o ritmos de crescimento  lineares.

Com base nisso, o autor avalia que caberá aos reguladores papel decisivo. “O negócio telecomunicações definitivamente mudou, e isto deve ser levado em consideração pelos reguladores, no intuito de fomentar a inovação e facilitar a criação de tamanha infraestrutura responsável por sustentar a economia digital”, resume.

Ele antevê o surgimento de operadoras de banda larga fixa baseada nas redes 5G. “O ecossistema sugere que poderemos ver novas operadoras aparecendo, dedicadas a serviços de banda larga fixa, por exemplo (fixed wireless access – FWA)”.

Também os fornecedores vão enfrentar desafios com a reconfiguração. Ele cita o fato de a 5G Pura operar com o núcleo todo virtualizado, o que abre possibilidade para desenvolvedores de software surgirem com preços baixos e desbancar os atuais fabricantes líderes do mercado. E ressalta que eixo do desenvolvimento de propriedade intelectual se deslocou do Ocidente para o Oriente, com as empresas da China concentrando o maior número de patentes em 5G.

“A cadeia de valor se modifica a todo instante e o que se pode afirmar é que será, novamente, totalmente reconfigurada na próxima década, antes da chegada da próxima evolução. Mais do que nunca, as telecomunicações convergiram de forma irrefutável com a tecnologia da informação”, diz.

5G SA e NSA

Spadinger não acredita na chegada da 5G Standalone de uma vez no Brasil, caso a opção seja exclusiva do mercado. As empresas deverão seguir estratégias de transição paulatina que aplicaram ao 3G e ao 4G, de atendimento de áreas prioritárias e convivência tecnológica por anos.

“Da mesma forma como os padrões anteriores, o 5G entrará aos poucos, assim que as novas especificações
ficarem prontas e os novos equipamentos forem produzidos, instalados, testados e aprovados pelo mercado. O desafio será encontrar as aplicações que fomentarão a necessidade dos investimentos”, avalia.

Na Anatel circulam outros estudos contendo cenários para a implantação da 5G. Um estudo acadêmico  de autoria de Amine El Rhayour, da Escola Nacional de Ciências Aplicadas do Marrocos, aponta seis estratégias que as operadoras podem adotar para transitar do 4G rumo à 5G. Considera que, para uma operadora, o melhor seria uma transição que suporte implantações paralelas, usando um “núcleo flexível baseado em nuvem”, e que é possível estabelecer o handover da rede 5G para o 4G, desde que a cobertura 5G seja nacional. Baseada no release 15 da 3GPP.

Outro estudo, publicado na revista da IEEE, a instituição internacional dos engenheiros, também compara a eficiência de implantações de 5G NSA e SA. E conclui que o melhor modelo de transição depende da estratégia comercial da operadoras. Ressalta que a SA tem grande vantagem tecnológica e pode ser até mais barata que uma estratégia NSA no longo prazo, por romper a dependência da operadora em relação ao fornecedor de sua rede 4G. No curto prazo, o NSA compromete menos Capex.

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Rafael Bucco

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