MCom intervém no Gape e assume comando do programa de conexão nas escolas

O Ministério das Comunicações destituiu o conselheiro da Anatel, Vicente Aquino, da presidência do grupo, ampliou a participação do MCom e passou a decisão final dos investimentos para Juscelino Filho.
MCom e GapeFoto: Freepik
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O Ministério das Comunicações publicou hoje, 03, a portaria Nº 15.371, que, embora não cite o decreto 12.282 de ontem, confirma o que o mercado comentava, de que o principal foco da intervenção branca na Anatel é mesmo o Gape – Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (Gape) – responsável pela implementação do programa de conexão nas escolas, rebatizado por Aprender Conectado, com mais de R$ 3,5 bilhões em caixa, mas que só conectou até agora 177  unidades escolares.

A portaria é explícita: destitui o conselheiro Vicente Aquino como presidente do grupo; passa para o Ministério das Comunicações o comando do Gape; amplia o número de representantes do MCom; diminui os número de integrantes da Anatel e mantém as operadoras privadas que venceram o leilão no grupo. A EACE, instituição criada pelas empresas para executar os investimentos, poderá participar do grupo como convidada.

O Gape agora ficou com representação mais forte da administração direta do governo. Compõem o grupo a partir de hoje, conforme e portaria:

a) dois representantes do Ministério das Comunicações;

b) um representante do Ministério da Educação;

c) um representante da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel; e

d) um representante de cada uma das proponentes vencedoras da faixa de 26 GHz do Edital nº 1/2021-SOR/SPR/CD-Anatel.

II – cada um dos representantes de que trata o inciso I terá um suplente;

III – as funções de presidente e de secretário-executivo do GAPE caberão aos representantes do Ministério das Comunicações;

IV – não havendo consenso em suas deliberações, a decisão caberá ao Presidente do GAPE;

V – das decisões tomadas no GAPE caberá recurso ao Ministro das Comunicações; e

VI – o GAPE encaminhará para aprovação do Ministro das Comunicações os projetos definidos para atendimento dos compromissos de que trata o Anexo IV-C do Edital da Licitação nº 1/2021-SOR/SPR/CD-ANATEL, apontando suas características, critérios técnicos, cronograma de metas e estudos de precificação correspondentes.

Esse último item da portaria explicita que acabou a autonomia do grupo, cabendo ao ministro Juscelino Filho aprovar todo o cronograma de investimentos do programa Conexão das Escolas.

MCom e Gape

A norma diz ainda que não serão alterados os direitos e obrigações das vencedoras do leilão, mas promove mudanças em diversos itens do edital que contrariam a atual portaria.

A história do Gape e do programa de Conexão das Escolas está repleta de conflitos, denúncias, desvio de recursos públicos e, fechando o cerco, completamente inoperante, tendo em vista o pífio resultado do número de escolas que estão realmente conectadas frente ao grande desafio do setor.

Entre as denúncias, a de que Vicente Aquino contratou para a EACE um radialista cearense com recursos do leilão do 5G, radialista esse que ficou dedicado à campanha de reeleição de sua mulher à prefeitura de Paraipaba, no Ceará. Esse radialista acabou sendo demitido da entidade.

Havia ainda muita disputa de Aquino com os dirigentes da iniciativa privada no que se refere à condução dos programas, inclusive com debate sobre as empresas de auditoria a serem contratadas. Esses conflitos acabaram resultando em mais uma portaria de Vicente que puxou para si a condução do grupo, e retirou o poder de voto das empresas privadas em caso de “conflito de interesses”. Essa iniciativa acabou promovendo entre as empresas a intenção de até  mesmo deixar o grupo, reivindicação inviável, já que a presença das empresas está assegurada por regra editalícia.

Havia também visões bastante divergentes de Aquino frente à posição de governo via Ministério das Comunicações sobre o papel da Telebras na entrega da conectividade. Embora a Telebras já tenha sido escolhida pelo governo como a empresa que vai entregar a conexão via satélite, havia muita resistência de Aquino quanto à capacidade de banda a ser ofertada pela estatal. Ele preferia até oferecer o programa ao controvertido Elon Musk, cuja Starlink, ele já demonstrou em situações anteriores em outros países, pode ser desligada a seu bel prazer.

Também havia conflitos entre Aquino e o MEC. Inicialmente a Anatel propôs a contratação não apenas da conectividade e da luz, mas também dos equipamentos de computadores, o que iria reduzir sensivelmente o número de escolas atendidas. O MEC optou por limitar o uso dos recursos à conectividade e energia, alterando a proposta inicial do Gape.

Mas o fato é que passados quatro anos da realização do leilão, enquanto o outro grupo criado no leilão, o Gaispi anunciava a antecipação em mais de um ano do cumprimento de uma das obrigações estabelecidas (o da limpeza da faixa de 3,5 GHz), os resultados do programa conexão nas escolas continuam pífios.

Veja aqui a Portaria 15.371/24, publicada hoje.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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