Mattes: O Paradoxo da Escolha e a Nuvem
Por Jônatas Mattes ** – O paradoxo da escolha, uma teoria proposta pelo psicólogo Barry Schwartz em 2004, descreve como a multiplicidade de opções pode levar a sentimentos de sobrecarga e insatisfação, mesmo que as escolhas oferecidas sejam positivas. Poderia esta teoria ser aplicada ao mundo da tecnologia, especialmente à nuvem, que oferece cada vez mais serviços e soluções para os usuários?
As plataformas das nuvens permitem imensa variedade de serviços e soluções que atendem ampla gama de necessidades e preferências, desde o armazenamento de dados até o software de produtividade ou a inteligência artificial sob demanda. No entanto, com tantas opções, pode haver uma sensação de sobrecarga e indecisão. O paradoxo da escolha ocorre porque a grande quantidade de opções pode levar a uma sensação de insatisfação com a escolha final, uma vez que os usuários podem sentir que outra opção seria melhor, ou de menor custo.
Os provedores de nuvem têm ampliado rapidamente as ofertas de serviços. Por exemplo, a Amazon Web Services (AWS), uma das maiores provedoras de serviços em nuvem do mundo, ampliou muito seu portfólio de serviços e funcionalidades nos últimos anos. De 80 serviços em 2011 chegou a 3.084 ofertas em 2022. Nos últimos 5 anos, de 2018 a 2022, ampliou em média 17% ao ano a disponibilidade de novos serviços.
Se traçarmos uma análise comparando a evolução dos provedores com, por exemplo, o tempo de um processo de aquisição no governo (entre as primeiras consultas públicas e a assinatura do contrato, podemos estimar um tempo de aproximadamente 2 anos), vemos que, se o contrato for restrito ao que foi estimado na consulta, o instrumento já terá uma defasagem de aproximadamente -24% de serviços em relação ao que as nuvens disponibilizam para o mercado no ano corrente, isto no início do contrato. É evidente, portanto, que é necessária a flexibilidade para poder acompanhar a evolução tecnológica.
Além do crescimento das soluções nativas dos provedores, a consultoria Gartner aponta ainda que 30% do cenário de fornecedores de software e serviços será consolidado pelos ecossistemas de nuvem até 2025, o que ampliará ainda mais as ofertas. E já são 8 grandes provedores, conforme aponta o relatório Magic Quadrant for Cloud Infrastructure and Platform Services do Gartner, que disponibilizam capacidades de entrega em múltiplas regiões no globo e em hiperescala, sendo eles Amazon AWS, Microsoft Azure, Google Cloud Platform, Tencent Cloud, Huawei Cloud, IBM Cloud, Alibaba Cloud e Oracle Cloud.
Outra consultoria especializada, a Canalys, estima que os marketplaces dos provedores de nuvem apresentarão uma taxa de crescimento anual composta de 84%, chegando a 230 bilhões de dólares em 2025.
Embora o crescimento do portfólio seja avassalador, é necessário compreender que não se trata de complexidade. É importante reconhecer que a multiplicidade de opções na nuvem é extremamente positiva. A concorrência entre os provedores de serviços na nuvem pode levar a preços mais baixos e a melhores soluções. Os acordos em escala global e os processos padronizados de compra por meio de créditos, que simplificam a aquisição, a análise, a comparação e a governança, permitem que os provedores disponibilizem condições com menores custos. Além disso, a variedade de opções permite que os usuários escolham soluções personalizadas que se encaixam em suas necessidades específicas ou ainda, possam realizar testes, provas de conceito ou até trocar soluções de forma mais simples e eficaz.
Uma das principais maneiras de mitigar o paradoxo da escolha na nuvem é contar com brokers/integradores especializados em multinuvem e multiplataformas, que ajudam a reduzir a sobrecarga ao oferecer uma única interface para gerenciar vários serviços e soluções de nuvem. Estas empresas oferecerem orientação, apoiam no contexto de comparações, análises e simplificam o processo de decisão.
Estes integradores apoiam os usuários e empresas a entender as diferentes opções disponíveis e a selecionar a solução que melhor atende as suas necessidades:
- Fornecem orientação sobre como os diferentes serviços e soluções se encaixam em uma estratégia geral de tecnologia associada ao negócio e ajudam a simplificar o processo de escolha;
- Especializam-se em serviços profissionais, com foco na interoperabilidade tecnológica, na redução de custos, e no equilíbrio de comodities (infraestrutura, computação, armazenamento, rede), que podem ser consumidas em diferentes cenários híbridos e multinuvem, com plataformas como serviços que podem, eventualmente, trazer riscos de aprisionamento tecnológico (lock-in), exigindo a implementação de tais serviços de forma inteligente e com alternativas para mitigar este risco;
- Apoiam as empresas no desenvolvimento de uma visão ampla da indústria e de cada provedor, mas selecionam e priorizam apenas as inovações que realmente interessam para necessidades atuais e futuras dos clientes;
O uso da nuvem tem trazido grandes benefícios e muitas empresas têm adotado a política de Cloud First e até Cloud Only como estratégia primária de TI. Dentre os principais benefícios podemos destacar: (1) redução de custos, (2) altamente escalável, ágil e flexível, (3) tecnologia de ponta sempre disponível, (4) maior compliance e segurança e até (5) ambientalmente amigável, reduzindo a emissão de carbono e consumo de energia.
O amplo portfólio através do ecossistema das nuvens públicas permite que as empresas adotem estratégias com foco em interoperabilidade e crescimento em vez de se manterem num conceito monolítico e limitado. É a transição entre estes modelos que causa a ansiedade e o paradoxo da escolha.
Em conclusão, é inevitável nos depararmos com cada vez mais opções tecnológicas. Como usuários já vivenciamos isto no dia a dia e não é diferente para as empresas. É essencial contar com empresas especializadas, que tenham experiência e se dedicam a continuamente gerenciar este contexto multinuvem e multiplataformas, seja através da sua interoperabilidade ou na opção pela solução mais aderente. A multiplicidade de soluções é positiva e se sobrepõe à complexidade através de serviços profissionais qualificados.
** Jônatas Mattes é CTO no Extreme Group