Modelo de venda direta de conteúdo “é para poucos”, diz Félix, da Claro

CEO da Claro diz que há programadora cometendo o erro estratégico de dar exclusividade a conteúdos OTT, em detrimento da TV paga, que é modelo comprovado e gera receita recorrente

Para o CEO da Claro, José Félix, a estratégia de venda direta ao consumidor (D2C) que vem sendo adotada por diferentes programadoras e produtoras de conteúdo audiovisual ainda não se provou sustentável. Poucas conseguirão ter retorno, e a TV paga deveria ser mantida na estratégia de todas, avalia o executivo.

Ele participou hoje, 18, do evento digital Pay TV Forum, realizado pelo site Teletime. Ali, pontuou que o Netflix, maior competidor do mercado D2C, tem margem apertada e fluxo de caixa livre negativo.

“As pessoas erram às vezes na estratégia. Você não pode assegurar hoje que a estratégia de venda direta é correta, estamos em transição, e quem criou isso ainda não resolveu o próprio problema”, afirmou.

Certo pelo duvidoso

Segundo ele, o modelo D2C vai coexistir com a TV por assinatura tradicional. Por isso, as programadoras e produtoras não devem abrir mão da receita recorrente que a TV paga proporciona, sob o risco de se tornarem inviáveis.

“Tem um programador que recebe R$ 400 milhões por ano só da Claro e está dizendo que vai colocar os conteúdos exclusivamente no D2C. É falta de visão estratégica. Tem um negócio que está funcionando, um modelo bacana. Aí tem uma alternativa que parece que dá dinheiro para quem faz, mas que até agora não começou a dar resultado para ninguém, e vai deixar R$ 400 milhões e tentar o novo mercado?”, questiona.

A seu ver, as empresas que estão apostando as fichas no modelo D2C vão se dar conta que há um custo na distribuição e no atendimento ao cliente. “Na hora que tiver churn, ligação para call center, exigência de Capex em conteúdo, começa a doer, e o valor de quem fazia isso antes começa a aparecer”, falou.

Para ele, o cliente gosta de programação linear e não linear. “Quem pode pagar tudo, leva tudo, quem não pode, escolhe algo”, reforçou.

O executivo reconhece que há amarras regulatórias que atrapalham o desenvolvimento do setor. Mas diz que não é o caso de haver cisão entre programadoras e distribuidoras. Todos deveria se unir sob uma causa. “Ninguém quer entender que essas amarras não servem mais. Preferem perder receita e assinantes e sair para uma aventura numa realidade que pode ser para poucos”, disse.

Isonomia

Félix reiterou a postura histórica da Claro, de que é preciso haver isonomia no mercado audiovisual. Ou seja, que OTTs estejam sujeitas às mesmas regras que as operadoras na distribuição de canais lineares.

Ele disse que o modelo de colocar canais lineares em aplicativos das programadoras afronta a lei do SeAC “sem dúvida”. Ele defendeu o fim da Lei do SeAC para equalizar a competição.

“Um problema que o SeAC traz é que quem distribui não pode produzir. Isso faz com que tenha gente que ainda tenha fantasia de que protege o produtor. Mas quem é muito maior do que a gente está produzindo e faz tempo”, afirmou.

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Rafael Bucco

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