Queda da renda explica a crise na TV paga, avalia presidente da Claro

Companhia prepara produto, ainda sem data de lançamento, em que o cliente compra o decodificador OTT na loja, instala em casa sozinho e faz autoatendimento via app, numa estratégia para reduzir custos.

A TV paga perdeu milhões de clientes nos últimos anos. Apenas em 2019 foram quase 2 milhões de desligamentos por parte das operadoras, a maioria de usuários de tecnologia DTH (satélite).

Para José Félix (foto), presidente da Claro, empresa que tem a maior quantidade de assinantes de TV do país, a explicação passa por uma análise da perda do poder aquisitivo do brasileiro nos últimos anos.

“É uma questão de renda. A TV por assinatura talvez tenha crescido acima da capacidade da renda do Brasileiro até 2017. A partir de 2018, começou a se ver a perda de base, que mais ou menos coincide com a [diminuição da] renda do Brasileiro”, disse hoje, 18, o executivo. Ele participou do evento virtual Pay TV Forum, realizado pelo site Teletime.

A Claro foi uma das operadoras que mais desconectou clientes no DTH. Foram mais de 430 mil desativações de clientes nessa tecnologia ano passado. O CEO explicou que está havendo uma limpeza da base, termo usado pela indústria para retirar clientes que não são rentáveis e inadimplentes. E não deu previsão de quanto chegará ao fim essa iniciativa.

“Enquanto não terminarmos de limpar a base, vamos continuar perdendo assinantes. As coisas estão se ajustando, indo para o lugar. O próprio DTH da Claro era um serviço que estava inchado”, afirmou, prevendo a retração continuará “por algum tempo”, mas os sinais já são melhores que em 2019.

Netflix não explica

Para o CEO da Claro, não está evidente que a queda na TV paga se deve à competição com OTTs como o Netflix. Para ele, o consumidor quer os dois produtos: TV por assinatura e aplicativo.

“Quem pode, acaba tendo assinatura de TV e pacotes de Netflix. Ao redor do mundo, os sinais são confusos. Tem países que estão crescendo em TV paga. Dos países atendidos pela AMX, o Brasil tem uma das piores performances do mundo em termos de perda de numero de assinantes, e portanto tem relação com a renda do brasileiro”, acrescentou.

Produto para classes AB

Para ele, a tendência é que a TV paga deixe para trás a expectativa de se popularizar, para se tornar um produto restrito às classes A e B. “O fato de ter rede e prestar o serviço que se presta ao assinante, infelizmente, faz com que não seja um produto para todos. Aquela TV por assinatura top top que conhecemos, não é barata, é cara”.

Félix fez algumas contas rápidas para demonstrar como o custo do serviço é maior do que produtos como aplicativos totalmente baseados na internet, conhecidos como OTTs. Lembrou que uma operadora de TV usa call center, tem custo de aquisição, loja, atendimento, manutenção com níveis elevados de exigência e obrigações. Além disso, tem alta carga de impostos.

“Do que sobra da receita, 51% vão para pagar as produtoras de conteúdo. A TV por assinatura como a gente conhece, tradicional, é um negócio muito caro de se fazer”, frisou. Outro exemplo de custo alto está no hardware. Segundo ele, o set top box usado na TV por assinatura custa R$ 650. “Para uma margem de R$ 30, você leva 20 meses para pagar só a caixinha”, resumiu.

Caixinha com autoinstalação

Diante do dilema, a Claro está se mexendo. A companhia prepara o lançamento de um produto de custo menor para a empresa, em que o consumidor adquire e instala por conta própria a “caixinha” em sua casa. O sinal da TV vem pela internet.

“Não temos data para lançar, é um produto de valor adicionado, que a gente imagina que o assinante possa instalar sozinho, possa ter um autoatendimento mais digital, e com isso a gente consiga diminuir custos que temos hoje. Por que a caixinha? Porque as pessoas gostam da caixinha”, afirmou.

Segundo ele, o produto terá um modelo de empacotamento diferente, livre das “amarras” atuais. E tem por objetivo permitir que a Claro atue como um “hub de conteúdo” na casa do consumidor.

 

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Rafael Bucco

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