“Não tive alternativa”, diz Silas Câmara sobre pautar proibição do fair share

Ao Tele.Síntese, presidente da Comissão de Comunicação afirma que inclusão do projeto em pauta se deu diante da ausência de contraponto. "Não tinha ‘um’ deputado pela retirada", explica.

 

Silas Câmara, presidente da CCom, é contra o fair share, mas reforça que defendeu o debate (foto de arquivo)| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Silas Câmara, presidente da CCom, é contra o fair share, mas reforça que defendeu o debate (foto de arquivo)| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O presidente da Comissão de Comunicação (CCom) da Câmara dos Deputados, Silas Câmara (Republicanos-AM), explicou nesta quinta-feira, 5, que pautou o projeto de lei que proíbe o fair share pela falta de deputados que defendessem o contrário. Procurado pelo Tele.Síntese, o parlamentar afirma que tentou garantir o debate antes da deliberação, dentro dos limites de sua atribuição.

Trata-se do Projeto de Lei (PL) 469/2024, de autoria do deputado David Soares (União-SP), que insere nova regra no Marco Civil da Internet para impedir que as operadoras implementem cobrança das plataformas digitais pelo tráfego gerado por elas. Na CCom, a proposta recebeu parecer favorável da deputada Silvye Alves (União-GO), mas um acordo previa que a votação se daria após ao menos uma audiência pública. 

O debate ocorreu na terça-feira, 3, véspera da sessão que colocaria o tema em pauta. A audiência foi presidida por Silas Câmara, mas sem a participação de deputados, nem mesmo do autor do requerimento, Fernando Coelho (União-PE), mas com exposições de associações favoráveis e contrárias ao projeto. No término da discussão, o presidente anunciou que retiraria o projeto de pauta para dar mais tempo para um “amadurecimento”, citando inclusive a ausência de parlamentares na audiência. No entanto, a proposta foi pautada e aprovada sem discussão no dia seguinte. 

“O projeto foi pautado porque deu quórum na comissão e os deputados que estavam presentes avocaram a ata da reunião em que houve um acordo para que fosse votado o relatório. Como não tinha nenhum deputado para fazer a contradita do que eles estava pedindo, para fazer o enfrentamento do debate, eu, como presidente, não poderia fazer sozinho, até porque presidente não faz debate, presidente preside“, relata o deputado à reportagem.

A votação simbólica, sem discussão, também é atribuída à falta de contraditório. “Mesmo que eu colocasse em votação nominal, não faria sentido, porque estava na cara que o interesse de quem não queria [a aprovação do projeto] não estava muito claro. A mesma coisa que aconteceu na audiência pública [ausência de deputados contra o fair share] aconteceu na sessão deliberativa”, acrescentou Silas Câmara.

O presidente da CCom afirma que fez sua parte “só em ter feito uma audiência pública que ninguém queria”. “Não tinha ‘um’ deputado pela retirada de pauta […] Agora, eu defender uma coisa que o interesse é dos outros fica complicado“, explica. 

Até houve requerimentos de retirada de pauta do projeto de lei, mas os autores não compareceram ao colegiado na sessão de votação, impedindo que o adiamento fosse deliberado para além da intenção do presidente.

Posição sobre fair share

O posicionamento pessoal de Silas Câmara sobre o mérito do projeto de lei seria, a princípio, por mais debate, considerando que está prevista uma tramitação curta na Casa. “Sou a favor que não pague, mas também sou a favor que haja diálogo”, afirmou. 

A cobrança é defendida pelas operadoras como forma de custear o investimento em infraestrutura demandado pelo tráfego das principais plataformas utilizadas no país, como de vídeo sob demanda (VoD) e redes sociais. As big techs, empresas de radiodifusão e parte dos provedores regionais, no entanto, são contra, alegando que a medida poderia impedir o acesso igualitário aos conteúdos tanto por parte dos consumidores quanto das prestadoras de menor porte. (veja os argumentos apresentados durante o debate neste link)

A proposta segue à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, se aprovada, pode ir direto ao Senado Federal, salvo em caso de apresentação de recurso para votação em Plenário.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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