Migração para o pré-pago pode canibalizar planos controle, avalia KPMG

Movimento também poderá resultar em queda da inadimplência, uma vez que o pré-pago não é faturado como o pós-pago

Em evento online realizado hoje, 5, analistas da consultoria KPMG fizeram uma avaliação dos riscos que a pandemia trouxe para o setor de telecomunicações. Para eles, as teles terão de acelerar a transformação digital, focar em um atendimento mais automatizado, e estabelecer estratégias para lidar com o potencial aumento da inadimplência.

Marcelo Ribeiro, sócio líder da consultoria, explicou que a migração de clientes dos planos pós-pagos para pré-pagos é uma reversão da tendência. Nos últimos anos, as operadoras se esforçaram para levar os clientes pré para planos controle, e clientes controle, para planos pós-pagos.

“Se a migração do pós para o pré se confirmar de fato, então o aumento em PDD [provisão de devedores duvidosos, métrica das empresas que ajuda a demonstrar o tamanho da inadimplência] deixa de ser um problema”, ressaltou, lembrando que no pós há faturamento, enquanto no pré o consumidor faz recargas quando for conveniente.

A migração de clientes para o pré deve, no entanto, afetar mais intensamente a base de usuários controle. “Pode ser que estejam [as operadoras] canibalizando os planos controle, que é um híbrido. São considerados pós pela Anatel, mas o funcionamento é muito mais parecido com um pré”, disse.

Dustin Pozzetti, sócio líder da área TMT da KPMG, afirmou que ainda não está clara a abordagem das operadoras para conter a inadimplência. “PDD é uma questão que cabe a cada empresa decidir como abordar dentro de sua estratégia”, lembrou, após dizer que ainda não tem como dizer se o downgrade de planos será uma prática generalizada.

Ele falou, no entanto, que no momento atual de isolamento faz sentido o consumidor ver menos utilidade no celular, seja pré ou pós-pago, uma vez que é possível recorrer aos dados para fazer ligações ou conferências, através da banda larga fixa.

Oportunidades

Para o pós-pandemia, Pozzetti traçou uma previsão: “Pelos próximos 10 anos, as famílias vão se preocupar mais com saúde. E isso abre oportunidade para o investimento em SVAs de saúde. As empresas têm de estar atentas a este tipo de janela que se abre”, ressaltou.

Para Oliver Cunningham, o pós-covid será um mundo mais digital do que nunca. “Organizações que não conseguirem se desvincular de certas práticas não vão sobreviver. O mundo que surge agora foi catalizado pela covid-19. É um mundo mais conectado. Já estávamos colocando sensores em tudo, e agora o mundo estará ainda mais interconectado. Telco terá papel fundamental nisso. Portanto, é momento de se reposicionar”, avaliou.

Marcelo Ribeiro destacou que isso vale também para os reguladores, e disse que o movimento de digitalização na Anatel terá de se acelerar com a chegada da 5G, em que debates sobre novos serviços terão de ser mais ágeis. “A Anatel precisa se transformar porque no modelo atual os regulamentos ficam muito desatualizados”, falou.

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Rafael Bucco

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