Momento é próspero para fintechs, diz presidente da ABFintechs

Diego Perez acredita que o compartilhamento de dados pelos clientes das instituições financeiras e de pagamento no Open Finance cria ambiente favorável para florescimento de fintechs e novos produtos financeiros; com aumento da competição, bancos também são estimulados a inovar
Diego Perez, presidente da ABFintechs: “O ambiente é favorável para o florescimento de novas fintechs e para o desenvolvimento de produtos desenvolvidos exclusivamente por essas empresas”. | Foto: Divulgação

Mais de 43,8 milhões de consentimentos dos usuários do ecossistema do Open Finance estão ativos atualmente, de acordo com dados do Banco Central (BC). Do lado das empresas participantes, 216 integram esse ecossistema formado por bancos, instituições de pagamento, cooperativas de crédito, fintechs e outras organizações autorizadas pelo BC.

Graças à chegada do Open Finance, que permite a circulação de informações sobre o comportamento dos brasileiros no sistema financeiro, o cenário está ainda mais favorável para o mercado de fintechs. É o que acredita Diego Perez, presidente da ABFintechs, que conversou com o DMI sobre este e outros assuntos que têm movimentado o dia a dia das fintechs. Confira!

DMI: Com o Open Finance, os bancos e as empresas financeiras e de pagamento passaram a ter em mãos um volume grande de informações sobre o comportamento do brasileiro em termos de consumo e renda. Esse cenário é bom para as fintechs?

Diego Perez: Mais do que nunca. As fintechs já nasceram com o DNA puramente tecnológico. E a tecnologia se baseia em dados. Ou seja, esse é um ambiente favorável para o florescimento de novas fintechs e para o desenvolvimento de produtos desenvolvidos exclusivamente por essas empresas. Ao mesmo tempo, isso faz com que os bancos busquem se adaptar para não ficar para trás. As instituições bancárias estavam mais acomodadas. Hoje em dia, há o estímulo provocado pela competição. É um momento muito próspero para o mercado de fintechs.

Vale dizer que essa competição foi provocada pelo próprio Banco Central nas suas agendas de criação de políticas públicas. Os dados que as instituições financeiras e de pagamento, entre elas, as fintechs, enxergam hoje são resultado do que vêm sendo promovido, em termos de regulação, nos últimos dez anos.

DMI: Podemos dizer que o Banco Central está atento às necessidades do mercado?

Diego Perez: Costumo dizer que tem uma colaboração muito grande entre o mercado e o regulador, que é o Banco Central. A autoridade, quando ela está engajada, tem objetivos comuns aos que são do mercado. Dessa forma, tudo acontece com mais velocidade e a implementação de mudanças segue naturalmente. Produtos como o Pix, Drex, Open Finance se baseiam muito em tecnologia e esta avança mais rapidamente do que as leis. Portanto, essa convivência e colaboração com o mercado é essencial.

Mas o Banco Central vem abrindo as portas para o mercado já não é de hoje. Não que a instituição fosse fechada antes, mas agora recebe de maneira mais abrangente, desde os grandes bancos até as pequenas e médias fintechs, para entender o que está acontecendo e tirar um termômetro do que vem sendo testado pelo mercado. Assim, isso acaba refletindo na regulação.

DMI: O Banco Central publica sua agenda de implementações e, às vezes, ocorrem algumas postergações. Isso atrasa o dia a dia das fintechs?

Diego Perez: Não diria que atrasa. São ajustes de rota. Como a tecnologia avança muito rápido, esses ajustes são necessários para corrigir um item ou outro, incluir uma nova funcionalidade ou para verificar como o mercado está aderindo ou o que ele está exigindo. No caso do Open Finance, por exemplo, inicialmente foi planejado que o projeto seria entregue em quatro fases. Elas foram mantidas, mas cada fase ganhou suas segmentações, alguns itens começaram a ser desenvolvidos antes de outros. É uma adaptação natural, já que se trata de um projeto de tecnologia sendo construído. Quem trabalha com tecnologia sabe que esses ajustes de rota são necessários.

DMI: Falando em agenda do Banco Central, o Pix automático está previsto para ser lançado em 20 de outubro. Qual será o impacto dessa nova funcionalidade?

Diego Perez: As pessoas físicas adotaram naturalmente o Pix e isso não para de crescer. Mas, as pessoas jurídicas ainda estão um pouco para trás. As empresas criaram as suas estruturas de organização gerencial e financeira com base nos produtos anteriores. Então, tem um dilema de como você se adapta, como você se transforma. Talvez seja evidente que as empresas gostem do pagamento instantâneo por representar dinheiro na hora, mas de que outra forma o Pix pode entregar valor para as pessoas jurídicas?

A partir do momento em que se coloca funcionalidades de organização, automação, conciliação imediata, os gestores das empresas devem dar ainda mais preferência ao novo arranjo. Ou seja, entendo que, com os avanços que o Pix automático tratá, as possibilidades serão infinitas. Cada tipo de empresa tem suas realidades e necessidades. Não tem como usar a mesma régua para todas. Com essa maleabilidade que o Pix vai ofertar, as empresas vão se beneficiar dos avanços tecnológicos que devem ser apresentados por muitas fintechs.

DMI: Em 1º de julho, entra em vigor a Resolução Conjunta n° 8 de 21/12/2023, que busca impulsionar empresas do setor financeiro a ofertar educação financeira para seus clientes. As fintechs estão preparadas para fazer isso?

Diego Perez: Muitas fintechs nasceram objetivando a aplicação da educação financeira para o público, especialmente, aquele de baixa renda. Há fintechs que nasceram com objetivo de entregar ferramentas para ajudar as pessoas a guardarem dinheiro, a começar a investir ou a enxergar suas finanças, tentando entender onde estavam os acertos e os erros. Com o Open Finance, daqui pra frente, acredito que vão surgir muitas soluções criadas pelas fintechs nesse sentido. Ainda mais com a inteligência artificial, que vai fazer com que isso aconteça de maneira preditiva e natural.

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Simone Costa

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